sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O piloto do dia - Taki Inoue

Nem sempre falo dos grandes campeões. Os grandes fracassos tem também direito a ter ao seu espaço neste blog, e muitos deles vieram do país do Sol Nascente, o Japão. Um desses "fracassos" ficou mais conhecido, durante o seu ano completo na Formula 1, pelos acidentes insólitos do que as suas pobres performances em pista. Hoje é dia de falar de Taki Inoue, quando comemora o seu 45º aniversário natalicio.

Takachiho "Taki" Inoue nasceu na cidade de Kobe, no Japão, a 5 de Setembro de 1963. Filho de um homem que fez fortuna a fabricar "slot-machines" no Japão, começou a sua carreira competitiva muito tarde, aos 22 anos, sem resultados de relevo. Em 1987, quando foi para Inglaterra, foi pilotar na famosa Jim Russell Racing School, numa situação "sui generis": não sabia falar inglês! Adaptou-se relativamente bem, e aprendeu uma frase que lhe ficaria na memória durante o resto da sua carreira competitiva, dita por um dos seus patrões da Formula Ford 1600: "Dinheiro é corrida. Sem dinheiro, não há corrida."

Em 1989, voltou para o Japão, para pilotar na Formula 3000 do seu país, sem conseguir qualquer resultado relevante nas cinco temporadas seguintes. Mas em 1994, transfere-se para a Europa, para correr na categoria continental, ao serviço da equipa Super Nova, ao lado do italiano Vicenzo Sospiri. Se ele conseguia resultados de relevo, lutando pelo título da categoria, Inoue nunca conseguiu qualquer ponto, e a sua lentidão era lendária. Tão lendária que foi por causa disso que evitou uma carambola na partida na ronda de Enna-Pergusa...

No final do ano, teve finalmente a sua hipótese de correr na categoria máxima, graças ao dinheiro que tinha no bolso, e aproveitou as dificuldades que muitas das equipas do fundo do pelotão tinham para conseguir levar o campeonato até ao fim. Equipas como a Larrousse, Simtek ou Pacific, para não falar da lendária Lotus, precisavam de dinheiro como de pão para a boca, para pagar as despesas. Inoue fez um teste pela Simtek, com o seu companheiro Sospiri, mas no final, os ienes falaram mais alto, e ele foi correr em Suzuka.

Nos treinos de sexta-feira, foi 26º e último, mas no dia seguinte, à chuva, melhorou as suas performances, embora tenha ficado a três segundos do seu companheiro, David Brabham. Na corrida, ele não passou da terceira volta, quando se despistou de bateu no muro das boxes. Como não tinha dinheiro para correr na última ronda, em Adelaide, a sua experiência ficou-se por aí.

E todos pensavam que não iriam mais ouvir dele. Mas no inicio de 1995, a Formula 1 ficou surpreendida quando se soube que a Footwork-Arrows tinha assinado um acordo de 4,5 milhões de euros para o ter ao lado de Gianni Morbidelli na sua equipa. E continuava a ser assustadoramente lento. Só para terem uma ideia: na ronda argentina, ele chegou a fazer um tempo dez segundos mais lento do que Morbidelli!

E no Mónaco, o primeiro momento cómico da carreira: nos treinos, quando começava a ter tempos honestos, lutando com Gianni Morbidelli pelo melhor tempo na equipa, viu nos espelhos o Sauber de Heinz-Harald Frentzen a aproximar-se. Deixou-o passar... e o motor morreu. Rebocado até à boxe, não contou com a impetuosidade do piloto do Safety-Car, pilotado na altura pelo lendario piloto francês de ralis, Jean Ragnotti. Este perdeu o controle do seu carro, e bateu em Inoue, virando-o de cabeça para baixo! O japonês saiu somente com uma contusão, e um motivo de chacota para todo o fim de semana...

Depois de mais umas prestações pobres, incluindo um acidente na primeira volta do GP de França, com... o Tyrrell de Ukyo Katayama, o circo chega à Hungria, onde Inoue consegue ser mais rápido que o novo piloto da equipa, o italiano Max Papis. Quem diria... na corrida, Inoue desiste com um principio de incêndio, e quando chega o socorro, pega num dos extintores que um dos comissários tinha na mão, para o apagar. Mas não tinha visto a aproximação de um carro de socorro, que o atropela! Apesar do embate, não houve consequências de maior.

Continuando a sua senda, Inoue consegue acabar algumas corridas em classificações mais ou menos honrosas, como o oitavo lugar no GP de Itália, numa corrida onde acabaram... nove pilotos! Mas sempre foi melhor do que o italiano Papis, o que é um pouco estranho, pois o italiano, quando mais tarde foi fazer carreira na CART, foi um dos melhores estrangeiros do pelotão... No final do ano, zero pontos, e uma participação nos anais da história como um dos pilotos mais modestos de sempre, para não falar outra coisa.

Nessa altura, a revista inglesa Autosport resumiu a sua performance da seguinte maneira: "Aceitou suas limitações numa boa, embora conseguisse um tempo razoavelmente respeitável nos circuitos que conhecia." Uma critica simpática para um piloto do fundo do pelotão...

No inicio de 1996, Inoue foi contratado como piloto da Minardi, ao lado do português Pedro Lamy, devido ao seu patrocinio de três milhões de dólares. Mas perto do fecho das inscrições, um dos patrocinadores voltou com a palavra atrás, e o então piloto de testes, Giancarlo Fisichella, arranjou dinheiro da Marlboro Itália, fazendo com que o piloto italiano começasse a sua carreira na Formula 1...

Sem lugar na Formula 1, voltou aos Turismos japoneses. Até 1999, as suas performances foram discretas, sendo o melhor o 32º lugar final na classificação do Campeonato japonês de Turismos.

A sua presença marcou a Formula 1, como símbolo de lentidão exasperada. Certo dia, ainda em 1995, quando Johnny Herbert tinha feito um teste na Benetton, onde fora dois segundos mais lento do que o seu companheiro Michael Schumacher, declarou: "Sinto-me como se fosse o Taki Inoue ou algo assim...". O seu patrão na Arrows, apesar de elogiar a sua evolução, não deixou de dizer a sua justiça: "A sua performance não saia do seu lugar."

Desde há alguns anos que Inoue é empresário e conselheiro de piloto japoneses. Quando comentou a sua passagem pela formula 1, não deixou de exprimir a sua amargura: "A Formula 1 foi um sonho, ok? Agora acabou. Eu acordei. Um pesadelo, esqueci-me completamente da Fórmula 1".


Fontes:

1 comentário:

Daniel Médici disse...

Com o perdão da ousadia, este é o melhor texto biografico que eu li publicado neste blog! Adoro quando encontro algo que foge da estreiteza mental de se contar a história dos vencedores...

E poucos se lembram que para haver ganhadores, há de se ter perdedores. Não há corrida que não termine com vencedor, ou seja, a vitória é o que existe de mais corriqueiro no automobilismo, então por que falar dela à exaustão?