domingo, 5 de junho de 2011

Mais algumas achegas sobre o assunto barenita

Neste domingo surgiram dois artigos interessantes sobre a polémica do GP do Bahrein. O primeiro, vindo do blog de James Allen, fala que as equipas acolheram a decisão da FIA de reinstalar o GP do Bahrein, a 30 de outubro, com um silêncio prudente e uma declaração de que se vão encontrar no fim de semana de Montreal para falar, em nome da FOTA, sobre este assunto. Por agora, não abrem muito a boca, num sinal de prudência, mas pode-se apreender que algo mais poderá estar a vir nesses dias.

Uma indicação poderá vir de Eric Boullier, o diretor desportivo da Renault, que reafirma a posição defendida ao longo do ano: "Sobre este assunto, já falei qual é a posição da equipa: estaremos no Bahrein desde que hajam garantias que a nossa segurança e a das pessoas que lá vivem esteja garantida". Uma posição no minimo ambígua.

As equipas até poderão se conformar com a posição da FIA sobre o Bahrein, mas também tem outra posição polémica do qual poderão provavelmente bater o pé com mais firmeza: o fato do GP da India, agora a última corrida do ano, ser disputada a 11 de dezembro, a meras duas semanas do Natal, algo que as equipas não estão nada a favor, pois faria com que os seus funcionários praticamente não tivessem férias, já que em principio, o calendário de 2011 começará em fevereiro com os testes de pré-época, e o campeonato de 2012 começará em março... no Bahrein, numa competição que terá 21 provas... mais uma que aquilo que está estabelecido no Pacto de Concórdia.

Para tentar "dourar a pílula", a FOM lançou uma comuinicado oficial afirmando que as receitas diretas, provenientes dos organizadores, poderão alcançar a astronómica figura de três mil milhões de dólares em 2016, em comparação com os 1500 milhões de euros que conseguiram em 2010. Feitas as contas, James Allen afirma que alguns circuitos poderão dar aos cofres da FOM (e os bolsos de Bernie Ecclestone) a astronómica soma de... 100 milhões de dólares por ano. Só para terem um exemplo, Abu Dhabi dá, segundo se diz, cinquenta milhões de dólares. E o Bahrein, 40 milhões.

Basicamente, Ecclestone e a FOM estão a partir do principio que todos irão pagar e "não bufar". Mas como se murmura de forma cada vez mais insistente, há cada vez mais paises que não tem capacidade de pagar as crescentemente astronómicas exigências da FOM, especialmente na Europa. E mesmo que digam que as doze equipas poderão receber, no seu todo, 1575 milhões de dólares nesse ano, para alcançar esse objetivo, provavelmente a Formula 1 deixará de ser europeia e vai ser mais uma competição da zona do Golfo, com algumas corridas no Velho Continente só para atrair os "novos ricos" que são capazes de gastar cem milhões de dólares sem pestanejar. Uma Angola ou um Cazaquistão, por exemplo.

Francamente, no papel está tudo bonitinho, mas o que se garante que em 2016 haja a Formula 1 como nós a conhecemos? Pelo andar da carruagem, esse futuro que a FOM anda a desenhar seja mais uma de fantasia...

Voltando ao assunto Bahrein, o segundo artigo do dia vem de Joe Saward, que coloca no seu blog uma descrição brutal de um habitante local às mãos das forças de segurança. Essa descrição apareceu na edição de hoje do jornal britânico The Independent, e o fatos relevantes são dois: a pessoa é xiita e era membro do BIC, Bahrein International Circuit.

Traduzi o relato para português no sentido de vocês o poderem ler. Se quiserem ler o original no blog do Joe, podem seguir este link:

"Este é o relato de um membro xiita do Circuito Internacional do Bahrein (CIB), que organiza o Grande Prémio, e que foi preso no passado mês de abril. Ainda a sofrer das feridas sofridas pelos seus torturadores, já abandonou o país, mas quer manter o anonimato. Assim sendo, vamos chamá-lo pelas iniciais A.B.

A via-sacra de A.B. começou na manhã de 7 de abril, quando três carros cheios de membros das forças de segurança chegaram ao CIB. Percorreram andar a andar, escritório por escritório, procurando por pessoas que vinham numa lista que tinham nas suas mãos. Quando chegaram à porta do seu escritório, chamaram pelo seu nome e arrastaram-no e bateram-no ao longo do corredor. Ele afirma que pelo menos outros 23 membros do CIB foram presos nesse dia.

Esses membros foram vendados, algemados com um cabo elétrico e levados para a esquadra de Riffa West. ali chegados, foram levados para uma sala onde durante horas, foram espancados com cabos e paus. Estavam a ser acusados de terem celebrado o cancelamento do Grande Prémio. A.B. negou isso, afirmando que dependia deste emprego para viver e que não tinha interesse no cancelamento do Grande Prémio.

Depois, A.B. foi levado para interrogatório, onde foi questionado sobre a quantidade de vezes que tinha ido à Praça das Pérolas, o centro dos protestos pró-democracia. Ele dissera que só tinha ido duas vezes, mas foi forçado pelo oficial presente que tinha lá ido pelo menos umas vinte vezes. Numa altura do interrogatório, o oficial colocou a cabeça de A.B. no meio das suas pernas e voltou-o, fazendo perder a sua consciência por momentos. Mesmo assim, os espancamentos continuavam, chamando de "filho de uma muta'a" - uma forma de casamento temporário no xiismo - e de "filho da p***".

Pelas sete da tarde daquele dia, foi obrigado a tirar as suas roupas e continuaram a bater nele de forma severa. Os pulsos estavam tão inchados devido aos espancamentos e às algemas que lhe tinham sido colocadas. A.B. estava numa sala com mais vinte pessoas, onde dormiam nus, sem cobertores, e o ar condicionado era colocado ao nivel do chão para que eles não pudessem dormir devido ao frio.

Os tratamentos duraram três dias até que o transferiram para outra prisão, na Doca Seca. Ali, o tratamento foi melhor, pois não era nem espancado ou torturado. Deram-lhe protetor solar e o ordenaram para que se bronzeasse durante vinte dias para que as cicatrizes das torturas fossem apagadas. Passado esse tempo, foi libertado, mas antes teve de assinar papéis, proibindo-o de falar com jornalistas ocidentais.

Hoje em dia, ainda sofre de ataques de ansiedade e paranoia, bem como dormência nas mãos."

Acho que depois de relatos como estes, podem entender que tipo de regime é que vigora por aquelas bandas. E a razão pelo qual a Formula 1 vai lá: costuma ser retangular e na América são verdes...

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