Passam hoje exatamente 20 anos sobre o momento em que Portugal entrou na história da Formula 1. Não tanto em termos de circuitos - isso já tinha sido feito em 1958, na Boavista - mas sim quando um piloto chegou aos pontos num Grande Prémio de Formula 1. E para o próprio piloto, este desfecho foi o culminar de algo que começou em maio de 1994.
Campeão da Formula 3 alemã em 1992, vice-campeão da Formula 3000 em 1993, Pedro Lamy chegou à categoria máxima do automobilismo em setembro desse ano, pela Lotus, que procurava um substituto para Alex Zanardi, que se tinha lesionado no GP da Bélgica desse ano. A estreia de Lamy aconteceu em Monza, e não comprometeu, conseguindo andar ao nível do seu companheiro, Johnny Herbert. E a mesma coisa iria acontecer no inicio de 1994, com um oitavo lugar no GP do Pacifico, que naquela altura ainda não dava pontos.
Mas a 24 de maio de 1994, o desastre aconteceu quando perdeu o controlo do seu Lotus no circuito de Silverstone. Nunca houve fotos, mas uma descrição desse dia indicava que a asa traseira se soltou, e ele embateu numa ponta na zona de Abbey, destruindo o carro, indo parar fora da pista. Lamy, então com 22 anos, partiu ambas as pernas e deitou fora o resto da sua temporada.
A partir dali, foi mais de um ano de reabilitação, com o objetivo único de regressar à Formula 1. Uma reabilitação feita na Alemanha e na Áustria, no sentido de ficar em forma o melhor possível e tentar a sua sorte na categoria máxima do automobilismo, numa espécie de contas por soldar. E isso aconteceu a meio de 1995, quando substituiu Pierluigi Martini. E com o Minardi do fim da tabela - apenas melhor do que Forti e Pacific - conseguiu alguns resultados meritórios, como um nono posto em Budapeste e Nurburgring.
Mas foi em Adelaide que foi a sua corrida. 17º na grelha, dois lugares abaixo de Luca Badoer, seu companheiro de equipa, suportou o calor australiano e uma pista citadina em que, se saisse fora da linha, era capaz de se despistar a bater na parede. Nem sempre conseguiu escapar das armadilhas - despistou-se a meio da corrida, mas pode prosseguir - conseguiu no final um meritório sexto posto, a três voltas do vencedor, Damon Hill. Foi uma grande festa na boxe, pois não pontuavam desde o GP de França de 1994, quando Pierluigi Martini acabou a corrida no quinto posto.
Houve consequências: a FIA deu-lhes dinheiro para a equipa, os custos de transporte foram aliviados, pois entraram no "top ten", e o piloto português pode ficar mais uma temporada na marca sem problemas. E 1996 foi a sua primeira temporada a tempo inteiro na equipa de Faenza. E a última...
Mas não fazia mal, pois tinha entrado na história da Formula 1, e do automobilismo deste país. Vinte ano depois, este piloto com cara de garoto ainda dá cartas na Endurance, ao serviço da Aston Martin, e é considerado como um dos melhores veteranos, com uma rica carreira, que teve também passagens pela Endurance, com dois segundos lugares nas 24 Horas de Le Mans.
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