quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Os Pioneiros - Capitulo 50, tudo continua a correr na América

(continuação do capitulo anterior)


1915: NA AMÉRICA, TUDO CONTINUA NA MESMA


Se na Europa, a guerra tinha parado todas as atividades automobilisticas, nos estados Unidos, a neutralidade vivida por lá fazia com que existisse um enorme numero de provas. A Peugeot, querendo usar os seus carros - já que os seus pilotos estavam no Exército - decidiu enviar três dos seus carros para os estados Unidos. Um deles caiu nas mãos de Bob Burman, outra nas mãos do italo-britânico Dario Resta, enquanto que Ralph di Palma usava um Mercedes, e Claude Newhouse usava um Delage.

As duas primeiras grandes corridas do ano eram a Vanderbilt Cup e o Grande Prémio americano. Neste ano, ambos aconteceriam em São Francisco, fazendo parte da Exposição do Pacifico-Panamá. Num circuito de seis quilómetros, parcialmente feito de madeira, trinta carros participavam nesta prova, e a maior parte eram americanos: a Maxwell tinha três pilotos, Eddie Rickenbacker, Barney Oldfield e Billy Carson, a Mercer tinha Eddie Pullen, Tom Alley e Eddie O'Donnell, e a Stutz tinha Howdy Wilcox, Gil Andersson e Earl Cooper.

O Grande Prémio americano ficou marcado para o dia 27 de fevereiro, mas na hora em que começou a corrida, havia nuvens negras no horizonte. Dario Resta largou melhor e ficou com o comando, seguido por Howdy Wilcox, mas a meio da corrida, começou a chover intensamente e a pista começou a ficar impraticável. Onze carros acabaram por se retirar devido à chuva, entre eles Ralph di Palma, Eddie Hearne, Eddie Pullen, Eddie O'Donnell e Jim Parsons. Eddie Ricenbacker também tinha já abandonado a corrida, mas devido a problemas de velas.

Apesar de metade ter abandonado a corrida, houve resistentes, e após 104 voltas e sete horas de corrida, Dario Resta foi o melhor, com sete minutos de avanço sobre Howdy Wilcox e outros sete minutos sobre Hughie Hughes, num Pope-Hartford. Somente cinco carros chegaram ao fim na mesma volta que o vencedor, revelador das dificuldades que tiveram de enfrentar.

Mas por causa do mau estado do piso, a Vanderbilt Cup foi adiado para o dia 6 de março, onde Resta repetiu o feito e tornou-se no "homem a abater" por parte da concorrência.


AS 500 MILHAS DE INDIANÁPOLIS DE 1915


Dois meses depois, a 31 de maio, maquinas e pilotos preparavam-se para a quinta edição das 500 ilhas de Indianápolis. Com alguns estrangeiros presentes, como o francês Jean Poporato e o alemão John Mais, para além do britânico Dario Resta e um compatriota seu, Noel Van Raalte, grande parte do automobilismo americano estava presente, como Louis Chevrolet, suiço de nascimento, que usava um chassis Cornelian, Dario Resta, que alinhava com o seu Peugeot de 1914 e Ralph de Palma, que tinha o Mercedes de Grande Prémio.

Apesar do melhor nos treinos ter sido Howdy Wilcox, a corrida foi essencialmente um duelo entre Resta e Di Palma. O Peugeot era um carro veloz nas retas, mas o Mercedes curvava melhor. Nenhum dos dois carros perdeu o outro de vista, mas era Di Palma que estava na frente após cem milhas. Mas por essa altura, resta teve problemas com os seus pneus e teve de parar para os trocar.

Resta voltou à pista, mas não conseguiu recuperar o tempo perdido para Di Palma, que venceu a corrida, três anos depois de ter perdido tão amargamente nas últimas voltas. Mas teve um preço: uma barra da suspensão partiu-se, mas carro aguentou-se. Para além disso, tinha buracos no carter e o motor funcionava a três cilindros. A coisa andou perto do milagre, de facto. No lugar mais baixo do pódio ficou o Stutz de Gil Anderson.


AS MOTORDROMES, PISTAS DE MADEIRA

Dois anos após o aparecimento da primeira pista de madeira, na California, elas começavam a ser construidas um pouco por toda a parte. Ovais de uma ou duas milhas, eram feitas de madeira devido à abundância de materiais e o seu baixo custo, e atraiam espectadores, pois poderiam ver todo o espectáculo, ao contrário das pistas de estrada.

A primeira corrida do calendário aconteceu a 26 de junho, em Maywood, perto de Chicago. A prova, de 300 milhas, acabou com resta a ganhar com uma média incrivel de 158 quilómetros por hora. A 5 de julho, outra prova numa oval de madeira, em Omaha, deu a vitória a Eddie Rickenbacker.

Apesar da espetacularidade destas corridas, havia um elemento de perigo nelas: a rapidez que elas eram feitas deixava acabamentos mal feitos e os acidentes eram inevitáveis. A 7 de agosto, em Des Moines, houve dois acidentes mortais na corrida. O primeiro aconteceu quando o Sebring de Joe Cooper furou e o carro esmagou-se contra uma vedação. ele ficou debaixo do carro e teve morte imediata, enquanto que o seu mecânico, Joe Pelo, saiu ileso. Mais tarde, na volta 237, o carro de Billy Chandler sofreu também o rebentamento de um pneu e acabou por capotar, matando o seu mecânico, Morris Keeler.

No final, o grande vencedor foi Ralph Mulford, que conseguiu três mil dólares de prémio. Mas no dia seguinte, ele e os outros pilotos foram prestar a última homenagem aos colegas mortos, antes de partirem para a próxima corrida.


ASTOR CUP, A VANDERBILT DA COSTA LESTE


Apesar do sucesso das pistas de madeira, e a decadência das pistas de estrada, há quem tentasse fazer algo diferente. Em abril de 1915, um grupo de investidores de Wall Street comprou uma pista de cavalos abandonada, a Sheepshead Bay Speedway, e decidiu constituir uma companhia para organizar uma competição com o intuito de premiar os vencedores e prestigiar as corridas na zona de Nova iorque. Entre os investidores contava-se Carl Fisher, o mesmo de Indianápolis, e Harry Harkness, filho de um dos investidores da Standard Oil, de John D. Rockfeller.

Após a compra, começaram a construir uma pista de madeira de duas milhas, com a intenção de ficar pronta em outubro, data da corrida. Vincent Astor mandou fazer um troféu de prata e doou à organização, para premiar o vencedor.

A nova competição atraiu a nata do automobilismo americano, mas ficou marcado nos treinos pelo acidente do veterano Harry Grant, que perdeu o controle do seu Maxwell e ficou preso no seu carro, que acabou por pegar fogo. Retirado com ferimentos graves, acabou por morrer horas depois.

A corrida tinha sido inicialmente marcada para o dia 2 de outubro, mas devido à chuva que caiu nesse dia, a prova foi adiada por uma semana, para o dia 9. A corrida, de 300 milhas, acabou por ser um passeio para Gil Andersson, no seu Stutz, que venceu com folga sobre o outro Stutz de Tom Rooney. Eddie O'Donnell, no seu Dusenberg, ficou com o lugar mais baixo do pódio, enquanto que Dario Resta e Ralph di Palma acabaram por desistir.

O sucesso da corrida foi óbvio, e esperava-se que se repetisse no ano seguinte, mas por essa altura, Carl Fisher decidiu vender a sua parte do negócio para Harkness, e este preparou-se para a edição de 1916.

(continua no próximo capitulo) 

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