Eliane Pironi foi mais do que a mãe de Didier. Conselheira da carreira do seu filho, não deixou de apontar as impressões sobre o que acontecia, quer na equipa, quer na sua vida pessoal. Em setembro de 2014, a Autosport francesa publicou um excerto de uma biografia inédita, escrita por ela, sobre a temporada de 1982, onde o seu filho poderia ter sido o primeiro campeão do mundo francês, mas tudo isso terminou numa manhã de domingo chuvosa na floresta alemã...
O relato é por vezes angustiado, outras vezes humorado, mas relata pormenores bem importantes. Eis os excertos publicados pela revista, devidamente traduzidos nestes dias em que recordamos o piloto francês.
"No início de 1982, quando Didier participava dos testes de pré-temporada do Rio de Janeiro, Catherine [primeira mulher de Didier Pironi] e eu realizavamos todas as formalidades do casamento. Essa menina tinha um sentido de organização bastante excepcional. Ela tinha-se agarrado ao seu casamento! De modo que em dois tempos, e indo a vários sitios - apesar da ausência de Didier - as coisas ficaram resolvidas. As celebrações em Landes, em Eugénie-les-Bains, em Guérard, e na prefeitura de Neuilly-sur-Seine. Num tempo digno de "Formula 1". Na Câmara Municipal, o jovem prefeito de Neuilly [o futuro presidente da República Nicolas Sarkozy] disse-lhe um dia com humor: 'Você sabe, minha senhora, que para casar, em princípio, serão duas pessoas ao mesmo tempo.' E Catherine era parte do seu riso maravilhoso, irreprimível e louco".
O casamento foi um conjunto de alegrias bem-sucedida em todos os aspectos. Mas, curiosamente, em relação às fotos do casamento - e Deus sabe se não houvesse - Didier nunca mos mostrou. Eu não tenho nenhuma foto. No dia seguinte ele estava a viajar para Maranello. Cada sessão de testes, Gilles e ele faziam a distância equivalente a um Grande Prémio. Ambos acabavam a nadar em suor! Outra dissonância: após os seus deveres de piloto, Didier vinha-se juntar a nós em Grimaud, enquanto que Catherine ficava em Paris...
Nesta campo, Eliane demonstrava que já por essa altura, a relação entre Didier e Catherine já estava desgastada, ainda antes do casamento. O tempo demonstrou que o casamento entre eles desmoronou passado menos de três meses, no verão de 1982, entre o acidente de Gilles Villeneuve e o seu próprio acidente, quando ele já comandava o campeonato do mundo, com vitórias em San Marino e Holanda.
No manuscrito, ela fala de um encontro que teve com Enzo Ferrari (na foto em 1980, ao lado de Gilles), em terras italianas:
"Mais tarde nessa temporada, o Sr. Ferrari quis ir ter ao nosso encontro na Itália. Em Maranello, minha irmã e eu esperavamos por Didier à porta, e ele cumprimentou minha irmã, que estava a guiar o carro desde Villese, perto de Trieste, onde tínhamos família. 'Esta é a minha tia, ela adora queimar pneu!'
"Mais tarde nessa temporada, o Sr. Ferrari quis ir ter ao nosso encontro na Itália. Em Maranello, minha irmã e eu esperavamos por Didier à porta, e ele cumprimentou minha irmã, que estava a guiar o carro desde Villese, perto de Trieste, onde tínhamos família. 'Esta é a minha tia, ela adora queimar pneu!'
"Ferrari chamou-me no seu escritório e disse: 'Senhora, não acredite que eu queira prender o seu filho. Eu só quero fazer-vos felizes. Eu queria dizer-lhe isto para que não se arrependa, não interessa as consequências. O meu arrependimento é ter impedido Dino [seu filho] de ter sido piloto. Ele teve um fim permaturo por causa da doença. Então você vê o que é o destino...' E, saindo, ele acrescentou: 'Um telhado de telha que tanto pode cair sobre a nossa cabeça', e ele abriu os braços em sinal de destino. 'Seu filho é um grande piloto. Ele tem todas as qualidades para se tornar campeão do mundo. E a Ferrari vai dar-lhe os meios. Este é o meu presente.'"
(continua amanhã)
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