Não sei se Taki Inoue é o pior piloto de Formula 1 de todos os tempos (acho que ainda há piores do que ele!) mas podemos ter a certeza que ele se tornou um ícone nas redes sociais, graças à sua conta no Twitter, onde ele manda pérolas de humor japonês no seu inglês macarrónico. Quase vinte anos após a sua aventura automobilística pela Arrows, Inoue vive no Mónaco a ser empresário de pilotos, mas agora, depois de muitos anos de descrição, ele faz tudo ao contrário, trazendo consigo uma legião de novos fãs. E o Top Gear britânico, através do seu jornalista Sam Phillip, foi entrevistá-lo na sua edição de setembro, onde falou algumas pérolas como esta:
"Meu capacete estava amolgado. Depois fui ver o médico. Procedimento habitual: primeiro vêm se me mexo, tocando nos meus testiculos". Uma pausa para beber um golo de cerveja. "É verdade! apresndi isto no Reino Unido. Quando os teus testiculos se mexem, o cérebro está bom. Quando sofres um acidente, tesouras, cortam-te o fato, vêm-te os testiculos, tocam-nos, se eles se mexem, a pessoa está bem. Se as bolas não se mexem, então tens algum dano cerebral, creio eu".
Inoue fez agora 50 anos de idade e vive no Mónaco ("mas não na parte glamourosa"). Durante o seu tempo na Formula 1 em 1995, o seu nome tornou-se sinónimo de ineptidão. Um dia, quando Michael Schumacher fez um tempo dois segundos abaixo do seu companheiro de equipa, Johnny Herbert, durante uma sessão de testes com o seu Benetton, este respondeu com um "sinto-me como se fosse um Taki Inoue ou algo assim". Até compatriotas como Ukyo Katayama o consideravam como "um horror".
Na entrevista, estão lá os seus grandes momentos, como a colisão com o Renault Clio de Jean Ragnotti e o Tatra que servia de ambulância em Budapeste, durante o GP da Hungria, do qual ficou ferido, mas que teve de se aguentar por mais de uma hora no centro médico, porque Charlie Whitting não queria interromper a corrida.
E também fala sobre os pilotos pagantes, porque muitos acreditam que ele foi o primeiro a pagar para correr, dada a sua falta de talento: "Não! Todo e qualquer piloto é uma espécie de piloto pagante. Schumacher, Alonso. Sim, Alonso recebe um salário, mas quanto é que a Santander paga à Ferrari? O que fazia era o mesmo. A unica diferença é que eu não era suficientemente bom para a Formula 1..."
A obsessão de Inoue pelo automobilismo apareceu por acaso. Em 1978, aos 15 anos de idade, estava a comer um doce quando lhe apareceu um autocolante com a cara de James Hunt. "Eu perguntei: 'o que é isto?' E me responderam: 'Taki, é Formula 1'. Eu disse: 'Muito bom, há piloto de Formula 1 japonês?' E me responderam: 'Formula 1 é impossível para japoneses'". Inoue considerou isso como um desafio e começou a competir nos Turismos, sempre com resultados modestos. Mas o sonho da Formula 1 nunca morreu na sua mente.
A entrevista de Inoue à Top Gear britânica têm partes absolutamente hilariantes, como esta:
"Perguntei a um amigo meu: 'Como é que vou correr na Formula 1?' Ele me disse 'Taki, deves ir ao Reino Unido, Formula Ford, 1600, é a tua porta de entrada na Formula 1'. Então decidi: 'OK, eu vou para o Reino Unido'.
Outra baforada de cigarro, outro trago de cerveja.
É o meu primeiro voo, a minha primeira viagem fora do Japão. Quando estavam a servir a comida, perguntei "Quanto é?" e me disseram que 'Não precisava de pagar pela comida.'
Quando chegou a Londres, a sua falta de preparação se tornou evidente. "Quando cheguei a Heathrow, fui ao balcão de informações e perguntei: 'Quero ser piloto, onde é que posso ir?' É verdade. Eles me responderam: 'Você deveria ir para Newmarket - lá há uma pista. Comprei um bilhete, apanhei um autocarro". Numa noite miserável de outubro, Inoue sai de Londres e vai ter ao Norfolk profundo. 'Quando o condutor diz 'Newmarket', eu sai. Depois perguntei a uma pessoa: 'Esta é a pista de corridas?' e ele me responde que 'Sim, é a pista de corridas de cavalo!' Desastre.
Inoue acaba por chegar a East Anglia, onde corre na Snetterton Racing School, depois participa na Formula Ford, antes de regressar ao Japão para fazer Formula 3. Mesmo sem que tenha subido alguma vez a um pódio, Inoue foi capaz de arranjar verbas para sustentar a sua carreira, patrocinios que chegaram às duas milhões de libras. Graças a eles, ia subindo de categoria, embora nunca imitando os resultados do seu ídolo James Hunt, apesar de adorar o lado mais ligeiro do desporto. 'Nesses dias, podia beber, beber muito e no dia seguinte tinha uma grande dor de cabeça. Sem problemas!' sorri, enquanto segura um cigarro na mão. 'Os pilotos de agora são aborrecidos, parece os Jogos Olimpicos. Personalidade zero. Os pilotos de hoje têm de fingir que são profissionais, mas eu tinha medo, muito medo. O carro era muito veloz! Sendo muito veloz, tinha muito medo'.
Provavelmente não ajudou muito o facto de a sua equipa não o ter dado alguma chance de testar antes da sua primeira corrida de verdade. 'Na minha primeira corrida a sério em São Paulo, o GP do Brasil, não sabia o que era uma paragem nas boxes. Ninguém me contou', admite com um sorriso. 'Mas pelo menos o carro não era complicado de guiar. Não havia caixa de velocidades no volante, e uma vez que te habituas aos travões de carbono, é muito fácil de guiar.'
Fácil? Com 900 cavalos, sem ajudas de condução e com notórias dificuldades no departamento de talento. Encolhendo os ombros depois de beber mais um golo da sua cerveja, afirmou: 'É porque eu guiava muito lentamente...'"
"Perguntei a um amigo meu: 'Como é que vou correr na Formula 1?' Ele me disse 'Taki, deves ir ao Reino Unido, Formula Ford, 1600, é a tua porta de entrada na Formula 1'. Então decidi: 'OK, eu vou para o Reino Unido'.
Outra baforada de cigarro, outro trago de cerveja.
É o meu primeiro voo, a minha primeira viagem fora do Japão. Quando estavam a servir a comida, perguntei "Quanto é?" e me disseram que 'Não precisava de pagar pela comida.'
Quando chegou a Londres, a sua falta de preparação se tornou evidente. "Quando cheguei a Heathrow, fui ao balcão de informações e perguntei: 'Quero ser piloto, onde é que posso ir?' É verdade. Eles me responderam: 'Você deveria ir para Newmarket - lá há uma pista. Comprei um bilhete, apanhei um autocarro". Numa noite miserável de outubro, Inoue sai de Londres e vai ter ao Norfolk profundo. 'Quando o condutor diz 'Newmarket', eu sai. Depois perguntei a uma pessoa: 'Esta é a pista de corridas?' e ele me responde que 'Sim, é a pista de corridas de cavalo!' Desastre.
Inoue acaba por chegar a East Anglia, onde corre na Snetterton Racing School, depois participa na Formula Ford, antes de regressar ao Japão para fazer Formula 3. Mesmo sem que tenha subido alguma vez a um pódio, Inoue foi capaz de arranjar verbas para sustentar a sua carreira, patrocinios que chegaram às duas milhões de libras. Graças a eles, ia subindo de categoria, embora nunca imitando os resultados do seu ídolo James Hunt, apesar de adorar o lado mais ligeiro do desporto. 'Nesses dias, podia beber, beber muito e no dia seguinte tinha uma grande dor de cabeça. Sem problemas!' sorri, enquanto segura um cigarro na mão. 'Os pilotos de agora são aborrecidos, parece os Jogos Olimpicos. Personalidade zero. Os pilotos de hoje têm de fingir que são profissionais, mas eu tinha medo, muito medo. O carro era muito veloz! Sendo muito veloz, tinha muito medo'.
Provavelmente não ajudou muito o facto de a sua equipa não o ter dado alguma chance de testar antes da sua primeira corrida de verdade. 'Na minha primeira corrida a sério em São Paulo, o GP do Brasil, não sabia o que era uma paragem nas boxes. Ninguém me contou', admite com um sorriso. 'Mas pelo menos o carro não era complicado de guiar. Não havia caixa de velocidades no volante, e uma vez que te habituas aos travões de carbono, é muito fácil de guiar.'
Fácil? Com 900 cavalos, sem ajudas de condução e com notórias dificuldades no departamento de talento. Encolhendo os ombros depois de beber mais um golo da sua cerveja, afirmou: 'É porque eu guiava muito lentamente...'"
3 comentários:
Excelente postagem! Ri horrores lendo... E essa cena do atropelamento por uma brasília é de chorar de rir!
Muito bom! Taki Inoue é uma figuraça mesmo...
Que maravilha de entrevista,bons tempos em que na Formula 1 apareciam personagens únicas hoje em dia são só snobes e meninos mimados.
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