sexta-feira, 2 de setembro de 2022

No Nobres do Grid deste mês...


"Nesse ano [1937], o governo francês decidiu dar um milhão de francos a todas as construtoras capazes de montar um carro capaz de rivalizar com os alemães. Bugatti e Delhaye foram duas das marcas que competiram por esse prémio, e [René] Dreyfus estava a competir por esta última marca. A decisão acabou por ser numa corrida contra o relógio, entre ambos os carros, no autódromo de Montlhéry, nos arredores de Paris. 

Parte do projeto da Delhaye tinha sido financiado por Lucy O’Reily Schell, uma americana expatriada e apaixonada por automobilismo – seu filho seria Harry Schell, piloto de Formula 1 entre 1950 e 1960 – e a ideia era que a Delhaye triunfasse para poderem competir na temporada de 1938 dos Grand Prix. Com pneus especiais de corrida fornecidos pela Dunlop, forçou o ritmo ao limite, mas conseguiu bater a Bugatti e ficar com o prémio.

Com essa injeção de dinheiro, a primeira grande corrida era em abril nas ruas de Pau, no sul de França. A pista urbana era tremendamente tortuosa, e Dreyfus conseguiu ficar na frente do Flecha de Prata de Rudi Caracciola. Durante boa parte da corrida, aguentou as investidas do piloto alemão e conseguiu ganhar, para júbilo dos locais, que por fim viam um dos seus bater os alemães, restaurando o orgulho nacional.

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"Quando a II Guerra Mundial rebentou, em setembro de 1939 – com os Flechas de Prata em Belgrado, para o GP da Iugoslávia – Dreyfus decidiu alistar-se no exército francês, como condutor de camiões. Contudo, na primavera de 1940, o governo decide recorrer aos seus serviços de piloto e atravessaria o Atlântico para participar nas 500 Milhas de Indianápolis, ao volante de um Maserati, inscrito por Lucy O’Reily Schell, ao lado de René Le Bégue. 

E provavelmente, essa missão o poderá ter salvo a sua vida.

Em Indianápolis quando a invasão alemã aconteceu, a 10 de maio, ele participou na prova, apesar de desconhecer a maneira como as coisas se faziam por lá. E para piorar as coisas, o inglês de Dreyfus era básico. Mas apesar de todas estas dificuldades, Dreyfus e Le Bégue partilharam a condução do carro e acabaram na décima posição da geral, numa prova vencida por Wilbur Shaw, num outro Maserati." (...)

Nos anos 30, provavelmente, o melhor piloto francês era monegasco, com Louis Chiron. E esse seu talento foi o que levou para a Mercedes, um dos Flechas de Prata. Contudo, um segundo piloto francês brilhou em fogachos, especialmente mostrando-se em máquinas francesas contra gente como Rudi Caracciola, Bernd Rosemeyer ou Hermann Lang. Contudo, para além de ser francês, era judeu. René Dreyfuss foi um excelente piloto nessa altura, e dos poucos - Tazio Nuvolari e Guy Moll foram outros - que triunfou em corridas contra os alemães, quase invencíveis nas pistas europeias.

E para além disso, ele foi o primeiro francês a triunfar nas ruas de Monte Carlo, em 1930, ao volante de um Bugatti. 

Um piloto que teve uma vida longa, boa parte deles passada nos Estados Unidos, ainda teve tempo para, na velhice, ser recebido como um herói. E é sobre a sua carreira que escrevo este mês no Nobres do Grid

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