sábado, 5 de março de 2011

A horrivel morte de Tom Pryce, e os eventos que levaram a ela

Na história do automobilismo, há acidentes mortais que nos marcam, quer pela sua violência, quer pela sensação de que poderia ser evitável, quer até pela violência em si. Uma vida desperdiçada a fazer o seu melhor é isso mesmo: desperdiçada. O que aconteceu há precisamente 34 anos no circuito sul-africano de Kyalami marca pela sua violência e pela perda associada e pela sensação de que poderia ter sido evitável. E também tem o seu toque de ironia.

O GP da Africa do Sul era a terceira prova do ano de 1977, e aí já tinha havido um pouco de tudo: uma equipa estreante a ganhar à primeira, corridas debaixo de um calor infernal e até Renzo Zorzi tinha conseguido chegar aos pontos... nesse dia, na volta 21, o Shadow de Zorzi fica parado na meta com o tubo de combustível furado. Do outro lado da pista, dois comissários, um deles um jovem rapaz de 19 anos chamado Jensen Van Vuuren, correm para junto dele em modo de prevenção, caso o carro pegue fogo. Atravessar a pista em plena corrida era perigoso mas algo corriqueiro por esses dias, ainda mais quando se sabia que linha de partida se situava no alto de uma colina, bloqueando a vista de quem fazia o The Kink, a rápida curva antes da meta.

Quando os dois rapazes começaram a atravessar a pista, um grupo de quatro carros estava a acelerar a toda a velocidade nessa zona, começando a 22ª volta da corrida. Eram o March de Hans Stuck, o Shadow de Tom Pryce, o Ligier de Jacques Laffite e o Lotus de Gunnar Nilsson. Stuck viu os dois comissários a correr e só tem tempo para corrigir a trajetória o suficiente para o evitar por "milimetros". Mas Pryce não tem essa sorte. Atropela Van Vuuren e leva com o extintor que ele transportava na cabeça, e ambos morrem de imediato.

No final da corrida, Hans Stuck comentou sobre o incidente: "Quando subia a pista, notei essa pessoa a correr da minha direita, trazendo um extintor consigo. Confiei no meu instinto e nem sei como é que consegui safar. Reagi apenas naquele momento". Provavelmente foi isso que o salvou a ele, mas não a Pryce, que indo mesmo atrás do alemão, não teve tempo de reagir.

Mas isso não foi o final do drama. Sem controle algum e com o cadáver de Pryce lá dentro (ficou parcialmente decapitado com o acidente) o Shadow acelera em plena reta, até à Crawthorne Corner, e ainda colide fortemente com o Ligier de Laffite, acabando ambos nas redes de proteção. Laffite nada sofre.

O acidente ocorre mesmo à frente das boxes, e algumas pessoas tiveram pesadelos durante muito tempo. Aparentemente, esse foi um dos motivos porque a mulher de Patrick Depailler resolve deixá-lo, e um dos mecânicos da Tyrrell, Trevor Price, conta:

"Lembro-me perfeitamente do pequeno fogo que vinha do outro carro [de Renzo Zorzi] e depois do carro de Pryce a entrar na reta. De repente notei que o motor tinha deixado de acelerar mais cedo do que o previsto e algo a levantar-se momentaneamente para o ar quando o seu carro lá passou, que depois viemos a ver que era o infeliz comissário de pista".

O corpo de Van Vuuren estava irreconhecível: partes dele estavam pela pista, e a corrida não foi interrompida com bandeira vermelha. Quando terminou, com a vitória de Niki Lauda - a sua primeira depois do acidente de Nurburgring, sete meses antes - comentou: "Não conseguia retirar qualquer prazer daquela vitória".

5 comentários:

Unknown disse...

Na minha opiniao, o acidente mais marcante do automobilismo.

E não so o blog, mas outras noticias e blogs que leio, quase nao falam do comissario.
O cara parece q se partiu, explodiu. Tipo, parece que nao teve importancia alguma. Quando eu vi a cena pela primeira vez, fiquei estatico, nunca vi algo do tipo.

José disse...

Já vi algo semelhante ao vivo pela tv
Uma corrida de Formula Indy

Um comissário em um circuíto de rua
entra pra ver um carro quebrado

vem outro ... naquele tempo a indy tinha pneus traseiros enormes..

Foi até pior que esse pq lembro que por estar em velocidade baixar foi possível ver o efeito catapulta e a maneira que puxou o pobre homem ..

Eu tinha uns 11 anos ... quase fiquei em estado de choque... foi terrível.

Speeder76 disse...

Ah... o acidente do Willy T. Ribbs, em 1990. De facto, foi também um acidente horrivel.

Unknown disse...

Nesta era virtual ficamos sabendo de outros acidentes. Tem um outro ocorrido em 1982 com o piloto norte-americano Gordon Smiley que perdeu o controle do carro e bateu de frente no muro de proteção da Indy 500 em 1982 a 360 km/h. Foi horrível.

Dario Giannini disse...

Eu assisti a essa prova ao vivo e me recordo da tomada do carro de Zorzi parado em chamas e da chegada do fiscal que conseguiu atravessar a pista. A TV ao vivo não exibiu as imagens do atropelamento, e nos primeiros minutos todos ficamos tranquilos ao ver Zorzi bem, até chegar a notícia da morte de Pryce, nos primeiros momentos imprecisa quanto aos detalhes do acidente.
Realmente uma tragédia muito bizarra e um dos acidentes mais impressionantes do automobilismo.