terça-feira, 29 de agosto de 2017

Esta equipa é muito pequena para estes dois

Um dos grandes momentos do GP da Bélgica foi uma briga entre dois pilotos. E não foram uns quaisquer, falamos de uma briga entre dos pilotos da mesma equipa. Sergio Perez e Esteban Ocon são pilotos competitivos mais ou menos da mesma idade (Perez tem 26, Ocon vinte) e lutam pela posição como se lutassem contra outro piloto. Como é sabido, ambos os pilotos tocaram-se por duas vezes: a primeira, nos primeiros metros da corrida, quando ambos faziam a Eau Rouge, e Perez "entalou" Ocon contra o muro, sem grandes consequências.

Contudo, da segunda vez, mais ou menos no mesmo lugar, houve consequências mais pertinentes: o mexicano sofreu um furo e acabou nas boxes (e fez entrar o Safety Car para tirar os destroços que ficaram espalhados pela pista), enquanto que o francês ficou sem bico e teve de ir às boxes para trocá-lo, mas isso não o impediu de chegar ao fim no nono posto, conseguindo mais dois pontos para ele e para a equipa.

Claro, as faíscas voaram depois da prova. Ambos os pilotos trocaram de razões, e Ocon chegou a dizer nas redes sociais que "Perez tentou matar-me duas vezes", afirmando que a partir daquele momento, não falava mais com ele. Depois, o francês lá se acalmou, mas os estragos estão feitos.

Toda esta confusão fez com que o diretor da Force India, Otmar Szafnauer, tenha feito um aviso muito sério quer a Sergio Perez, quer a Esteban Ocon, admitindo a possibilidade de os suspender por uma corrida: “Se acontecer outra vez vamos ter de resolver isto. Vamos começar a pensar sobre quem vai guiar o carro”, comentou.

Vijay Mallya reforçou a posição do diretor da sua equipa: “A repetição de incidentes entre os nossos carros está agora a ser um assunto preocupante. Nestas circunstâncias não temos outra escolha senão adotar uma política de ordens de equipa, no interesse da segurança e para proteger a posição da equipa no Campeonato de Construtores”.

Com o passar do dia de segunda-feira, os pilotos conversaram acerca dos incidentes e chegaram à conclusão de que que muitas das coisas que foram ditas após a corrida foram “calor da ação e tendo em conta a situação perigosa", disse Ocon.
  
Depois, continuou:

Quero seguir em frente. Somos uma equipa e admiro o facto do meu companheiro de equipa se ter desculpado. Queremos trabalhar melhor em conjunto. Estou empenhado no sucesso da Force India e estou tão confiante quanto a equipa que o que se passou não nos vai deixar para trás e há ainda muitos êxitos para conseguirmos juntos. Vai ser um desafio manter esta quarta posição [no campeonato de Construtores] e ninguém nos desviará deste objetivo”.

A mesma coisa fez Sergio Perez na sua página oficial do Facebook, onde fez um video, explicando a sua versão dos acontecimentos e responsabilizando-se por qualquer incidente que tenha acontecido... com Nico Hulkenberg. Porque quando foi com Ocon, afirmou que ele, tendo a linha de corrida para ambos (ou seja, estava na frente), ele tinha a vantagem.

Ao fim e ao cabo, falamos de dois pilotos que querem o melhor, isso ninguém contesta. O que se contesta é a agressividade que ambos os pilotos têm na pista. E de uma certa forma, é a consequência daquilo que o Ayrton Senna disse na famosa entrevista a Jackie Stewart no fim de semana do GP da Austrália de 1990, onde disse a famosa frase "se não aproveitas a abertura, deixas de ser piloto de Formula 1". Como Senna virou deus, e tudo aquilo que disse virou "mantra", no final do dia, é isso que fazem, sem ter noção de que as coisas podem acabar mal. Ainda por cima, naquele lugar em Spa-Fracochamps, imediatamente antes de Eau Rouge e Radillon, onde os pilotos, quando saem de pista, saem à grande e... à belga! Mas tem consequências potencialmente graves.

E é nesta altura que pensamos se aquela equipa não será pequena demais para ambos os pilotos. Imagino uma coisa dessas numa Mercedes ou Ferrari, e os rios de tinta que seriam escritos entre ambos os pilotos. Eu, que vivi na infância e adolescência os eventos entre Alain Prost e Ayrton Senna na McLaren, lembro-me perfeitamente desses rios de tinta que foram escritos sobre eles, e como uns tomaram partido por este e aquele piloto. E também o ódio a Jean-Marie Balestre quando puxou pela sua costela francesa, protegendo Prost.

Mas neste caso, o ideal seria provavelmente cada um seguir o seu caminho, pois discipliná-los não parece ser a melhor politica. Continuarão a disputar pos posições como se não existisse mais o amanhã, ainda por cima numa equipa que este ano pontuou (quase) sempre, levando-a ao quarto lugar do campeonato de construtores, amealhando preciosos milhões para sustentar a equipa, que pareece fazer muito com... pouco.

Em suma: se a Force India ficar com os dois, eles tem de ser muito bem educados para se respeitarem em pista. Caso contrário, já sabem que veremos mais episódios envolvendo estes dois. 

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