quinta-feira, 6 de setembro de 2007

GP Memória - Itália 1970

Este Grande Prémio é recordado pelas piores razões. Foi a corrida que viu desaparecer aquele que iria ser o Campeão do Mundo daquele ano, mas também foi a corrida que viu ganhar pela primeira vez um piloto que iria ser muito falado nos anos seguintes, e que aqui estava apenas no seu quinto Grande Prémio da sua carreira: Clay Regazzoni.


Quando o Grande Circo da Formula 1 chega a Monza, o austríaco Jochen Rindt era o piloto dominador do campeonato, com 45 pontos. Tinha ganho cinco corridas, quatro delas consecutivas, e tinha uma confortável margem em relação à concorrência. Bastava apenas ter uma boa pontuação numa das quatro corridas que faltavam para ser Campeão do Mundo.


A Lotus levava para Monza três carros modelo 72C para Rindt, John Miles e a nova estrela da equipa: um jovem brasileiro de 23 anos, de seu nome Emerson Fittipaldi. O carro era radical, e muito eficiente. Rindt, depois das reticências iniciais, estava até a gostar do carro…


Contudo, o maior rival da Lotus era a Ferrari. O seu modelo 312B era um excelente carro, e Jackie Ickx tinha-o demonstrado, ao conseguir 15 pontos nas duas últimas 2 corridas (2º na Alemanha, vitória na Áustria). Para secundar Ickx, dois prometedores pilotos: o suíço Gianclaudio “Clay” Regazzoni (1939-2006) e o italiano Ignazio Giunti (1940-1971).


Quando começaram os treinos classificativos de sexta-feira, Os Lotus eram anormalmente lentos em relação à concorrência: Ickx, Regazzoni e Giunti eram os primeiros, o March de Jackie Stewart e o BRM de Pedro Rodriguez eram quarto e quinto, enquanto que Rindt era sexto. Rindt queria guiar a versão 49, mas Chapman não deixou, decidindo em vez disso trocar o motor, e concordou com a decisão de Rindt em tirar as asas traseiras. O austríaco diria depois: “Sem as asas faço mais 800 RPM nas rectas, e sem ir no vácuo de outro”. Já o outro piloto da marca, John Miles, achou a ideia uma loucura e decidiu manter as asas.


Sábado, 5 de Setembro de 1970. Começam as qualificações. Jochen Rindt tenta por todos os meios ultrapassar a Ferrari na sua própria casa. Sem as asas, ganha velocidade de ponta, mas tem dificuldades para curvar, algo que para ele não deixava de estar habituado. Primeiro faz de modo cauteloso, e depois a toda a velocidade. A meio da qualificação, Rindt chega à recta oposta à meta, e ultrapassa o McLaren de Dennis Hulme, em direcção da Curva Parabólica. Quando chega à altura de travar, um dos veios de travão cedeu e Rindt perde o controlo do seu Lotus, chocando de frente com os rails.


Mas num acaso trágico, o Lotus 72C bate no preciso sítio onde há um pilar de ferro que serve de suporte ao rail duplo. Essa parte absorve todo o impacto e o piloto, que tinha apenas apertados os cintos de cima (ele tinha recentemente aderido ao cinto de quatro pontos, mas nunca os usava) Por causa disso, o corpo de Rindt deslizou para baixo, partindo as pernas e os braços e rompendo fatalmente a traqueia.


Os socorristas acudiram-no imediatamente, e ainda vivia. Mas o socorro foi um desastre: sem um helicóptero na pista, em vez de o levar para o centro médico do circuito, para estabilizá-lo e dar os primeiros socorros, levaram-no directamente de ambulância para o Hospital Central de Milão, que ficava a uns 40 km. Mas quando chegaram, já era demasiado tarde: Rindt estava morto.


Colin Chapman decide então retirar os seus carros da corrida, e Icxx faz facilmente a pole-position com o BRM de Rodriguez em segundo. Regazzoni e Stewart foram terceiro e quarto na grelha. A corrida começa com Ickx na frente, a controlar o andamento da concorrência. Na volta 25, a transmissão de Ickx cede e o comando passa para as mãos do seu companheiro Regazzoni. Essa liderança não será mais largada até ao final, apesar das pressões de Stewart e de Jean-Pierre Beltoise, que completaram o pódio.



No final da corrida, a multidão invadiu a pista para celebrar a vitória de um piloto da casa. Mas os acontecimentos do dia anterior tinham definitivamente ensombrado o clima de festa, e um novo problema tinha sido levantado: será que iriam coroar como campeão do mundo um piloto agora morto?…

1 comentário:

Monocromático disse...

Lendo os posts recentes de baixo para cima, este daqui parece fechar bonito a biografia gloriosa e trágica de Jochen Rindt.