segunda-feira, 10 de setembro de 2007

GP Memória - Itália 1972, 35 anos depois

Eu gostaria de perguntar a quem tem 40 anos ou mais: ainda se lembram do que faziam a 10 de Setembro de 1972, quando Emerson Fittipaldi ganhou para o Brasil o seu primeiro título mundial? Eu não posso responder a isso porque não era nascido, mas se existisse nessa altura, acho que comemorava a sério...


Pois é... já passaram 35 anos, e o Brasil ganhou mais grandes pilotos: Pace, Piquet, Senna, Barrichello, Massa... viu a aventura do Copersucar e lembra-se perfeitamente o que fazia a 1 de Maio de 1994... mas o Autódromo de Monza assistiu em 1972 à consgração de um grande talento vindo dos trópicos, e que tinha sido um digno sucessor de Jim Clark e Jochen Rindt. E aos 25 anos, iria ser o mais jovem campeão do mundo: Emerson Fittipaldi.


Mas vamos contextualizar o que se passava então: O campeonato do mundo de 1972 estava a ser dominado pela Lotus. A versão 72D era o culminar de dois anos de trabalho de Colin Chapman em se manter na vanguarda da tecnologia, e na frente construtores de Formula 1, contra os rivais Tyrrell e Ferrari. No Grande Prémio anterior, na Austria, Fittipaldi tinha ganho pela quarta vez na temporada, fazendo com que a liderança do piloto brasileiro fosse enorme: 52 pontos contra 27 de Jackie Stewart e Dennis Hulme, e 25 de Jacky Ickx. Para ele, bastava ser quarto em Monza para alcançar um inédito título mundial para o Brasil.


Entretanto, os organizadores do circuito de Monza tomaram uma decisão importante: depois de mais uma chegada ao milímetro no ano anterior, e de saber que tinha sido alcançada a mais alta média de sempre numa corrida (que só seria batida mais de 30 anos depois), os organizadores decidiram colocar chicanes em três sítios da pista: no final da recta, na zona posterior à entrada no anel de velocidade, a meio caminho entre a Curva Grande e a primeira Lesmo, e na Variante Ascari.


O cenário estava montado. Mas tudo poderia ter acabado… antes de começar. Na terça-feira do Grande Prémio, o camião da Lotus teve um desastre na zona dos Alpes e o Lotus 72D que lá ia dentro não era recuperável. Com poucos dias para os treinos oficiais, Chapman pegou nas partes de outro carro e reconstruiu um novo chassis. Foi uma tarefa titânica, mas tudo estava pronto antes do fim-de-semana. Nos treinos, Jacky Ickx foi o melhor, seguido por Chris Amon, no seu potente Matra. Na segunda fila ficaram os dois maiores pilotos de então: Jackie Stewart e Emerson Fittipaldi. Na verdade, o brasileiro nem se esforçou muito, pois não era necessário, e também estava a guiar um carro reconstruído.


No dia da corrida, nova ameaça no horizonte: Quando levavam o carro para a grelha, os mecânicos da Lotus detectaram um vazamento no depósito de gasolina, suficiente para impedir Fittipaldi de correr. Tinham pouco mais de meia hora para reparar, mas a sua competência veio ao de cima: o problema foi resolvido e o brasileiro pode alinhar.


Quando a corrida começou, Icxx e Amon foram para a frente, enquanto que Stewart ficava parado na grelha com a transmissão partida. O primeiro rival de Emerson ficava de fora. A corrida continuava, com Fittipaldi a controlar as coisas, na terceira posição, enquanto que Ickx e Amon escapam-se, decididos a lutar pela liderança. O belga manteve a dianteira, e quando os travões do Matra do piloto neozelandês falharam, na volta 38, nada podia parar o piloto belga da sua segunda vitória naquele ano.


Mas… na volta 46, uma pane eléctrica no seu Ferrari faz com que tenha de desistir e dar o triunfo ao piloto brasileiro. As suas (já) ténues chances de alcançar o título foram por água abaixo, e Fittipaldi, que precisava apenas de ser quarto para se sagrar Campeão do Mundo… estava a caminho da vitória!


E assim foi. Quando cortou a meta, um Colin Chapman eufórico comemorava à sua maneira mais uma vitória e o triunfo de Fittipaldi e do seu Lotus 72D. O Brasil delirava com o seu novo campeão como se tivesse conquistado de novo o Campeonato do Mundo de futebol, e Emerson estava eufórico. Tudo aquilo que quis tinha alcançado. A acompanhá-lo no pódio foram o britânico Mike “The Bike” Hailwood, num Surtees (o melhor resultado de sempre da equipa) e o neozelandês Denny Hulme, num McLaren. Uma curiosidade final: esta foi a última prova de John Surtees, no carro que levava o seu nome, não terminou a corrida.

5 comentários:

Rodrigo Mattar disse...

Reparem bem na foto do Surtees que não era o modelo TS9B na pista. Já era o TS14, o carro construído para o Mundial de 1973, o recordista de quebra de suspensões e que deu a Carlos Pace, o inesquecível Moco, seu primeiro pódio na Fórmula 1.

Anónimo disse...

Eu também não era nascida na época, mas Emerson merece todas as homenagens. Fizemos um videozinho lá no F1 Girls para homenagea-lo. E nao sei pq o link pro teu blog nao constava ainda no nosso site, esse "problema" foi solucionado já, viu? Parabéns, eu gosto mutio do Continental.

Speeder76 disse...

Se isso for verdadeiro, então entando agora a inscrição unica do John Surtees para esta corrida final...

Anónimo disse...

Emerson abriu o caminho e abriu lindamente.
Estreou em Julho de 1970 e, em Setembro de 1972, era o primeiro brasileiro campeão do mundo.
Emerson só fez as temporadas de 71, 72, 73, 74 e 75, pois em 1976 foi para sua própria equipe. O balanço é altamente positivo e a inacreditável vitória de James Hunt, em 1976, com a McLaren que o Emerson acertou, prova que ele seria tri em 1976, se não fosse para a equipe Fittipaldi.
A narração do "barão", pela JovemPan, é épica: o pai narrando o filho ser o primeiro brasileiro campeão do mundo de F1 foi o máximo. Além de ficar histérico de alegria (muito justamente), Wilson Fittipaldi pai abandonou a cabine, deixando a narração por conta do português Domingos Piedade, para ir cumprimentar o Emerson, num momento maravilhoso, de improviso e emoção.
A Lotus preta, da John Player Special, é mítica e ficou mítica nas mãos de Emerson.
Parabéns ao Emerson e obrigado por abrir o caminho do que virou a paixão de nós brasileiros, nas décadas seguintes.
Eu tinha 11 anos e curti esse momento mágico, num domingo de manhã, ouvindo rádio!!

João Carlos Viana disse...

Olá speeder
Só uma correção: o Emerson largou em sexto, não em quarto.