quinta-feira, 8 de maio de 2008

A vida de Gilles Villeneuve - 7ª parte, a época de 1979 (2ª metade)

No dia em que comemoramos os 26 anos da sua ida para o Grande Autódromo lá de Cima, coloco aqui mais uma parte da sua extraordinária vida, contada pelo forista Villickx. Hoje fala-se da segunda metade da temporada de 1979, onde se incluem dois dos seus grandes feitos: Dijon-Prenois e Zandvoort. E no final, o seu vice-campeonato, atrás de Jody Scheckter.


GILLES, o meu tributo. - 7ª Parte

1979 – A confirmação (2ª parte).

Com a vitória de Jody Scheckter no Mónaco, a 1ª parte do campeonato estava então ultrapassada e o campeonato estava ao rubro.

Ponto da situação:

Os Ferraris, na primeira metade do campeonato, tinham sido os carros a bater e a dupla Jody/Gilles era de sonho. Jody, mais experiente mas ainda rapidíssimo e com uma “fome” enorme de ganhar um campeonato, era temível. Gilles, genial, espectacular e rapidíssimo, mas ainda um pouco inexperiente, era sem dúvidas, um favorito. Juntos tinham ditado as regras.

Todavia, os Ligier tinham demonstrado estar rapidíssimos e dos carros equipados com motor Ford pareciam ser os mais fortes, Jacques Lafitte e Patrick Depailler, apesar de jovens, mostravam-se seguros e rápidos. A Lotus, campeã do mundo em titulo, mostrava-se bem mas o seu modelo 79 não mostrava a mesma competitividade que o seu antecessor e Mario Andretti já não mostrava a “ambição” de ser campeão, tendo sido por varias vezes batido pelo seu companheiro de equipa, Carlos “Lole” Reutemann.

A Brabham - Alfa Romeo, com Niki Lauda e um jovem Nelson Piquet em ascensão, eram uma certeza, e a Tyrrell, com uma dupla de pilotos fantásticos em Jean-Pierre Jarier e Didier Pironi, era uma força a levar-se em consideração.

Alem destes, estava a subir muito de forma o Williams com Alan Jones e Clay Regazzoni em bom plano, tendo o suiço já atingido o segundo degrau do pódio em Monte Carlo. Assim, antevia-se uma segunda parte da temporada emocionante, ainda mais para mim pois o meu grande ídolo de sempre, Jacky Ickx, retornava á categoria rainha pelas mãos de Guy Ligier, para substituir Depailler que se tinha acidentado num voo de asa delta.

Sonhava eu com Jacky e Gilles a “negociarem” lado a lado e à chuva, uma parabólica qualquer. Quem sairia na frente?

Voltemos então á realidade e vamos lá á segunda metade do campeonato de 1979.

A corrida que se seguia era o GP de França, que nesse ano se corria em Dijon-Prenois. A Renault, que até então só tinha dado um ar da sua graça em Kyalami, foi a grande surpresa com o seu motor turbo. Jean-Pierre Jabouille e René Arnoux, a correrem em casa, colocaram-se na primeira linha do grid com tempos significativamente mais rápidos que os seus competidores. Villeneuve, numa volta rapidíssima, conseguiu o 3º lugar, tendo o 4º lugar sido ocupado pelo jovem Nelson Piquet. A seguir colocaram-se Scheckter, Lauda, Jones, Lafitte, Regazzoni e Jarier.

Na partida, Villeneuve faz um arranque canhão e passa a liderar, Jabouille é segundo, e Arnoux que larga mal, caindo para nono. Gilles mantêm-se, a um ritmo diabólico para o seu equipamento, na liderança até á volta 47, quando decide não resistir mais aos ataques de Jabouille e do seu Renault. Gilles sabia que a desvantagem pontual que tinha no campeonato em relação ao seu companheiro de equipa, devia-se em grande parte a não ter terminado algumas corridas por desistências e excessos de impetuosidade, e sabia que Jabouille não era um adversário para o campeonato. Assim sendo, deixou-o ir.

Mas com o que ele não contava era com a corrida sensacional que o pequeno René Arnoux estava a fazer, pois o “menino”, depois de ter ultrapassado Jones na 3ª volta, Lauda na 4ª, Jarier na 7ª, Piquet na 11ª e Scheckter na 15ª e sistematicamente bater o recorde da pista, aproximou-se irremediavelmente e a 3 voltas do fim não só o apanhou como o passou. Relaxou e foi esse o seu grande erro, pois apesar de conhecer a superior competitividade de Gilles de certeza que não estava preparado para o que iria acontecer.

Foi uma das maiores batalhas da história da Formula 1, só comparável ás da Alemanha em 1970 e da Itália em 1971. Gilles não desiste e repassa-o, Arnoux não alivia, e durante duas voltas a competição automóvel ao seu mais alto nível teve neste episódio um dos seus momentos épicos. Curvas como Villeroy, Sabiliéres, Parabolique, Georgeolles e Comba transformaram-se em Waterloo, Dunquerque e Alesia, e ficaram para sempre marcadas na memória de todos aqueles que são amantes deste desporto. Ninguém sabe dizer quantas vezes os carros se tocaram, e algumas vezes os dois chegaram a andar com duas, e até quatro, rodas fora do alcatrão. Foram momentos épicos. A volta de consagração foi dada pelos dois em paralelo perante o êxtase dos 100.000 boquiabertos “francius”.

Este duelo teve dois vencedores, mas na pista venceu Gilles. Contudo deve-se dizer a bem da verdade, que o Renault de Arnoux apresentava pequenos cortes na alimentação a alta rotação, e que isso limitava sensivelmente a sua velocidade de ponta, facto esse que, de alguma maneira, equilibrou os dois carros, pois o Renault nesse dia era muito melhor. Houve o dedo de “Alguém” para nos dar a todos esta dádiva.

Após a corrida, John Hogan, da Philip Morris/Marlboro convidou todos os VIP´s, chefes de equipa, pilotos e jornalistas para assistirem ao duelo num telão na tenda da Marlboro. Todos se sentaram nas cadeirinhas arrumadas à excepção de dois que se sentaram lado a lado no chão na primeira fila, e que gritavam mais que os outros com as cenas empolgantes que assistiam. Eram eles Gilles Villeneuve e René Arnoux, os heróis do dia e dai em diante, grandes amigos.

Jabouille ganhou, Gilles foi segundo e Arnoux foi terceiro. Seguiram-se Jones, Jarier e Regazzoni. Jody foi sétimo, a uma volta, depois de ter parado para trocar pneus.

Mas nem todos gostaram e as reacções foram diversas. Alguns adoraram (publico em geral, jornalistas especializados, Enzo Ferrari, etc.), mas outros odiaram (jornalistas “generalistas”, GPDA, Mauro Forghieri, etc.) pois consideraram as cenas ocorridas como um acto de loucura e inconsciência. Como de costume, de bestiais a bestas era um instantinho, e por altura do GP da Inglaterra, os midia já quase os chamava de idiotas, apesar das imagens serem retransmitidas vezes sem conta por todas as televisões do mundo.

A GPDA tentou dar-lhes um puxão de orelhas, mas saíram-se mal pois ao ser interpelado por Lauda e Fitipaldi (principalmente), que insistiam que o que se tinha passado tinha sido uma loucura, René Arnoux, do alto da sua “enorme” estatura, respondeu directamente a Lauda dizendo: “Sim, talvez para si, mas não para mim e para Gilles, você não tinha possibilidades de fazer aquilo, porque simplesmente tirava o pé do acelerador”. Gilles, nessa reunião, disse-lhes simplesmente que a existência de uma reunião para debater aquele assunto era uma pura estupidez.

Algum tempo depois, os protagonistas declararam o seguinte:

Gilles – “Esta é simplesmente a minha melhor memoria como piloto de Formula 1, aquelas voltas foram fantásticas, ultrapassarmo-nos um ao outro para ver quem chegava primeiro á linha, tocarmo-nos mas sem querer por o outro fora. Foi simplesmente dois pilotos a lutar por um segundo lugar sem serem sujos mas a tocarem-se porque queriam chegar á frente do outro. Foi fantástico, adorei o momento.”

René – “Eu penso que só duas pessoas eram capazes de fazer aquela coisa, Villeneuve e eu. Para mim é a minha melhor memória de Gilles. Ele era muito boa pessoa na pista e na vida também. Ele era extremamente natural e não tinha nunca segundas intenções e em pessoas assim pode-se confiar até a 300km/h.”

As vozes criticas só se calaram quando os “Papas” e decanos do jornalismo inglês, Dennis Jenkinson (Motorsport) e Nigel Roebuck (Autosport), vieram a terreiro dizer que as criticas nada eram mais que "rubish" (lixo), e que o episodio de Dijon devia ser considerado e catalogado como a essência máxima da competição automóvel, com os riscos e espectacularidade que a compõem, ou pelo menos deveriam compor. Concordo 1000%!

Com a diferença reduzida a quatro pontos entre Jody e Gilles, o verniz também ameaçava estalar na Ferrari, pois Jody pressionava Piccinini no sentido de “segurar” Gilles, mas esquecia-se que quem mandava na Ferrari era Enzo, e esse não ia em cantigas. Eles estavam ali para competir e o primeiro piloto era aquele que ganhava mas só… até á próxima corrida.

A Inglaterra era a próxima etapa , onde se corria o GP no circuito de Silverstone. O ultra-rapido circuito deixava amostra as deficiências do T4 no que dizia respeito ao conceito de carro asa, e isso foi muito prejudicial a toda a equipa Ferrari. Nos treinos não conseguiram melhor que 11º (Jody) e 13º (Gilles). Os Williams começaram a mostrar as garras e Jones fez a Pole- Position á frente de Jabouille, Piquet, Regazzoni, Arnoux, Lauda, Watson, Reutemann, Andretti e Lafitte.

A corrida foi triste para as bandas da Ferrari, pois Gilles não terminou com diversos problemas e Jody somente conseguiu um quinto lugar. Regazzoni ganhou, dando a primeira vitória num GP a um Williams, Arnoux foi 2º, Jarier 3º, Watson 4º e Ickx 6º.

Hockenheim, na Alemanha, era a pista que se seguia, e se em Silverstone era difícil competir com os “verdadeiros” carros-asa e com o super-potente motor turbo da Renault, em Hockenheim as coisas seriam tão ou mais difíceis. Nos treinos Jody conseguiu o 5º lugar, e Gilles não passou de 9º. A Pole-Position foi obtida por Jabouille, seguido por Jones, Lafitte, Piquet, Jody, Regazzoni, Lauda, Pironi, Gilles e Arnoux.

Na corrida, Gilles cai para 12º na largada, mas após poucas voltas já se encontrava colado ao seu colega Jody Scheckter, que ocupava o 4º posto. Este, preocupado e sem vergonha, começou a sinalizar para as boxes, de cada vez que passavam na recta da meta, no sentido de “segurarem” Gilles, pois Jody, mais experiente, sabia que nas pistas, em que o Ferrari não era o carro ideal, o importante era marcar pontos e uma “guerra” com Gilles, poderia ser pouco producente.

Contudo, Gilles teve que ir ás boxes trocar o aileron traseiro, que ameaçava cair e perdeu uma volta. Os Williams de Jones e Regazzoni ficaram com o primeiro e segundo lugares, Lafitte foi 3º, Scheckter 4º, Watson e Mass completaram os lugares pontuáveis. Gilles chegou em oitavo.

A corrida seguinte foi na Áustria, no lindíssimo e super-selectivo Zeltweg. Mais uma vez, os Ferraris não estavam no seu habitat, pois a altíssima velocidade média (220 km/h) favorecia os Renault e os Williams, e assim não foi com surpresa que Arnoux colocou o seu Renault na Pole-Position, seguido por Jones, Jabouille e Lauda. Gilles conseguiu o quinto lugar, seguido por Regazzoni, Piquet, Lafitte, Scheckter e Didier Pironi.

A largada foi espectacular, e talvez a mais impressionante que me foi dada a assistir pois na primeira curva o líder era… Gilles Villeneuve! Tinha saído como um canhão e se esgueirou entre os carros e os rails para atingir a liderança. Era impossível ficar indiferente com Gilles, pois o rapaz “tinha-os” no lugar certo e com certeza bem “apetrechados”, pois por onde ele passou não se passava, achava eu.

Contudo, Gilles não tinha carro para ganhar, e quer ele, quer Alan Jones sabiam-no, e assim após quatro voltas, Jones assume a liderança, na 11ª é a vez de Arnoux, e na 12ª é Jabouille que passa Gilles. No que dependia dele, creio que não desiludia ninguém, mas naquelas condições o Ferrari não era capaz de mais.

Contudo, os Renault tiveram problemas e desistiram, tendo Gilles conseguido chegar no segundo lugar e acumulado preciosos pontos para o campeonato. Os seus rivais directos, Lafitte e Scherckter, foram respectivamente terceiro e quarto classificados, tendo o francês ultrapassado o sul-africano na última volta.

No campeonato Jody liderava com 38 pontos, seguido de Gilles e Lafitte com 32. O campeonato estava aberto e continuava ao rubro. Tudo ainda era possível.

Zandvoort, na Holanda, era o GP seguinte. Com Villeneuve em pista, o espectáculo estava garantido. Não deixou créditos por mãos alheias, mas foi aqui que Gilles perdeu o campeonato. Nos treinos, as equipes Renault e Williams voltaram a mostrar a sua supremacia, tendo Arnoux obtido a Pole-Position, seguido por Jones, Regazzoni e Jabouille. Jody fez o quinto tempo, e Gilles vinha logo a seguir.

Na largada, novo arranque canhão de Gilles, que no fim da primeira volta era segundo, atrás de Jones. Morde-lhe os calcanhares até á 11ª volta, quando ao chegarem á famosa curva Tarzan no final da recta da meta, Gilles ataca como só ele sabia fazer e, por fora e no braço, passa o australiano.

Tudo parecia encaminhar-se para uma vitória tranquila de Gilles, e para uma recuperação boa dos pontos em atraso, pois Jody tinha caído para 18º na largada, e apesar de estar a recuperar fortemente ocupava agora o sexto lugar. Lafitte era oitavo, e se a corrida terminasse assim, Gilles seria o novo líder do campeonato. Gilles liderou tranquilamente até á 40ª volta, quando se começou a notar que o seu Ferrari estava a perder a estabilidade e… a rapidez, especialmente nas curvas para a direita, que são a maioria no circuito holandês, o Ferrari fugia anormalmente com se não tivesse mais pneus, mas não era esse o caso, pois o que estava acontecer era um furo lento no pneu traseiro esquerdo do Ferrari de Gilles.

E na 46ª volta, finalmente, na curva Panorama, Gilles roda e Jones, que se tinha aproximado muito, ultrapassa-o. Gilles, como de costume, sai lindamente do pião e retoma a luta mas ao passar em frente ás boxes, o pneu finalmente entrega a alma ao criador e explode em plena recta (como Mansell na Austrália alguns anos depois). Só o extraordinário controlo do carro que Gilles possuía impediu um enorme acidente, pois ao fazer um pião controlado conseguiu parar o carro sem bater em nada. Gilles viu nesse momento o campeonato ruir, pois atrasando-se na pontuação, sabia que a Ferrari tinha que tomar as suas opções e não preparado para desistir da luta, arrancou com o seu carro de 3 rodas por Zandvoort fora, como se possuído estivesse por algum espírito guerreiro das tribos indígenas das planícies de Saskatchewan, no seu Canadá.

O espectáculo foi fantástico, pois o Ferrari dançava por todo o lado e as faíscas, saídas da jante que batia no chão, abrilhantavam o show. Finalmente conseguiu entrar na box com aquela amostra de carro, mas mesmo assim não queria desistir, pois perante o olhar atónito de Forghieri e dos mecânicos, Gilles, com as mãos e aos gritos mandava que rapidamente lhe trocassem a roda. “Gilles at his best.” Ganhou Jones, Scheckter foi 2º e seguiram-se Lafitte, Piquet, Ickx e Mass.

Idiota, exibicionista, perigoso e mais algumas coisas parecidas foi o que de novo o apelidaram, mas não só.

Enzo Ferrari disse: “Villeneuve ainda faz alguns erros ingénuos, mas é um homem que quer vencer acima de tudo. Ele foi justificadamente criticado mas não nos devemos esquecer que a sua paixão e o seu entusiasmo tiveram um predecessor, Tazio Nuvolari, e que este em 1935 ganhou o GP da Checoslováquia em Brno, só com três rodas. Assim, era possível."

Nigel Roebuck escreveu: “Graças a Deus que ainda há alguns poucos neste mundo que não sabem o que é desistir. Foi meio louco? Foi. Mas a sua atitude é coerente e veio do exacto mesmo espírito, paixão e competitividade que caracterizaram todas as suas corridas. Ele gosta mais de ganhar do que de não perder.”

Dennis Jenkinson: “A sua atitude e julgamento a alta velocidade, os seus reflexos, a sua tenacidade e a alegre excitação do seu estilo de pilotagem faz-nos a todos ir a um circuito só para o ver em acção.”

Gilles declarou depois: “ Enfiado no carro só o que realizei é que ele ainda andava. Eu sabia que algo estava muito mal mas enquanto andasse eu pensei que existia uma hipótese de poder ser reparado. Para mim, enquanto o carro andar, eu guio … e o mais depressa possível.”

Quem quiser que critique. Eu nunca.

Chegou Monza, e a bella Itália e os tiffosi endoideceram. Tinham em Gilles “Villanova” (que até já falava italiano bem) um ídolo adorado, em Scheckter um sério candidato ao título e na Ferrari, a coisa que mais gostavam no mundo, o fim-de-semana era de arromba. E foi. Gilles entendeu, depois do resultado da Holanda, que Scheckter era o principal favorito ao título, pois ele agora ocupava a 4ª posição do campeonato a 12 pontos de Jody, e para ser campeão tinha que ganhar as três ultimas corridas.

Semi-ordens da equipa também surgiram em forma de conselhos amigáveis, e antes da corrida Gilles tinha decidido que, em caso de luta pela vitória, não atacaria Jody que, caso ganhasse, se tornaria automaticamente campeão mundial. Pensou e disse-o a Jody, apesar do discurso não poder ser oficial.

Nos treinos, os Renault foram imbatíveis, e tanto Jabouille como Arnoux foram um segundo mais rápidos que o terceiro na grelha, Jody Scheckter. Alan Jones foi quarto e Gilles qunto. Seguiram-se Regazzoni, Lafitte, Piquet, Lauda, Andretti e Ickx.

Na largada foi a festa, pois Jabouille falhou a partida e Jody saltou para a frente, para delírio dos 100 mil espectadores presentes. Na 1ª volta, quando os carros na sua potência máxima passaram na meta, Jody era 1º, Arnoux, 2º e Gilles, 3º. Seguiam-se Lafitte, Jabouille e o resto. Na 2ª volta, Jody cedeu a liderança aos “cavalos” de Arnoux, e na 5ª volta um acidente pavoroso na Curva Grande entre Regazzoni e Piquet assustou a todos, pois o Brabham partiu-se ao meio e pegou fogo. Por sorte Piquet nada sofreu, o que viria permitir a nós, mais tarde, assistir a uma brilhante carreira, e ao brasileiro conquistar 3 campeonatos do mundo.

Na 13ª volta, o motor Renault de Arnoux fez a vontade aos 100 mil presentes e falhou. Jody assumiu a liderança, com Gilles nos seus calcanhares, e como homem de honra que era, por ali ficou, contente pelo seu amigo e companheiro de equipa Jody Scheckter se tornar nesse dia campeão do mundo de pilotos de Formula 1. A festa no pódio, e na pista em frente, foi inesquecível pois alem do novo campeão do mundo e do “Deus vivo”, Gilles estava lá. A acompanhá-los no pódio estava outro dos grandes favoritos dos tiffosi, Gianclaudio Regazzoni, que em 1975 tinha dado a ultima vitória á Ferrari em Monza.

Gilles: “Não foi um presente que dei ao Jody, tentei forte e muito mas o que eu acho que tenho que dizer é que o Jody hoje era intocável”. Dos 100 mil presentes, só ele acreditou nisso.

Jody: “ É uma pena que Gilles seja tão bom, sem duvida o mais rápido piloto de F1 da actualidade! Ele foi um pouco ingénuo no inicio do campeonato e isso provavelmente negou-lhe a possibilidade de conquistar o campeonato do mundo mas eu devo-lhe muito pois ao ser um piloto tão rápido e exigente contribuiu enormemente para que a Ferrari construísse um carro que me permitiu ser campeão do mundo.”

Faltavam duas corridas, e Gilles queria mostrar que mais pontos não era sinonimo de ser melhor e ao seu estilo, e já que estava a guiar, era preciso fazer a “coisa” ir o mais depressa possível.


O próximo GP era em sua casa, no seu Quebéc, em Montreal, onde no ano anterior tinha alcançado a sua 1ª vitória. O cartaz da corrida tinha como chamariz “La fiévre Villeneuve”, e milhares de conterrâneos acudiram para ver aquele pequenote canadiano, que se tinha tornado no maior ídolo de um dos desportos mais mediatizados do mundo. Alguém que se destacava somente por ser corajoso, honesto e extremamente rápido. Alguém que dizia de si próprio: “ Eu preciso tanto de sentir um motor a empurrar as minhas costas como de ar para respirar. É assim que eu sou.”



Nos treinos, Alan Jones e o seu Williams estavam imbatíveis, e fizeram a Pole-Position, mas Gilles estava ali mesmo e garantiu um lugar na primeira linha. Seguiam-se Regazzoni, Piquet, Lafitte, Pironi, Jabouille, Arnoux, um relaxado Scheckter e Mario Andretti.


A corrida foi um duelo épico entre Jones e Villeneuve. Gilles saltou para a frente no arranque e durante 50 longas voltas segurou Jones com um carro muito superior. Contudo, Jones não era nenhum menino de coro e na primeira oportunidade meteu o nariz, e depois de alguns encontrões passou. A situação inverteu-se então, e nas restantes 22 voltas, as suas canelas foram roídas até ao osso. Jones ganhou e Gilles foi segundo, a menos de 1 segundo. Regazzoni foi terceiro, a mais de um minuto, e Jody que foi quarto, com menos uma volta. No pódio, Jones reconhecia que Gilles tinha sido um adversário fantástico e elogiava a sua grande qualidade que era a de nunca desistir de lutar.


Frank Williams disse então de Gilles: “Apesar de nem sempre concordar com o seu endiabrado estilo, há que reconhecer que ele fez mais pela Formula 1 este ano que todos os outros pilotos juntos.”


O GP dos EUA, em Watkins Glen, era o ultimo deste ano, e nesse fim de semana Gilles contribuiu enormemente para a construção do seu mito, pois nesses dias deu uma demonstração de superioridade como raramente se tinha visto e poucas vezes mais se viu no futuro.


Vamos lá: nos treinos de sexta-feira, chovia copiosamente, e Gilles dominou a sessão. Foi pura e simplesmente mais rápido que o segundo, o seu companheiro de equipa e campeão do mundo, Jody Scheckter, por... 11 segundos! E ainda se queixou de falta de potência do motor...


Todos ficaram abismados. Os grandes jornalistas presentes louvaram-no e Scheckter admitiu que sentia medo ao ver Gilles em acção. Jacques Lafitte disse simplesmente isto: ”Porque é que eu havia de me chatear? Ele é diferente do resto de nós. Está num nível diferente…”


Gilles declarou que se tinha divertido.


Sábado no seco, a história foi diferente. Gilles conseguiu somente o terceiro tempo, atrás de Jones e Piquet, agora primeiro piloto da Brabham após o abandono de Lauda no Canadá. Mas na corrida, a chuva voltou e Gilles ganhou com uma enorme demonstração da sua superioridade técnica.


Na largada, mais uma vez, Gilles saltou para a frente seguido de Jones e ali ficou. Na 30ª volta, já todos os pilotos em pista, à excepção de Jones, que o seguia devotamente, tinham sido dobrados. Contudo, a chuva para e Jones, com Goodyears muito melhores que os Michelin de Gilles, ultrapassa o canadiano, tendo imediatamente Gilles ido à box para trocar os pneus de chuva por slicks.


Duas voltas depois, o australiano faz o mesmo mas, na ânsia de fazer depressa, os mecânicos não apertam bem uma das rodas 500 metros depois de sair das boxes, a mesma salta e Jones abandona. Gilles ganha a corrida e Jody Scheckter, seu companheiro de equipa campeão do mundo, pela primeira vez neste ano, abandona uma corrida por ter estourado um pneu numa situação praticamente igual á de Gilles, em Zandvoort.


Gilles Villeneuve acaba o campeonato em segundo lugar com 51 pontos, a míseros 4 do campeão. Das 975 voltas que se completaram nas corridas desse ano, Gilles liderou 308, Jones 216 e Jody apenas 170. Reflectindo sobre a temporada, Gilles disse:


Tive bastante mais azar que Jody. Mas admito que compete a cada piloto fazer a sua própria sorte e o Jody fez muito melhor que eu para ter a sua. Talvez eu ainda tenha alguma coisa a aprender nesta área mas acho que sou muito melhor piloto do que era há um ano atrás e espero daqui a um ano ser melhor do que sou agora. Devemos sempre melhorar um pouco. Experiência, rapidez. Tudo. Tenho a certeza de que sou mais esperto agora do que era há algum tempo. Deixei de fazer tantos piões…”


E pronto. A biografia do Grande Gilles fica por aqui, por agora, porque o homem que está ainda a fazer não publicou ainda as restantes épocas. Pensava que ele faria o resto durante a semana, mas afinal ainda não apareceu. contudo, quando ele as publicar, colocarei aqui os capitulos que faltam.. sem falta!

2 comentários:

Octeto Racing Team disse...

Speeder!!

Bela biografia sobre Gilles!!!

Bjinhosss do Octeto!!!

Tati

Paula Peixoto disse...

As outras partes ja foram colocadas? É que nao as estou a encontrar :(

Obrigada pela biografia, adoro Gilles