segunda-feira, 26 de julho de 2010

O piloto do dia - Patrick Depailler (1ª parte)

Os anos 60 e 70 foram para a França um dos mais prósperos em termos de automobilismo, pois apareceu uma fornada de pilotos dispostos a fazer florescer o quase deserto que tinha tornado o panorama no hexágono após o desaparecimento de Jean Behra e a retirada de Maurice Trintignant. Provas como o Troféu Gordini, o Volant Elf e outros ajudaram a aparecer uma série interminável de pilotos que povoaram as grelhas de partida a partir do final dos anos 60, inicio dos anos 70. Patrick Depailler, o homem do qual vos irei falar, era um deles.

Nascido em Clermont-Ferrand a 9 de Agosto de 1944, era filho de Marcel Depailler, um arquitecto e de Paule Depailler, uma doméstica. Patrick tinha duas irmãs mais velhas, e era tímido na escola, que se transformava quando se aventurava nas montanhas da sua região. Adorava o ar livre e o contacto com a Natureza, e a sensação de liberdade que providenciava, algo que ficou inculcado na sua personalidade. A paisagem onde crescera, o Puy du Dome, agreste e algo selvagem, combinado com a sua sede de liberdade, de praticar desportos ao ar livre, ajudava a isso.

Patrick Depailler não era um grande aluno, e por volta dos dez anos descobriu-se o porquê: tinha um defeito ocular, que o obrigou a usar óculos até que o problema fosse corrigido. Contudo, apesar de recuperar nas notas, nunca foi grande fã do estudo, mas incentivado pelos pais e pela irmã Chantal, foi até à universidade, tirando um curso de estomatologia. Contudo, apesar de ter a qualificação para exercer a profissão de dentista, nunca o praticou na sua vida. No final da adolescência, descobriu os motores, automóveis e motocicletas, através de vários eventos que aconteciam na sua região. Um deles, em 1956, viria a ser decisivo na sua vida: o circuito de Charade, nos arredores da sua cidade natal, que cedo ficou com a fama de “Nurburgring francês”. Depailler costumava andar pelo circuito, e o seu estilo exovertido, em claro contraste com a sua personalidade tímida, começou a dar nas vistas, e em 1962, depois de ter assistido ao GP de França de motociclismo na sua terra natal, o fez encarar seriamente a competição. fez enverdar por uma carreira no automobilismo no final da adolescência.

Nesse ano de 1962, começou a participar em competições de motociclismo, com uma Benelli de 50cc, onde o seu talento cedo se fez notar e chamou a atenção de um jovem rapaz que iria fazer a transição para os automóveis, chamado Jean-Pierre Beltoise. Ele ficara impressionado com o talento de Depailler e o encorajou a continuar a competir. Contudo, as coisas ficaram paradas durante um ano para que ele pudesse fazer o serviço militar, obrigatório naquela altura, e no final de Março de 1964, decidiu que iria dedicar-se ao automobilismo. Tinha lido um artigo na edição desse mês da revista Sport Auto, onde se falava da “Operation Jeunessse”, os planos para revitalizar o automobilismo francês, atraindo jovens talentos um pouco pelo país. Iria ser a Coupe dês Provinces, uma competição feita essencialmente em Lotus Sevens, com motor Ford de 1600 cc. Representando a província de Auvergne, depois de uma série de testes exigentes, foi logo segundo classificado sua primeira corrida, em Clermont-Ferrand. Os resultados foram bons, mas no final da época, Depailler via as portas ainda fechadas para o automobilismo. Algo desesperado, pediu a ajuda de Jean-Pierre Beltoise para que ele pudesse arranjar um lugar para progredir na sua carreira. Ele ajudou, oferecendo a ele uma Norton 500 Manx e na temporada de 1965, ele voltava ao motociclismo.

Os primeiros resultados não foram encorajadores, pois a moto costumava quebrar, mas a personalidade determinada de Depailler, que sempre lutava até onde podia, não passava despercebida. A meio da época, Beltoise pedira a Depailler para que guiasse a sua mota Bultaco, já que ele recuperava de uma lesão grave no seu braço, que o fez depois transferir-se para as quatro rodas. Algo que Depailler faria algum tempo depois, aconselhado pelo seu pai, que considerava o motociclismo muito mais perigoso do que o automobilismo.

Em meados de 1966, graças de novo a Beltoise, volta a tentar a sua sorte nos automóveis, no Volant Shell, uma série de provas que se realizavam na Escola de Pilotagem Winfield, no circuito de Magny-Cours. Este tipo de provas, estabelecida em 1962, visava encontrar talentos um pouco por toda a França, e o vencedor tinha como recompensa uma temporada na Formula 3 francesa, com as despesas totalmente pagas. Depailler cedo se evidenciou, sendo um dos sete escolhidos para a prova final. Os outros seis eram Pierre Marchesi, Ettiéne Vigoreux, Francois Gerbault, Patrick Champin, Jimmy Mieusset e… Francois Cevért.

O dia da prova final demonstrou uma competição a três entre Mieusset, Cevért e Depailler. O primeiro despistou-se na segunda volta, e o resto foi uma batalha entre os dois, com Cevért a ser declarado vencedor. Contudo, as suas performances foram suficientemente convincentes para que Beltoise, mais uma vez, convencesse Jean Redeleé, o homem por detrás da Alpine, para que o contratasse na sua equipa de Formula 3. Curiosamente, Redeleé tinha sido membro do júri no Volant Shell e após uma entrevista em Paris, deu-lhe um contrato de três anos como mecânico, piloto oficial e de testes para a equipa, baseada na cidade de Dieppe.

Antes de iniciar a sua nova vida como piloto da Alpine, em 1967, decidiu pedir à sua namorada de infância, Michelle, em casamento. Tal aconteceu em Junho desse ano, pouco depois da sua primeira participação nas 24 horas de Le Mans, ao lado de Gerard Larrousse no Alpine A210, e logo após estavam a morar no norte de França, ao pé da fábrica. Depailler corria quer na Formula 3, no modelo A330, quer na equipa de Turismos, no modelo A210, ao lado de pilotos como o veterano belga Mauro Bianchi, irmão de Lucien Bianchi e avô de Jules, actual piloto da GP2. A época não fora muito proveitosa, a parte de uma vitória em Monthlery, mas cedo tornou-se no piloto principal da equipa, acabando no quinto lugar dum campeonato dominado pelos Matra de Henri Pescarolo e Jean-Pierre Jassaud. Mas no final do ano conseguia a sua primeira vitória internacional, ao ganhar na sua classe nas 9 Horas de Kyalami, e ser quinto na geral.

Em 1968, a Alpine decidiu apostar nas corridas de GT e Protótipos, deixando apenas um carro para Depailler na Formula 3. Apesar do carro ter uma potência inferior aos dos Matra-Ford, o chassis era melhor a manobrar, especialmente nas curvas. Deu nas vistas, subindo ao pódio por algumas vezes, uma das quais no GP do Mónaco, onde foi segundo na primeira manga da corrida de Formula 3, retirando-se na segunda. No final da temporada, tinha acabado no sexto lugar da classificação.

Em 1969, decidiram apostar mais na Formula 3 e ajudar o seu jovem pupilo, alargando a equipa para dois elementos, contratando um jovem rapaz, com excelentes conhecimentos de mecânica (tinha um curso superior de engenharia mecânica) que tinha dado nas vistas no ano anterior com um Matra privado. Chamava-se Jean-Pierre Jabouille. Ao longo da temporada, as performances da Alpine e dos dois pilotos melhoraram significativamente, e Depailler chegou a vencer uma corrida em Monthléry, uma corrida em duas mangas. Mas isso aconteceu após uma decisão do júri, pois ele e o seu adversário tinham… acabado empatados em termos de tempo. E o seu adversário era… Jabouille. No final da temporada, Depailler acabara o campeonato no quarto lugar da classificação geral. Para além disso, correra também nos Turismos, com mais uma participação nas 24 horas de Le Mans, ao lado de Jabouille, no modelo A220, desistindo após a 18ª hora. Mas tiveram outros resultados de relevo como o sexto lugar nos 1000 km de Monza.

Em 1970, acabado o seu contrato com a Alpine, passou para a Formula 2 a bordo da equipa oficial da Pygmeé, que apoiado pela gigante petrolífera Elf, tinha feito uma equipa para quatro carros: ele, Jabouille, o seu mentor Beltoise e Patrick Dal Bo. Contudo, a temporada tinha sido um desastre, já que o chassis estava mal construído e nem sempre estava pronto para correr nas provas de Formula 2 europeia, contra carros como March, Matra, Tecno e outros. O melhor que conseguiu foi um nono lugar numa das mangas da corrida de Rouen.

Em compensação, nas provas de Turismo, ao volante da Matra, conseguiu performances credíveis ao volante do modelo MS650 nas 24 horas de Le Mans, com o australiano Tim Schenken, e no Tour de France Automobile, com o seu mentor Beltoise. Ambos foram navegados por um jovem rapaz de 25 anos chamado Jean Todt, que estava no inicio de uma longa carreira no automobilismo. Com Depailler a fazer uma parte do percurso, para depois entregar a Beltoise, acabaram a prova no primeiro lugar.

Em 1971, Depailler sai da Pygmeé e vai para a Tecno, continuando a contar com o apoio da Elf. Continua na Formula 2 e tem como companheiros o seu amigo Jabouille e Francois Cevért, que se tinha establecido como piloto da Tyrrell de Formula 1, uma equipa que tinha Jackie Stewart e contava com grande apoio da Elf e da Cosworth. Entretanto, a Alpine pedira a Depailler que voltasse a correr na sua equipa de Formula 3, na comapnhia de… Jabouille, e como tinha havido uma modificação na cilindrada dos motores, passando dos 1.0 para os 1.6 litros, investira pesado para conquistar o título. Apoiado pela Renault, contratou pessoas capazes como Bernard Dudot, para a parte mecânica, Marcel Hubert, para a parte aerodinâmica, e André de Cortanze, para o desenho do chassis, as esperanças eram altas. E não falharam.

Depailler acabou a primeira corrida do ano, em Monthlery, no terceiro lugar, atrás do March de James Hunt e do Alpine do seu companheiro de equipa, e a 25 de Abril desse ano, vence a prova de Pau em Formula 3, no mesmo dia em que consegue um meritório sexto posto na corrida de Formula 2. A vitória de Pau iria ser a primeira de seis no campeonato francês, que o fez ser coroado como campeão nacional, depois de quatro temporadas de tentativas ao serviço da Alpine. Isso veio em compensação com o razoável ano que teve na Formula 2, onde o melhor que conseguiu foi um quarto lugar na prova de Crystal Palace.

Em Outubro daquele ano, Depailler foi convidado para participar na E.R.Hall F3 Trophy Race, em Brands Hatch. O francês competiu contra outras promessas do automobilismo como James Hunt, Alan Jones, Roger Williamson, Jody Scheckter e Dave Walker. Depailler deu-se muito bem e venceu com categoria a prova, mas pouco depois os comissários decidiram desclassificá-lo, alegando que ele tinha efectuado uma ultrapassagem sob bandeiras amarelas. Foi uma tremenda desilusão, mas as suas performances foram mais do que suficientes para chamar a atenção de um britânico, John Coombs de seu nome, que tinha uma equipa com chassis March e motor Ford, apoiado pela Elf. Com a conjugação de esforços, Depailler alinhou na equipa na temporada de 1972, em conjunto com Jabouille e Cevert, quando este não tinha corridas de Formula 1 nos fins de semana competitivos.

(continua)

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