terça-feira, 15 de março de 2022

A imagem do dia


Continuando com os tributos a Vic Elford, morto no domingo aos 86 anos, falo ainda de 1968, e do seu "annus mirabilis" onde triunfou em tudo que era máquina, em condições por vezes quase impossíveis, como no Targa Florio, onde recuperou de um furo para triunfar.

Parecendo que não, a sua carreira de "all rounder" tem uma passagem discreta pela Formula 1. Apenas 13 Grandes Prémios, entre 1968 e 1971. Mas a sua primeira corrida, em Rouen, teve uma participação digna de registo, num carro datado, numa equipa em declínio e numa corrida debaixo de chuva. E com (mais) uma morte na pista. 

Naquele ano, a Cooper estava em decadência. Apesar do motor Maserati V12, e de pilotos como John Surtees, Jochen Rindt e Pedro Rodriguez, em 1968, e mão podendo ter os motores Cosworth V8, decidiu ficar com os BRM V12. E com o velho chassis T86 a acusar o peso dos anos, e os bons resultados do inicio da temporada - Brian Redman e Lucien Biahchi conseguiram pódios - o outro piloto da marca, o italiano Ludovico Scarfiotti, sofreu um acidente mortal numa corrida de montanha na Alemanha.

Elford foi chamado para correr em Rouen, para substituir Scarfiotti, e quando chegou ao lugar onde se disputaria o GP de França, tinha já no seu currículo as vitórias em Monte Carlo, Daytona, e Targa Florio, mostrando a sua versatilidade. Contudo, sofreu nos treinos com o seu Cooper pouco fiável, acabando por largar na 18ª e última posição, subindo um lugar quando o Lotus de Jackie Oliver ficou danificado o suficiente para não poder correr.

Com todos concentrados no novo chassis da Honda, poucos olhariam para ele. E quando o Honda RA302 de Jo Schlesser, com o seu chassis de magnésio, pegou fogo na segunda volta, na Virage des Six Fréres, matando-o, poucos olhariam para o que iria fazer Elford a bordo desse carro. Andando bem à chuva, e usando os seus conhecimentos de condução, subiu paulatinamente na classificação, acabando nos pontos, num honroso quarto lugar, a duas voltas do jovem vencedor, o belga Jacky Ickx, no seu Ferrari.

Elford ficou para o resto da temporada, conseguindo ainda um quinto posto em Mont Tramblant, no GP do Canadá, um dos poucos sobreviventes e... a quatro voltas do vencedor, Dennis Hulme. E foi ele que assinou a última corrida da Cooper na Formula 1, quando o guiou no GP do México, acabando no oitavo lugar, a duas voltas do Lotus de Graham Hill, que triunfou no campeonato. 

Ainda houve mais um episódio com o chassis Cooper em 1969. Sem que a equipa arranjasse um patrocinador, nem um motor Ford Cosworth, eles fecharam portas, e os chassis firam bendidos em leilão. Um deles calhou ficar com Colin Crabbe, que negociava com carros antigos, e decidiu formar equipa, chamando Elford para guiá-lo. Último, com 8,2 segundos a mais que o "poleman" Jackie Stewart, ele conseguiu sobreviver chegando ao sétimo - e último posto - a seis voltas do vencedor. Na corrida a seguir, Crabbe arranjou um chassis McLaren e ele lá pontuou mais duas vezes, antes de um acidente no Nordschleife o deixou de fora durante algumas semanas, terminando por ali a sua carreira na categoria máxima do automobilismo.    

Sem comentários: