segunda-feira, 15 de junho de 2015

A União Europeia quer ver as contas da Formula 1

Acho que toda a gente sabe sobre a atual situação da Formula 1. De como existe uma coisa chamada Grupo de Estratégia, de como começa a existir um fosso entre as equipas ricas e equipas pobres, sobre a má distribuição dos dinheiros, da idade de Bernie Ecclestone e da aparente colocação da lado da FIA, do crescente desaparecimento das provas europeias em detrimento de corridas no Golfo Pérsico, entre outras coisas.

Soubemos como foram as coisas no inverno passado, com o desaparecimento da Caterham e das dificuldades da Marussia em se manter para 2015, convertendo-se em Manor e recebendo os 35 milhões de euros a que tinha direito, pelo seu nono lugar no Mundial de Construtores. E como as equipas do meio do pelotão tentaram revoltar-se, a começar pela Force India, seguidos pela Sauber e Lotus, para conseguir mais dinheiro, e do qual as seis equipas do Grupo de Estratégia disseram não. E claro, como os rumores sobre a possibilidade de Sauber e Force India poderem nem ter carros prontos no inicio do ano, podendo reduzir os carros no pelotão a 16, o que seria perigosamente baixo.

Agora, as coisas estão mais calmas, mas é tudo aparência. O jornalista e blogger britânico Joe Saward escreve esta terça-feira que uma das equipas ditas médias poderá estar a preparar uma queixa junto da União Europeia, em Bruxelas, sobre a maneira pelo qual o desporto está a ser gerido, alegando que as suas estruturas comerciais são anti-concorrenciais. E sobre isso, ele escreve sobre o paradoxo que vive atualmente:

"Definir o problema serve para encontrar uma solução e diferentes grupos têm diferentes pontos de vista, e eles têm estado ocupados a turvar as águas. O ponto-chave é este: Como pode um desporto como este, que gera 1,8 mil milhões de dólares por ano em receitas, ser incapaz de suportar 12 equipas de dois carros cada um em apenas 20 ocasiões cada temporada? A única resposta possível a esta pergunta é que o modelo de negócio não é muito bom para todos os interessados, mesmo que algumas equipas de Formula 1 estejam a encher os seus bolsos, bombeando acima dos seus egos e fazendo se sentir poderosos. Essas pessoas realmente não querem que as coisas mudem, a menos que eles queiram obter mais dinheiro ou mais poder. Eles são pessoas inteligentes e por isso seus argumentos vão soar muito plausíveis, mas na realidade isso é em grande parte uma ilusão, com todos a vestirem os seus próprios interesses, afirmando que as coisas que são melhores para o desporto".

A entrega formal poderá acontecer dentro de um mês, no máximo, e a ideia poderá servir para impedir a implementação de algumas das medidas do Grupo, como por exemplo os chassis-ciente. É sabido que as equipas mais prósperas querem fazer isso, quase da mesma forma como a Red Bull têm uma "equipa B" na Toro Rosso, embora os chassis sejam fabricados autonomamente, sem cópias. Mas com a implementação do chassis-cliente, isso impediria que as equipas do meio do pelotão - Sauber. Force India ou Lotus - não tenham qualquer chance de vitória, e isso seria uma violação das regras de livre concorrência. Porque, como sabem, um chassis cliente não significa que qualquer equipa que queira comprar um chassis, por exemplo, da Mercedes, não teria o chassis desse ano, logo, não teria chances de lutar de igual para igual para a vitória.

E provavelmente, em vez de ter mais concorrência, será o contrário: novas equipas não teriam a chance de ganhar se ficarem com chassis-cliente, sem construir os seus próprios carros.

Para além disso, outra das coisas que iria ser investigada pela União Europeia seria o Pacto de Concordia, especialmente a sua mais recente versão, assinada em 2013. É certo e sabido que os detalhes do Acordo são altamente opacos, para não dizer secretos, e logo, essa falta de transparência merece ser investigada, especialmente qual é o papel da CVC Capital Partners no processo, ou então que papel têm a FIA no meio disto tudo. E qual é a real percentagem que Bernie Ecclestone recebe, por exemplo.

Com tudo isto em jogo, e numa altura em que a FIFA, a entidade que regulamenta o futebol, vive um escândalo sem precedentes à custa da corrupção latente entre os seus membros - e que lançou uma série de suspeitas que vão até à atribuição dos dois próximos mundiais à Russia e ao Qatar, respectivamente - a investigação da União Europeia à Formula 1 poderá abrir a entidade a uma maior transparência ao mundo, mas também poderá mostrar os "podres" dos contratos às equipas e às entidades.

Resta contar os dias até ao anuncio oficial. E muito provavelmente, poderá ser aberta uma "caixa de Pandora". Ou então, algo do qual poderá levar a lado algum. Veremos.

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