segunda-feira, 1 de abril de 2019

O piloto do dia - Louis Chiron

O pódio de Charles Leclerc no GP do Bahrein de 2019 bateu um recorde: o de maior distância entre pilotos de uma mesma nacionalidade no lugar de honra: quase 69. É que a última vez aconteceu a 21 de maio de 1950, no mesmo GP do Mónaco, com Louis Chiron ao volante.

E se o principado teve pilotos como André Testut e Olivier Beretta na categoria principal, e outros como Clivio Piccione ou Stefano Colleti na GP2 ou na IndyCar, nenhum teve o talento e o palmarés de Leclerc. Mas o seu distante antecessor foi um dos pilotos mais talentosos do seu tempo, que andou de Bugatti, Alfa Romeo e Auto Union, e correu quer antes, quer depois da II Guerra Mundial, e teve uma carreira longa e frutuosa. Hoje é dia de falar do senhor Chiron.

Nascido no Mónaco a 3 de agosto de 1899, Louis Alexandre Chiron ganhou interesse no automobilismo quando era adolescente. Era o período da I Guerra Mundial, e alistara-se no exército francês, para um regimento de artilharia onde acabou por ser motorista para generais como Ferdinand Foch e Phiippe Petain. Quando a guerra acabou, Chiron envolveu-se mais no automobilismo, mas o dinheiro para adquirir um carro não era fácil. Tentou arranjar dinheiro sendo taxista, mas também dançarino. Sendo um homem elegante, foi capaz de seduzir algumas distintas senhoras, uma delas Alice "Baby" Hoffman-Trobeck, esposa de Albert Hoffman, magnata da industria farmacêutica.

Em 1926, com a ajuda financeira de Hoffman, adquiriu um Bugatti e venceu a sua primeira corrida relevante, o GP de Commingnes, perto de Toulouse, no sul de França. Dois anos depois, estava na equipa oficial da marca e foi aí que alcançou as suas primeiras grandes vitórias, em Itália e Espanha, para além de vitórias no GP de Marne, em França, e o GP de Roma, em Itália. E foi nesse ano que terá a sua primeira participação nas 24 horas de Le Mans. Iria participar mais oito vezes, sempre com o mesmo destino: desistirá.

Em 1929, Chiron continuou a vencer com o Bugatti, obtendo o primeiro lugar na Alemanha e em Espanha, para além de um participação nas 500 Milhas de Indianápolis, ao volante de um Delage. 14º na grelha, acabou num digno sétimo lugar no final. No ano a seguir, venceu o GP da Bélgica, em Spa-Francochamps, e em 1931, vence "em casa" o GP do Mónaco, para além de ter conseguido a sua primeira vitória em Brno, no Grande Prémio da Checoslováquia, e nova vitória no GP de França, em parceria com Achille Varzi. Voltaria a vencer em 1932 em Nice e na Checoslováquia.

Por essa altura, tinha estabelecido uma forte amizade com Rudolf Caracciola, e tinham feito juntos uma equipa, para poderem correr, dado que se vivia a Grande Depressão, e as equipas oficiais estavam a diminuir. Mas por esta altura, ele tinha um "affarire" com a mulher de Hoffman, o seu financiador, e em 1933, essas tensões vieram ao de cima, ao terminar a sua ligação com a Bugatti, indo correr para a Alfa Romeo, que tinha os poderosos P3.

A transferência para a marca italiana fez bem ao seu palmarés: vencedor em Espanha e na Checoslováquia e no GP de Marselha, ainda com Caracciola, a meio do ano vai para a Ferrari, que cuida dos Alfa Romeo oficiais, onde vence as corridas acima referidas. Em 1933, ao lado de Luigi Chinetti, vence as 24 horas de Spa-Francochamps, mas no ano seguinte, luta contra os Mercedes e Auto Unions que dominam as corridas de Grand Prix. Mesmo assim, vence nesse mesmo ano de 1934 o GP de França e o de Marrocos.

Em 1936, a convite de Caracciola, vai correr para a Mercedes. Faz a pole-position no "seu" GP do Mónaco, mas não chega ao fim. Vai ser o seu momento alto, já que não consegue grandes resultados ao volante dos carros alemães. Para piorar as coisas, sofre um grave acidente no GP da Alemanha, em Nurburgring, sofrendo graves ferimentos. Com isso, decide pendurar o capacete e gozar a reforma. voltando para correr provas de resistência com os Talbot, nomeadamente as 24 horas de Le Mans.

Com a II Guerra Mundial, as provas automobilísticas são interrompidas, regressando no final do verão de 1945, com o final do conflito mundial. Chiron já tem 46 anos, mas ainda tem vontade de pegar o volante... e faz isso. Pega um Talbot-Lago e em 1947 vence o GP de França pela quarta vez na sua carreira, para além do GP de Comignes, e no ano seguinte, é segundo no seu GP do Mónaco. E em 1949, vence o GP de França pela quinta vez. Tudo isto, quando já tinha 50 anos.

Em 1950, começa o Mundial de Formula 1, e está ao volante de um Maserati oficial. Aproveita a confusão no GP do Mónaco - nove pilotos saem de pista na Tabac devido à agitação no mar naquela área - e ele termina a corrida na terceira posição, conseguindo os primeiros pontos da sua carreira. Esses quatro pontos dão-lhe o décimo lugar no campeonato, e o segundo mais velho piloto a subir ao pódio - o mais velho é Luigi Fagioli, um ano mais velho que Chiron.

No ano seguinte, anda quer num Maserati, quer um Talbot-Lago da Ecurie Rosier, onde não pontua, e começa a bater recordes de longevidade. Em 1954, ao lado do suíço Ciro Bassadona, vence o Rali de Monte Carlo - um dos raros pilotos a vencer o Grande Prémio e o Rali - e no ano seguinte, alinha na sua corrida com um Lancia D50 oficial. Termina a prova no sexto posto, que na altura não fava pontos, mas fê-lo quando lhe faltavam algumas semanas para o seu 56º aniversário. Até hoje, está na história da Formula 1 por ser o piloto mais velho de sempre a terminar uma corrida.

Em 1958, poucas semanas antes do seu 59º aniversário, tenta qualificar-se no GP do Mónaco, com um Maserati 250F, mas não consegue. Nesse momento, pendura o capacete de vez.

Depois, torna-se diretor da corrida do Mónaco, e na década seguinte, faz parte da paisagem do Grande Prémio, graças ao seu boné desportivo e por ser ele a segurar a bandeira de partida e de chegada. Fica assim até à sua morte, a 22 de junho de 1979, aos 79 anos. Hoje em dia, Chiron é homenageado no Mónaco com uma estátua e uma das curvas na zona da piscina. E a Bugatti decidiu recentemente batizar um dos seus supercarros com o nome de Chiron. 

Sem comentários: