Noutros tempos ditos... mais "normais", o comunicado da Mercedes, libertado esta manhã, poderia ter colocado a Formula 1 em pé de guerra. Mas estes não são tempos normais, graças à epidemia do coronavirus. Neste momento, o CoVid-19, o termo técnico da doença, que está a colocar o mundo de pernas para o ar no final deste inverno no Hemisfério Norte, está a condicionar as movimentações das equipas e a complicar ainda mais uma logistica que, já de si, é complicada. É por isso que os cancelamentos poderão acontecer em cima do acontecimento.
E para piorar as coisas, um dos focos principais desta epidemia é a Itália. Sede da Ferrari, Alpha Tauri e parte da Haas. Para além da Pirelli, a fornecedora de pneus. Alguns dos países que recebem o calendário da Formula 1, como o Bahrein e o Vietname, já disseram que não receberão voos de Itália, e os seus nacionais, ou quem tenha passado por Itália nas duas semanas anteriores, ficarão em quarentena. Se nos contratos que as promotoras assinam com a FOM há uma cláusula mínima de equipas e carros a alinharem, a FIA, através de Ross Brawn, já veio a público dizer "ou vão todos, ou não vai ninguém", ou seja, vão defender a Ferrari e as outras equipas.
“Se uma equipa é impedida de entrar num país, não podemos ter uma corrida”, disse Brawn em declarações captadas pela Reuters. “Obviamente, se uma equipa fizer a escolha para não ir a uma corrida, a decisão é deles. Mas se uma equipa é impedida de ir a uma corrida por causa de uma decisão do país, é difícil ter uma competição justa”.
“É uma situação muito séria, então não quero subestimá-la”, reconheceu. “Mas estamos a tentar fazer corridas. Temos que fazê-las de forma responsável. Estamos minimizando o número de pessoas no paddock, solicitando às equipas que enviem um número mínimo de pessoas necessárias para uma corrida”, concluiu.
É verdade que a FIA vai ser solidária com as equipas afetadas, mas... e as equipas? Uma das que assinou o acordo a contestar a Ferrari está em Itália, mas outra das equipas que não assinou, a Sauber-Alfa, tem a sua sede na Suíça. Abandonar uma delas à sua sorte poderá causar alguns embaraços evidentes, e claro, não ajudaria à união e solidariedade da competição. E ainda por cima, lá vêm as declarações, velhas, com mais de década e meia, de que a FIA significa "Ferrari International Assistance". Logo, as coisas não são tão simples assim...
Isso vai colocar um dilema: abrem excepções ou decidem pelo lado mais radical? O Qatar não teve problema algum em cancelar a Moto GP, e a Moto2 e Moto3 só acontecerão porque as equipas estavam ali em testes. E o GP da Tailândia, também em MotoGP, foi também adiado para setembro. Isso quer dizer que, por exemplo, Bahrein e Vietname, que tem politicas restritas de circulação de pessoas para conter o CoVid-19, poderão usar essa carta como último recurso, porque o limite mínimo está prestes a ser alcançado. A corrida barenita acontece uma semana depois da australiana, bem abaixo do limite mínimo. Ou seja, é um "cliffhanger" ao bom estilo das séries de televisão, no final de cada temporada.
Vivemos tempos interessantes, diriam os chineses. A nossa vida, dita normal, está a ficar de pernas para o ar, e há mais perguntas que respostas. As soluções radicais estão à vista, e ninguém as quer tomar, porque implicam que abandonamos a normalidade. E ninguém quer arcar com a responsabilidade. É por isso que por estes dias digo que, o que hoje é verdade, amanhã poderá ser mentira.
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