segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

The End: Derek Gardner (1931-2011)

O britânico Derek Gardner, o homem que desenhou os primeiros carros da Tyrrell entre 1970 e 1977, morreu esta sexta-feira aos 79 anos em Lutterworth, na Grã-Bretanha.

Hoje pode ser um nome algo esquecido, mas durante a década de 70, Derek Gardner foi o primeiro projectista da Tyrrell e um dos mais bem sucedidos no seu ramo. Máquinas como o Tyrrell 001, uma evolução do March 701 de 1970, dos modelos 003 e 006, os carros que deram os títulos mundiais de 1971 e 1973 a Jackie Stewart, foram desenhados por ele. Mas também foi o homem que teve a ideia do P34, o primeiro chassis de seis rodas da Formula 1, estreado há 35 anos em Jarama e que durou duas temporadas, pilotado pelas mãos de Jody Scheckter, Patrick Depailler e Ronnie Peterson.

Nascido a 19 de Setembro de 1931 no Warwickshire, Gardner licenciou-se em engenharia e a sua entrada no mundo da Formula 1 acontece no final dos anos 60, quando trabalhava na Ferguson, desenvolvendo os sistemas de quatro rodas motrizes. A Ferguson tinha sido chamada em meados de 1969 para ajudar a desenvolver o sistema de suspensão do Matra MS84, o seu carro de quatro rodas motrizes, e Gardner conheceu Ken Tyrrell. Ele gostou do seu trabalho e convidou-o para ficar na sua equipa para a temporada de 1970. No inicio do ano, após Tyrrell e Matra se terem separado devido à relutância de Ken Tyrrell em usar o motor Matra V12 - e de ter um contrato com a Cosworth para usar os V8 - Tyrrell adquiriu chassis da March. Mas pediu a Gardner para que desenhasse um chassis próprio.

O SP - Secret Project - foi desenhado e construido na garagem de Gardner e somente ele, Tyrrell e Stewart é que tinham conhecimento do projecto. O carro estava pronto no final do Verão de 1970 e foi usado pela primeira vez no GP do Canadá desse ano, depois... de uma partida de golfe entre Stewart e Tyrrell, ganha por uma tacada. O carro causou impacto, fazendo a pole-position na sua primeira corrida, em Mont-Tremblant, apesar de não ter terminado qualquer uma das três corridas de 1970.

Mas em 1971, Gardner desenvolveu o 001 e o 002 (um chassis especial para Francois Cevért, que era mais alto do que Stewart) e esses esforços resultaram no chassis 003, estreado no circuito catalão de Montjuich, onde o escocês venceu oito corridas nas duas temporadas seguintes, dando a Stewart e a Tyrrell os títulos de Pilotos e Construtores.

O chassis foi usado em 1972, mas Stewart não foi capaz de bater o Lotus 72 de Emerson Fittipaldi e no final do ano, Gardner e Tyrrell lançaram o chassis 005, desenvolvido depois para o chassis 006. Com o 005, Stewart venceu as duas últimas corridas de 1972 e no ano seguinte, o 003 deu ao escocês o seu terceiro e último título mundial. Mas também foi o chassis onde o francês Francois Cevért perdeu a sua vida, na qualificação para a última prova do ano, o GP dos Estados Unidos de 1973, no circuito de Watkins Glen.

Em 1974, com uma nova dupla, o sul-africano Jody Scheckter e o francês Patrick Depailler, Gardner desenvolveu o chassis 007, um desenvolvimento do 006, mas não conseguiu mais do que duas vitórias, ambas conseguidas pelo jovem sul-africano. A equipa continuava a estar na linha da frente, a ser regular nos pódios, mas Gardner precisava de melhorar a performance dos seus carros, especialmente para resolver problemas relacioandos com a aderência dos carros em curva. E foi aí que surgiu a ideia do chassis P34 de seis rodas.

Como na altura os carros tinham na frente rodas de 14 polegadas, Gardner julgava que colocando duas rodas de dez polegadas cada, a aderência seria maior e assim, o carro ganharia velocidade em curva e em consequência, vantagem sobre os seus adversários. O conceito era tão radical que a primeira vez que Garnder abordou Ken Tyrrell sobre esse assunto foi durante um vôo transatlântico, e somente após alguns copos de whisky...

Mostrado à imprensa no final de 1975, foi um carro radical e dividiu opiniões. Jody Scheckter detestava o carro, enquanto que Patrick Depailler adorava-o e desenvolveu-o exaustivamente no sentido de melhorar a sua performance. O desenvolvimento compensou com uma dobradinha no GP da Suécia de 1976, com o sul-africano a vencer, e o francês no segundo lugar. Ao longo de uma temporada e meia, conseguiu mais uma pole-position e três voltas mais rápidas, mas em 1977, o carro sofreu uma diminuição da sua performance, especialmente porque a Goodyear não queria fazer mais pneus de dez polegadas.

Por essa altura, Gardner tentava convencer Tyrrell de que a introdução de um sistema de controlo eletrónico no seu carro poderia ser uma boa maneira de desenvolver o carro. Contudo, Tyrrell não ficou convencido e Gardner, que ficara crescentemente cansado da Formula 1, decidiu abandonar a Tyrrell a meio de 1977, aceitando um cargo de director de engenharia na Borg-Warner, onde desenvolveu sistemas electrónicos de embraiagem. Ao longo de uma longa carreira como desenhador, também projectou barcos de recreio. Ars lunga, vita brevis.

Sem comentários: