segunda-feira, 14 de maio de 2007

Extra-campeonato: O Eurofestival da Canção

Esta semana quero ver se vario um pouco. Não só porque os meus amigos mais próximos acham que isto está demasiado "Formulaumesco", mas também acho que os que vêm visitar de fora também têm que saber um pouco sobre a nossa cultura e os meus gostos pessoais. E a essa parte vou chamar de "extra-campeonato".


O Eurofestival da Canção é algo que existe há 52 anos, onde participam prá aí uns 50 paises e durante esse tempo, nós nunca gahamos. A vitória no Eurofestival dá ao país vencedor o direito de organizar o Festival do ano seguinte, algo que nunca aconteceu conosco. Mas esse Eurofestival, na altura algo inovador, hoje em dia perdeu todo o seu sentido. Temos uma profusão de canais de musica Europeus (MTV, VH1, VIVA, MCM...), e os nomes consagrados já não ligam nenhuma a isso. O Festival que revelou em 1974 os ABBA, e a Celine Dion 15 anos depois (a cantar pela... Suiça!) já não tem mais o prestigio de outros tempos. E para piorar as coisas, agora as votações são feitas por televoto, logo... as coisas ficaram virtualmente impossiveis para nós, ou para qualquer país ocidental, porque a coisa se transformou numa coutada do Leste Europeu.


E porquê? Porque aquilo é uma troca de favores. Eu explico. Com as transformações no Leste Europeu, em que tivemos mais vinte e tal novos países, eles trocam favores entre si. A solidariedade é forte, e com o televoto, tende a piorar. É a Eslovénia a dar 12 pontos à Croácia, que retribui o favor, é a Russia a dar 12 pontos à Servia, que retribui o favor... Mas não julgem que isso é novo. Suécia, Finlândia, Noruega e Islândia (mais tarde os países balticos), davam os 12 pontos entre si, desde há muitos anos a esta parte. Com um lobby desses, quem os pode combater?


E este ano, reparem: o vencedor (a Sérvia), os cinco primeiros classificados eram todos do Leste europeu. Os últimos classificados eram os países ocidentais, logo, eles começaram a barafustar. Pudera...


Para piorar as coisas, nos anos 90, os irlandeses ganharam aquilo durante quatro anos consecutivos, parecendo que eles tinham feito um acordo com a organização que ficaria com os louros, de forma a albergar o festival durante esse tempo. Até na altura se gozava com aquilo: "O Eurofestival é um concurso com 24 canções cujo vencedor era irlandês". Na terra de Bono, Van Morison e The Corrs, alguém se lembra quem foram os cantores e cantoras vencedoras? Eu os esqueci há muito tempo!

Então porque nós não mandamos isto às malvas? Porque a RTP não quer. Leva as coisas demasiado a sério, embora saiba que a formula é errada. Agora tem aquela coisa chamada "meias-finais", onde nós invariavelmente ficamos sempre. Os primeiros a contar do fim, como de costume... Ora, isso deveria ser encarado como um sinal de alerta para mostrar o que está errado, mas parece que não sabem ou não querem saber.

Para mim, a solução seria "à italiana": a retirada pura e simples do Eurofestival. Mas pronto, eles não querem... tradição, audiências e coisas assim.


E as músicas? Horiveis. Nos últimos 15 anos, não me lembro de nenhuma canção que tenha tido "airplay" na MTV, excepto no ano passado. Mas isso foi uma aberração bem-vinda... E para mim, acho que o Festival do ano passado foi maravilhoso! Afinal de contas, não é todos os dias que se vê uma banda de "heavy metal", os Lordi, que colocam máscaras como os Slipknot, que tomou a Europa de assalto e deu à Finlândia a sua primeira vitória de sempre no Eurofestival. Para mim, foi uma senhora bofetada de luva branca ao que havia antes. Era anormal, logo, era fantástico.


Escrevi nessa altura que esse deveria ser formula ideal para que algum dia os portugueses quisessem verdadeiramente ganhar o Eurofestival: algo diferente. Deveria ser algo étnico (um fado) ou algo "world music" (que tal os Buraka Som Sistema?), ou algo para gozar (aí recomendava o Manuel João Vieira ou o Leonel Nunes). Este ano, foram buscar uma rapariga, a Sabrina, apadrinhada pelo Emanuel, ou seja, mais do mesmo. Não aprendem!

1 comentário:

Rogério Magalhães disse...

É, pela RTP Internacional passa, mas nunca tive paciência para ficar vendo... mas é interessante uma competição deste porte, apesar das falhas grotescas que tu citaste...