terça-feira, 30 de julho de 2013

The End: Tony Gaze (1920-2013)

Soube-se esta segunda-feira do desaparecimento de um dos pioneiros da Formula 1. E não era um qualquer. Fala-se do primeiro australiano que esteve na categoria máxima do automobilismo, antes de Jack Brabham, e antes disso, tornou-se num dos ases da aviação da II Guerra Mundial. Hoje, fala-se de Tony Gaze, um homem extraordinário que desapareceu aos 93 anos.

Uma vida que muito provavelmente vale um filme, de facto, mas já vinha de família. Nascido a 3 de fevereiro de 1920 em Melbourne, era filho de Irvine Gaze, um dos membros da expedição antártica de 1914, comandada por Ernest Shackleton. Após essa expedição, o seu pai foi combater na I Guerra Mundial, ao serviço da Royal Flying Corps, a antecessora da RAF, onde foi abatido na última semana da guerra e feito prisioneiro pelos alemães. Após a guerra, Irvine conheceu Freda Sadler, uma condutora de ambulâncias, e casaram-se em 1919, com Tony Gaze a nascer pouco depois do seu regresso à Austrália.

Tony Gaze teve uma infância calma, mas quando a II Guerra Mundial começou, em 1939, Tony Gaze e o seu irmão mais novo, Irvine Jr. (mais conhecido por Scott) tinham perto de 20 anos e estavam na Grã-Bretanha. Decidiram de imediato que queriam seguir os passos do seu pai na aviação. Ambos entraram na Royal Australian Air Force (RAAF) em 1941, mas a carreira de Scott seria tragicamente abreviada em maio desse ano, quando morre num acidente, apenas com 19 anos. 

Ao longo da II Guerra Mundial, Gaze esteve no melhor e no pior: em 1943, foi abatido ao largo da cidade de Le Treport, mas conseguiu evitar a captura durante três semanas, antes de fugir para Espanha. No ano seguinte, juntou-se ao esquadrão 610 e no final da guerra, abateu um Me 262, o primeiro caça a jato dos alemães. Ao todo, como comandante de esquadrão, abateu 11 aviões... e um foguete V1. E foi condecorado por três vezes com a Distinguished Flying Cross, o unico australiano a ser agraciado com múltipla honra.

Segundo conta Joe Saward no seu blog, o seu envolvimento com o automobilismo acontece após a guerra, quando conhece e começa a namorar com Kay Wakefield, a viúva de um piloto de pré-guerra, morto em combate em 1942. E o seu primeiro feito em termos desportivos foi o de idealizar um circuito à volta de uma propriedade pertencente a Lord March e que tinha sido a sua base durante a guerra. Depois de discussões e experimentações, eles disseram que valia a pena. Acabou por virar o circuito de Goodwood.

Pouco depois, foi desmobilizado e regressou à Austrália, onde comprou um Alta e foi correr em rampas. Casou-se nesse ano com Kay (acabaria por morrer em 1976) e veio para a Grã-Bretanha, onde ele começou a correr na Formula 2, com um Alta. Em 1951, decidiu participar em vários eventos na Europa, e no ano seguinte, mudou-se para um HVM, com motor Alta. A ideia era de competir no campeonato de Formula 2, mas este decidiu fundir-se com o de Formula 1, e ele participou em vários eventos, quer extra-campeonato, quer a contar para a classificação. A sua primeira participação foi na Belgica, seguido das corridas na Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, onde acabou por não se qualificar. A sua melhor posição foi um 15º posto em Spa-Francochamps.

Após isso, participou no Rali de Monte Carlo a bordo de um Holden, com mais dois australianos: Lex Davidson e Stan Jones, pai de Alan Jones. Não ficaram bem classificados, mas ele continuou a sua carreira nos Spots Cars, onde sobrevive só com arranhões a um acidente no GP de Portugal, quando o seu Aston Martin bate fortemente contra umas árvores, após a colisão com um Ferrari.

Em 1953, regressa à Austrália, mas está na Grã-Bretanha dois anos mais tarde para fazer a Kangaroo Stable, a primeira equipa australiana, onde alberga os melhores do seu país, incluindo um jovem chamado Jack Brabham. A ideia era correr nos Sports Cars, mas com o cancelamento de várias corridas após o acidente em Le Mans, a aventura fica sem efeito.

Volta à Austrália, onde corre em eventos como o GP da Nova Zelândia, onde acaba no segundo lugar na edição de 1956, apeas atrás de Stirling Moss. No final dos anos 50, vira o seu interesse para a aviação, nomeadamente aos planadores, onde ele representa o seu país em alguns campeonatos do mundo. Quando a sua mulher morreu, ele decidiu regressar à Austrália, e casou-se de novo, desta vez com Diana Davidson, uma piloto de corridas no seu tempo e também a viúva de outro piloto, o seu amigo Lex Davidson, que correra com ele nos anos 50 e tinha morrido numa corrida da Tasman Series em 1965, tripulando um Brabham.

Os seus últimos anos foram passados a participar em eventos históricos e a ver os seus afilhados - filhos de Lex Davidson - serem nomes de topo nos anos 70, quer na Formula 5000, quer na Formula 2. Os netos de Diana, Alex, Will e James, correm todos neste momento na V8 Supercars. E em 2006, as suas contribuições para o automobilismo local lhe varem ser condecorado com a Ordem da Austrália.  E uma das suas últimas aparições públicas foi este março, quando esteve em Melbourne ao lado de Jack Brabham, no fim de semana do GP da Austrália.

Assim sendo, contempla-se a grande vida de aventuras por parte de alguém que até agora era um dos pioneiros ainda vivos, marcantes de uma geração cada vez mais distante. Ars lunga, vita brevis.

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