A colocação do GP do Qatar perto do final do calendário não é inocente. E não falo por causa da possibilidade de ser ali ser o lugar da decisão do campeonato, mas também por causa do lugar onde fica. Situado no Golfo Pérsico, apesar de ser um lugar no deserto, é húmido, sobretudo à noite. E com os eventos de 2023 ainda na mente das pessoas, será interessante saber como será este ano.
Neste final de semana, o tempo está muito mais fresco e é o vento que está a constituir um desafio. No entanto, os tempos por volta são muito mais rápidos nestas condições, o que está a contribuir para mais um fim de semana também muito físico. Gente como Lando Norris, que afirma acreditar na frescura do piloto, como condição para sobreviver a uma corrida destas.
“O meu pescoço não está muito feliz, por isso, sim, vai ser uma corrida difícil. Estas condições frias, com o vento, levam a uma corrida muito mais rápida do que no ano passado. E é ainda mais física, o que não pensei que fosse possível. Por isso, é complicado, mas é um desafio que temos de enfrentar.”, afirmou o piloto da McLaren antes da corrida.
Aliás, está a ser um fim de semana interessante. Lembram-se da qualificação? Pois é, por causa de uma manobra lenta na pista quando George Russell fazia uma volta rápida, os comissários da FIA - os que sobraram, diga-se... - decidiram que era matéria de penalização, e tiraram a pole ao Max Verstappen. Mas ele largará de... segundo! Apenas mudaram de lugar na primeira fila da grelha. Enfim... o que acontece é que, se calhar, Russell ficará com o primeiro lugar no final da primeira curva. Mas Max poderá ser o piloto agressivo que é, conseguir uma boa partida e forçar Russell para ficar com o primeiro lugar, se ambos estarem lado a lado.
Com os pilotos a escolherem pneus médios - excepto Nico Hulkenberg, com duros, tentando uma estratégia diferente - a estratégia era importante, porque esta é uma pista complicada de passar, e a temperatura do asfalto também importa para ter os pneus no ponto o mais cedo possível.
A corrida recomeçou na quinta volta, com Oscar Piastri a passar Leclerc, passando depois a apanhar Russell para um lugar no pódio. Atrás, Liam Lawson tentou passar Valtteri Bottas, e acabou por fazer um pião. Regressou à pista, mas no último posto. No computo da luta pelo título de Construtores, a McLaren era bem melhor que a Ferrari.
Na oitava volta, Stroll, que era o último, era penalizado em 10 segundos, numa altura em que os comissários estão a vigiar Lewis Hamilton por ter causado falsa partida. Duas voltas depois, Stroll encostava às boxes de forma permanente, tornando-se na terceira retirada da corrida. Entretanto, na frente, Max fazia voltas mais rápidas atrás de voltas mais rápidas, tentando afastar-se de Lando Norris. Pouco depois, Hamilton sofreu uma penalização de cinco segundos por causa dessa falsa partida.
A partir da volta 17, a corrida se tornou cinzenta e as únicas ultrapassagens de relevo foram aqueles que todos faziam sobre o Yuki Tsunoda, enquanto na frente, Norris e Max marcavam voltas mais rápidas um ao outro, num combate à distância.
As primeiras trocas de pneus aconteceram na volta 24, com Russell a ser o primeiro, com duros. Contudo a troca foi má, por causa do pneus traseiro direito, e perdeu alguns lugares, ficando ora dos pontos. Magnussen foi quatro voltas depois, e na volta 30, enquanto um espelho tinha voado para a reta da meta, Max tinha agora Norris na sua traseira, a pouco mais de um segundo. Na volta 35, Sainz Jr e Hamilton tinham problemas porque sofreram pneus. Ao mesmo tempo, Oscar Piastri foi às boxes, colocando médios.
Mas logo a seguir apareceu o Safety Car, altura ideal em que boa parte dos pilotos foram à boxes para colocar duros. Russell foi uma segunda vez, colocar novamente duros. Algo do qual Russell estava puto da vida. Com os comissários a limpar o mais que podiam dos destroços, o Safety Car passava nas boxes para que pudessem limpar o melhor que podiam.
A corrida recomeçou na volta 40... instantes depois de Sérgio Pérez ter saído de pista. A razão tinha sido os pneus que não conseguiram ficar aquecidos o suficiente. Para piorar as coisas, um problema com o seu motor antecipou o final da corrida. Um azar nunca vem só...
Na relargada, Norris largou melhor que Max, ficou lado a lado, mas o neerlandês conseguiu manter a posição. Atrás, Leclerc conseguiu passar Piastri para ser terceiro, mas no meio do pelotão, Sainz Jr despistara-se e Hulkenberg acabou fora, na gravilha. O Safety Car foi novamente chamado, e agora, cinco pilotos estavam de fora da corrida.
E a partir daqui, a chuva de penalizações. Primeiro, Norris teve um "stop & go" por causa de ele não ter levantado o pé numa situação de bandeiras amarelas, depois foi Hamilton, que se esqueceu de ligar os limitadores de velocidade nas boxes. Ambos acabaram no fundo do pelotão, e o britânico da Mercedes queria encostar o carro para retirar, mas a equipa não o deixou.
No final, enquanto Max caminhava para uma nova vitória, na frente de Leclerc e Piastri, Norris ficava ainda nos pontos - décimo, mais a volta mais rápida - algumas coisas interessantes aconteciam atrás. Pierre Gasly tinha aguentado os ataques de Carlos Sainz Jr e era quinto, a segunda melhor posição da temporada na Alpine, e no nono posto estava Zhou Guanyou, que dava os primeiros pontos da temporada para a Sauber, na semana em que o governo local anunciava que tinha uma participação parcial no projeto da Audi, a partir da próxima temporada. Valtteri Bortas poderia ter conseguido pontuar, mas o ritmo do carro de Norris era demais para ele e ficou à beira da pontuação.
Em termos de campeonato de Construtores, a Ferrari ganhou alguns pontos, e conseguiu levar a luta para Abu Dhabi, mas a McLaren ainda estava na mó de cima.
E foi assim a noite qatari. Um pouco de aborrecimento, com ação... artificial. É um pouco como são as coisas na Formula 1, atualmente.
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