Eu gostaria de perguntar a quem tem 40 anos ou mais: ainda se lembram do que faziam a 10 de Setembro de 1972, quando Emerson Fittipaldi ganhou para o Brasil o seu primeiro título mundial? Eu não posso responder a isso porque não era nascido, mas se existisse nessa altura, acho que comemorava a sério...
Pois é... já passaram 35 anos, e o Brasil ganhou mais grandes pilotos: Pace, Piquet, Senna, Barrichello, Massa... viu a aventura do Copersucar e lembra-se perfeitamente o que fazia a 1 de Maio de 1994... mas o Autódromo de Monza assistiu em 1972 à consgração de um grande talento vindo dos trópicos, e que tinha sido um digno sucessor de Jim Clark e Jochen Rindt. E aos 25 anos, iria ser o mais jovem campeão do mundo: Emerson Fittipaldi.
Mas vamos contextualizar o que se passava então: O campeonato do mundo de 1972 estava a ser dominado pela Lotus. A versão 72D era o culminar de dois anos de trabalho de Colin Chapman em se manter na vanguarda da tecnologia, e na frente construtores de Formula 1, contra os rivais Tyrrell e Ferrari. No Grande Prémio anterior, na Austria, Fittipaldi tinha ganho pela quarta vez na temporada, fazendo com que a liderança do piloto brasileiro fosse enorme: 52 pontos contra 27 de Jackie Stewart e Dennis Hulme, e 25 de Jacky Ickx. Para ele, bastava ser quarto em Monza para alcançar um inédito título mundial para o Brasil.
Entretanto, os organizadores do circuito de Monza tomaram uma decisão importante: depois de mais uma chegada ao milímetro no ano anterior, e de saber que tinha sido alcançada a mais alta média de sempre numa corrida (que só seria batida mais de 30 anos depois), os organizadores decidiram colocar chicanes em três sítios da pista: no final da recta, na zona posterior à entrada no anel de velocidade, a meio caminho entre a Curva Grande e a primeira Lesmo, e na Variante Ascari.
O cenário estava montado. Mas tudo poderia ter acabado… antes de começar. Na terça-feira do Grande Prémio, o camião da Lotus teve um desastre na zona dos Alpes e o Lotus 72D que lá ia dentro não era recuperável. Com poucos dias para os treinos oficiais, Chapman pegou nas partes de outro carro e reconstruiu um novo chassis. Foi uma tarefa titânica, mas tudo estava pronto antes do fim-de-semana. Nos treinos, Jacky Ickx foi o melhor, seguido por Chris Amon, no seu potente Matra. Na segunda fila ficaram os dois maiores pilotos de então: Jackie Stewart e Emerson Fittipaldi. Na verdade, o brasileiro nem se esforçou muito, pois não era necessário, e também estava a guiar um carro reconstruído.
No dia da corrida, nova ameaça no horizonte: Quando levavam o carro para a grelha, os mecânicos da Lotus detectaram um vazamento no depósito de gasolina, suficiente para impedir Fittipaldi de correr. Tinham pouco mais de meia hora para reparar, mas a sua competência veio ao de cima: o problema foi resolvido e o brasileiro pode alinhar.
Quando a corrida começou, Icxx e Amon foram para a frente, enquanto que Stewart ficava parado na grelha com a transmissão partida. O primeiro rival de Emerson ficava de fora. A corrida continuava, com Fittipaldi a controlar as coisas, na terceira posição, enquanto que Ickx e Amon escapam-se, decididos a lutar pela liderança. O belga manteve a dianteira, e quando os travões do Matra do piloto neozelandês falharam, na volta 38, nada podia parar o piloto belga da sua segunda vitória naquele ano.
Mas… na volta 46, uma pane eléctrica no seu Ferrari faz com que tenha de desistir e dar o triunfo ao piloto brasileiro. As suas (já) ténues chances de alcançar o título foram por água abaixo, e Fittipaldi, que precisava apenas de ser quarto para se sagrar Campeão do Mundo… estava a caminho da vitória!
E assim foi. Quando cortou a meta, um Colin Chapman eufórico comemorava à sua maneira mais uma vitória e o triunfo de Fittipaldi e do seu Lotus 72D. O Brasil delirava com o seu novo campeão como se tivesse conquistado de novo o Campeonato do Mundo de futebol, e Emerson estava eufórico. Tudo aquilo que quis tinha alcançado. A acompanhá-lo no pódio foram o britânico Mike “The Bike” Hailwood, num Surtees (o melhor resultado de sempre da equipa) e o neozelandês Denny Hulme, num McLaren. Uma curiosidade final: esta foi a última prova de John Surtees, no carro que levava o seu nome, não terminou a corrida.
5 comentários:
Reparem bem na foto do Surtees que não era o modelo TS9B na pista. Já era o TS14, o carro construído para o Mundial de 1973, o recordista de quebra de suspensões e que deu a Carlos Pace, o inesquecível Moco, seu primeiro pódio na Fórmula 1.
Eu também não era nascida na época, mas Emerson merece todas as homenagens. Fizemos um videozinho lá no F1 Girls para homenagea-lo. E nao sei pq o link pro teu blog nao constava ainda no nosso site, esse "problema" foi solucionado já, viu? Parabéns, eu gosto mutio do Continental.
Se isso for verdadeiro, então entando agora a inscrição unica do John Surtees para esta corrida final...
Emerson abriu o caminho e abriu lindamente.
Estreou em Julho de 1970 e, em Setembro de 1972, era o primeiro brasileiro campeão do mundo.
Emerson só fez as temporadas de 71, 72, 73, 74 e 75, pois em 1976 foi para sua própria equipe. O balanço é altamente positivo e a inacreditável vitória de James Hunt, em 1976, com a McLaren que o Emerson acertou, prova que ele seria tri em 1976, se não fosse para a equipe Fittipaldi.
A narração do "barão", pela JovemPan, é épica: o pai narrando o filho ser o primeiro brasileiro campeão do mundo de F1 foi o máximo. Além de ficar histérico de alegria (muito justamente), Wilson Fittipaldi pai abandonou a cabine, deixando a narração por conta do português Domingos Piedade, para ir cumprimentar o Emerson, num momento maravilhoso, de improviso e emoção.
A Lotus preta, da John Player Special, é mítica e ficou mítica nas mãos de Emerson.
Parabéns ao Emerson e obrigado por abrir o caminho do que virou a paixão de nós brasileiros, nas décadas seguintes.
Eu tinha 11 anos e curti esse momento mágico, num domingo de manhã, ouvindo rádio!!
Olá speeder
Só uma correção: o Emerson largou em sexto, não em quarto.
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