terça-feira, 17 de agosto de 2021

A imagem do dia


Na foto, Ken Miles com a equipa da Ford no fim de semana das 24 Horas de Le Mans de 1966, onde a marca americana iria, por fim, bater a Ferrari. 

Este é um fim de semana onde as 24 horas de Le Mans entram em ação. E pela segunda vez consecutiva, a prova vai acontecer fora da sua data habitual, à conta da pandemia. Se em 2020 não houve espectadores, agora em 2021, o adiamento foi para que a cidade e o circuito tivesse gente a poder assistir ao vivo e a cores, desde que respeitem as regras sanitárias vigentes. Ou seja: estejam vacinados, levem máscara e sempre que puderem, respeitem o distanciamento entre si.

Mas nesta terça-feira, há precisamente 55 anos, Ken Miles sofria o seu acidente mortal, no circuito de Riverside. E se todos sabem a sua vida e os seus feitos, o local e a data da sua morte, faltam os pormenores.

Em 1966, Ford por fim alcançou o seu objetivo. Bateu a Ferrari no seu quintal, em Le Mans. Contudo, para lá chegar, esforçou-se muito e gastou imenso dinheiro não só em construir carros, motores, montar simuladores para fazer com que todos os componentes resistissem ao desgaste de 24 horas sempre em movimento, e pagar a pilotos e engenheiros para que fizessem o seu trabalho. 

Nesse ano, os carros que alinharam em La Sarthe eram os Mark II, guiados por gente que ia desde o próprio Miles a Mário Andretti, passando por Bruce McLaren, Chris Amon, Dennis Hulme, Dan Gurney e outros. Mas também havia o Mark III, ou o J-Car, que seria a evolução seguinte dos carros necessários para bater os Ferrari no seu quintal. O carro era mais longo e mais potente, mas mais problemático porque, para começar, não tinha travões suficientemente potentes. E quando não funcionava, era o piloto que pagava.

E isso foi visto em abril, nos testes antes da corrida. É que antes de Miles, houve Walt Hansgen, um veterano de 46 anos, que começara a carreira bem tarde - ano e meio antes, era piloto da Lotus na Formula 1, logo, companheiro de equipa de Jim Clark - que tinha faro para encontrar talento (introduziu Mark Donohue no automobilismo). No dia 3 de abril desse ano, Hansgen acelerava a 270 km/hora na chegada a Mulsanne quando não conseguiu travar a direito por causa do piso molhado. E havia árvores na área de escape designada. Apesar dos melhores esforços médicos, Hansgen morreu quatro dias depois.

O J-Car ficou de lado em Le Mans, mas prometeram que iriam pegar nele e fazer as modificações necessárias para o torar tão bom como os anteriores. É que esse carro era feito com uma cauda mais longa, e uma construção interior em forma de ninho de abelha, no sentido de ser leve e rijo. Mas as inovações aerodinâmicas estavam ainda por testar, e o perigo de tudo acabar mal era bem real, como eram as coisas naquele tempo. A morte estava sempre no contrato daqueles pilotos, e eles sabiam disso perfeitamente.

Aquele 17 de agosto de 1966 era de calor em Riverside, na California. Miles testava o J-Car para ver os seus limites e o que poderia fazer para melhorá-los. O desgosto de dois meses antes, em Le Mans, ao ver a Ford entregar a vitória a McLaren e Amon por uma decisão técnica e de marketing, em vez de ser ele e o seu companheiro, o neozelandês Dennis Hulme, já tinha evaporado e ele estava determinado em fazer aquele carro vitorioso, ao lado do seu amigo Carrol Shelby

Riverside - que já não existe, o circuito foi apagado do mapa em 1990 para dar lugar a um "mall" - tinha uma curva apertada ao fim de uma reta com 1600 metros, e Miles tinha-a feito centenas de vezes naquele tempo sem qualquer problema. Contudo, aquele carro tinha um defeito: a traseira levantava quando o carro estava em descida. E claro, quando travava fortemente, a alta velocidade, não ajudava. E naquela tarde, no final daquela reta, quando Miles colocou o pé no pedal do travão, o carro capotou e incendiou-se. Quando os socorros chegaram, infelizmente, Miles tinha morrido, aos 47 anos. 

Shelby teve de suportar este desgosto, mas ajudou a Ford a modificar fortemente o J-Car para o tornar mais estável e convencionalmente mais seguro - foi instalado um "roll-cage" semelhante aos usados na NASCAR - e o carro acabou por vencer no ano seguinte, com A.J. Foyt e Dan Gurney ao volante. 

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