quinta-feira, 2 de abril de 2015

Este mês, no Nobres do Grid...

(...) Ducarouge sempre elogiou os pilotos com quem trabalhou e os patrões. De Guy Ligier guardava carinho, apesar da sua personalidade algo colérica, e contou que sempre detestou o JS5, o primeiro chassis da marca na Formula 1. Especialmente a sua enorme entrada de ar, que o batizou de “barrete frigio”, lembrando o chapéu usado na Revolução Francesa. Trabalhou com ele entre 1975 e 1981, saindo quando a equipa estava no auge.

Da Alfa Romeo, onde trabalhou de 1981 e 1983, guarda sempre a ideia de que Carlo Chiti nunca gostou dele e fez de tudo para o correr de lá, especialmente depois de ele ter imposto algumas regras dentro do atelier da Autodelta, que irritou o engenheiro italiano. E ele falou que muitas das informações que ia para na imprensa especializada eram obra do próprio Chiti, com o objetivo de o denegrir aos olhos dos italianos. Quando descobriu a marosca, foi ter com o diretor de uma dessas revistas, a “Rombo”, e convenceu-o a dar a volta. E até ao fim dos seus dias, ficou convencido que o incidente do extintor no carro de Andrea de Cesaris, nos treinos do GP de França de 1983, e que rendeu o seu despedimento, foi uma armadilha montada por Chiti para o colocar fora dali.

Da Lotus, Ducarouge revelou que Colin Chapman o tentou contratar após a sua saída da Ligier, mas ele recusou. Quando voltou de novo, a convite de Peter Warr, na primavera de 1983, encarou como se fosse uma missão e pediu aos seus trabalhadores se poderiam fazer um carro novo no menor tempo possível. O nascimento do chassis 94T durou um mês inteiro, com todos a trabalhar por turnos, de foco quase esclavagista, mas todos com um sentido de missão, para provar que tinham vida após o desaparecimento de Colin Chapman, seis meses antes. No final, o carro ficou pronto a tempo do GP da Grã-Bretanha, em Silverstone, e Nigel Mansell conseguiu levar o seu carro do 21º lugar da grelha até ao quarto posto final… e segundo o projetista, sem ele poder ter dado qualquer volta antes daquele fim de semana! Sem dúvida, um feito pouco conhecido do “brutânico”.

Ducarouge guardava um enorme carinho por Ayrton Senna, de tal forma que sempre sentiu o desgosto de não lhe poder ter dado um carro campeão para ele. E mesmo nos seus últimos tempos de vida, falar sobre ele causava dor no coração, pela intimidade e empatia que ambos tiveram. Em claro contraste, em 1988, quando trabalhou com Nelson Piquet, sentiu que ele era hostil a tudo que Senna tinha tocado, chegando ao ponto de ele pedir a Ducarouge para que tirasse um quadro dele no seu gabinete! (...)

Este mês, a minha coluna no site Nobres do Grid é dedicado a Gerard Ducarouge, projetista francês falecido no passado dia 19 de fevereiro, aos 73 anos de idade. Apesar da sua personalidade discreta, Ducarouge marcou vinte anos de automobilismo, primeiro na Endurance e depois na Formula 1, desenhando carros como o Ligier JS5, o Alfa Romeo 183T e o Lotus 98T, entre outros, que marcaram os anos 70 e 80 do automobilismo. Ali falo das relações com outros pilotos, com patrões como Carlo Chiti e Guy Ligier, de como teve um mês para desenhar um novo carro na Lotus e como Enzo Ferrari, em meados da década de 80, o tentou aliciar para a sua equia, mesmo afirmando que tambem contrataria Ayrton Senna, o piloto com quem teve, provavelmente, a relação mais especial.

Tudo isso, e mais alguma coisa, podem ler este mêsno Nobres do Grid, a partir deste link

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