sábado, 9 de janeiro de 2016

The End: Maria Teresa de Filippis (1926-2016)

A italiana Maria Teresa de Filippis, a primeira mulher a pilotar um Formula 1 e a alinhar num Grande Prémio, em 1958, morreu hoje aos 89 anos. As causas da sua morte não são conhecidas, mas sabia-se que estava doente desde há algum tempo. 

Filippis alinhou em quatro corridas na temporada de 1958 com um Maserati 250F, sempre por inscrição própria, excepto no GP de Portugal, que decorreu no circuito urbano da Boavista, onde alinhou com um carro inscrito pela Scuderia Centro Sud. Tornou-se na primeira de um clube muito pequeno: depois dela, apenas mais quatro mulheres tentaram alinhar num Grande Prémio de Formula 1: as italianas Lella Lombardi e Giovana Amati, a inglesa Divina Galica e a sul-africana Desirée Wilson. E ainda mais extraordinário por ser mulher, alinhou num tempo em que a sociedade era ainda mais machista que é agora, e onde os pilotos jogavam com a vida ao correr a alta velocidade: esse foi o ano em que morreram Luigi Musso, Peter Collins e Stuart-Lewis Evans, e no inicio do ano seguinte, Mike Hawthorn

Nascida de uma família abastada em Nápoles, Filippis começou por se dedicar à equitação antes de se virar para os automóveis. E isso aconteceu por causa de... uma aposta. Aos 22 anos de idade, dois dos seus irmãos apostaram que ela não seria capaz de ir mais veloz numa prova de montanha. Alinhou com um Fiat 500 numa subida entre Salerno e Cava de Tirreni e ela acabou por ganhar. Nos anos seguintes, alinhou em várias provas de Turismos, terminando como vice-campeã italiana em 1954, o suficiente para que a Maserati a contratasse como piloto de fábrica para os carros de Sport.

Nos três anos seguintes, De Filippis conseguiu alguns resultados de relevo, especialmente na Endurance, onde conseguiu ser segunda classificada numa corrida de suporte do GP de Napoles, a bordo de um Maserarti 200S. E no final de 1957, decidiu que iria tentar a sua sorte na Formula 1.

Com um Maserati 250F nas suas mãos, tentou a sua sorte no GP do Mónaco, a segunda prova do ano (a primeira tinha sido na Argentina), mas com 31 inscritos para 16 lugares, as chances eram bem pequenas. Juan Manuel Fangio disse-lhe que ela estava a fazer as curvas "demasiado depressa" e que estava a tomar "demasiados riscos". No final, não conseguiu qualificar-se, arrancando um tempo cinco segundos mais lento do que o "poleman", mas nesses tempos, até era um resultado digno.

Tentou depois a sua sorte em Spa-Francochamps, onde foi a última a qualificar-se e a última a acabar, na décima posição. Mas em Reims, palco do GP de França, sofreu com o machismo dominante: a sua inscrição fora recusada. Anos depois, ela afirmou que quem a recusou foi o diretor de corrida, afirmando que "o único capacete que uma mulher deveria usar era o do cabeleireiro". Mesmo assim, continuou, voltando a competir no GP de Portugal, inscrita pela Scuderia Centro Sud. Qualificou-se na 15ª (e última) posição, mas acabou por se retirar na volta seis, vitima de um problema de motor. Correu também em Monza, qualificando-se na 21ª e última posição, mas a sua corrida acabou na volta 57, por causa de um problema de motor.

De Filippis voltou a tentar a sua sorte no GP do Mónaco de 1959, a bordo de um Behra-Porsche de Formula 2, mas não conseguiu se qualificar. Continuou a correr em provas de Sport, mas a morte de Jean Behra, em agosto, fez com que ela tomasse a decisão de se retirar de vez e constituir família, casando-se em 1960. Quase vinte anos depois, em 1979, regressa ao automobilismo ao juntar-se ao International Club of Former Formula 1 Drivers, e nos últimos anos tem sido vista nas várias reuniões de clássicos, onde chegou a andar várias vezes no Maserati que a tornou famosa.

Depois da aventura de De Filippis, a Formula apenas voltaria a ver uma mulher ao volante em 1974, com outra italiana, Lella Lombardi, onde conseguiu ser a única a pontuar, no GP de Espanha de 1975. Agora, tal como ela, fazem parte da história. Ars lunga, vita brevis.

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