sábado, 22 de agosto de 2015

O ano de Didier Pironi, contado pela mãe (parte 2)

(continuação do episódio anterior)

Duplo Milagre em Paul Ricard


Eliane Pironi fala aqui sobre a reação que existiu no inverno de 1982, quando o seu filho sobreviveu a dois fortes acidentes durante as sessões de testes no circuito francês de Paul Ricard dos quais não se feriu por muito pouco, como que a mostrar a vulnerabilidade que aqueles carros tinham, e um mau presságio para aquilo que iriam passar na temporada. Aqui, ela fala de uma discussão que teve com Marco Pichinini, um dos diretores da Ferrari, a par de Mauro Forgheri.

"No Rio, na noite antes do Grande Prémio, estavamos a jantar, eu e Didier, que acabara de ter dois grandes de pista durante testes no circuito de Paul Ricard (Gilles Villeneuve falou à imprensa, pedindo para que fossem um pouco indulgentes para com Didier, que estava atordoado por estes dois acidentes monumentais, n.d.r) e na mesa, ele abre a conversa com Picinini acerca dos perigos dos carros naquele momento - tornar-se-iam inguiáveis por causa das saias laterais:

- "Marco, você deve intervir! Não podemos continuar a trabalhar nestas condições. Você viu as minhas saídas em Paul-Ricard? Você sabe, quando descolamos daquela forma, não há nada mais a fazer. Este é o drama! Eu vivienciei dois milagres."

- "Didier, espere! Espere um minuto ..."

- "Não, Marco! Vou esperar o quê? Que eu morra?"

No dia seguinte após a corrida, quando Gilles regressou às boxes após a sua saída de pista, ele gritou para quem quisesse ouvir: "Não é possível, não podemos mais manter os carros na pista! E estes carros são lixo! Não podemos fazer mais nada!"

Imola, Zolder e a relação com Gilles



Em abril, no GP de San Marino, boicotado pelas equipas inglesas - quase todas com motor V8 da Cosworth - os Ferrari bateram-se pela vitória, com polémica à mistura, pois aparentemente, Didier Pironi não obedeceu às ordens vindas da equipa para manter a hierarquia. O francês acelerou para a vitória, enquanto que o canadiano ficou encolerizado por aquilo que considerou como uma traição. Ele decidiu cortar relações com ele, e precipitou os eventos na corrida seguinte, em Zolder.

"Mais tarde, foi o incidente de Imola, e a ira de Gilles Villeneuve. Didier não tinha sido informado e ele tinha superado - com raiva. Gilles estava furioso. O que deixou realmente fora de si é que Marco Piccinini tinha confirmado à imprensa que nenhuma ordem tinha sido dada a partir das boxes. 

Didier estava satisfeito por ter ganho o seu primeiro Grand Prix pela Ferrari. Em última análise, pode-se entender a raiva de Gilles, que estava na Ferrari há cinco anos. No entanto, desde a sua chegada, ele viu dois dos seus companheiros de equipa serem coroados como campeões: Lauda em 1977 e Scheckter em 1979. Então, se agora é o recém-chegado, Didier Pironi, que se impõe, ah, não! Ja chega! E ele então? O equilibrista, o mais espetacular, o mais amado dos adeptos... como seria injusto se a sua soberba, o seu gênio, não fossem recompensados ​​com o título, com tanto talento garantido. Mas isso eram as corridas! E assim era a vida!"

Após esta briga estúpida, Ferrari chamou Didier, que estava em Genebra, e pede, dadas as águas amargas derramadas por Gilles, que se emita um comunicado de imprensa para acalmar a situação. [...] 'Sim, claro. Eu concordo com o seu teor e eu não comentarei nada. Eu acho que ele não se deve dramatizar e tudo isso não passa mais do que um humor infantil que vai desaparecer rapidamente, como a raiva que as crianças tem.'

Mais tarde, após a morte de Gilles, e quando ele já estava no seu leito de hospital, Didier me fez confidências sobre esse período: 'É doloroso para mim de voltar a este assunto, agora que Gilles desapareceu. Mas olhando para trás, eu não mudaria nada. Minha consciência está tranquila quando penso nisso. Não tenho nada para me afrontar com, mesmo Ferrari, que não deixaria de dizer alguma coisa caso eu tivesse feito algo de errado. Mas ele nunca me fez qualquer comentário.'"

(continua amanhã)

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