Muitos deles, provavelmente, eram crianças quando tudo isso aconteceu.
O facto de ter chovido nesse dia até parecia uma bênção dos céus, e chegaram a colocar o carro numa das curvas, à chuva, porque aquele carro sofrera uma avaria num dos seus componentes - a bomba de óleo, que não podia ser reparado a tempo - mas isso não impediu a presença de Bruno Senna e Clive Chapman, nomeadamente, o sobrinho de Senna e o filho de Colin Chapman, o fundador da Lotus, pois o carro estava na posse da Classic Team Lotus, e já tinha andado, alguns dias antes, em Goodwood.
A coisa era para ser algo discreto, mas com a passagem das pessoas pelo autódromo, nos dois dias em que lá esteve, transformou algo que iria ser pouco mais que simbólico para algo que tocou fortemente nas pessoas que trabalham na Classic Team Lotus, alguns deles também estiveram ali em 1985, naquele domingo chuvoso de primavera.
Aliás, o próprio Clive Chapman disse da importância daquela vitória na história da equipa, na entrevista à Autosport portuguesa, no Estoril:
"É uma grande emoção. Temos aqui uma fotografia na parede da Team Lotus em 1985, com o carro e com o Elio [de Angelis] em Ketteringham Hall… Pensamos em todo o trabalho que foi investido naquele carro. A minha mãe era a diretora da equipa na altura porque o meu pai tinha falecido três anos antes. Ela decidiu manter a equipa viva, com Peter Warr, o diretor da equipa, e todos permaneceram unidos com um objetivo: voltar a vencer.”, começou por afirmar.
“Ganhar numa corrida tão difícil, tão cedo na época, foi extraordinário. O Ayrton não só venceu — fez a pole position, a volta mais rápida, liderou cada volta da corrida e terminou com mais de um minuto de vantagem. Ele deu uma volta a todos, menos ao segundo classificado. Isso não acontece todos os dias.”
“Temos outra imagem icónica: a equipa a saltar de alegria quando o Ayrton cruza a meta. Foi a última vez que a FIA permitiu que os mecânicos estivessem na pista a celebrar, porque o Nigel Mansell teve de desviar-se deles em plena reta e ainda foi à relva. Foi um momento caótico, arriscado… mas absolutamente inesquecível. Kenny Szymanski, o tipo dos pneus que aparece a festejar nas fotos, veio de Nova Iorque. Ontem à noite, em Cascais, num bom restaurante local, estava ali sentado com quatro membros da equipa na altura. Estava a ouvi-los a recordar e partilhar esse momento novamente. Sentimo-nos honrados. Temos o privilégio de estar lá e ouvir as suas histórias e é fantástico.”
“Durante dois anos e meio, a equipa viveu num estado de luto silencioso. O meu pai morreu de forma súbita. Foi traumático, mas não houve tempo para parar. Na Fórmula 1, tem-se de continuar. A minha mãe assumiu o risco de manter a equipa, mas quase todos permaneceram na estrutura. Mas aquela vitória… foi como uma libertação. Um momento de catarse. Acho que foi aí que a emoção da perda do meu pai finalmente se soltou dentro da equipa.”
“O Ayrton era um talento inacreditável, mas também um líder. Era muito consciente da importância da equipa. Sabia que precisava deles para alcançar os seus objetivos, mas, ao mesmo tempo tinha uma enorme determinação pessoal — ele sabia que podia ser campeão do mundo, e não queria desperdiçar essa oportunidade.”
E questionado sobre como seria a relação entre os dois, Clive não hesitou: seria... atribulado.
“O Ayrton tinha um caráter forte e, embora ciente da importância da equipa, também entendia a importância de se aperceber das suas capacidades. Ele sabia que podia ser campeão. O meu pai olhava para a equipa como um todo e o piloto era mais um membro. A equipa estava sempre em primeiro lugar. Teria sido uma relação picante. Mas creio que o Peter Warr foi a pessoa certa para lidar com o Ayrton. O Peter tinha mais capacidade de encontrar compromissos.”
“A 97T é lindo, mas exige muito. No domingo em Goodwood, por exemplo, estava tudo perfeito… e de repente o motor falhou. Dá-se aquele baque no coração. Mas mesmo assim, vale a pena. Fazemos isto porque adoramos. Não para mostrar, não por dinheiro. Simplesmente porque estes carros merecem viver.”
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