segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A imagem do dia

A foto que coloco aqui não é nenhuma efeméride redonda que esteja a comemorar, como habitualmente faço. Na realidade, é algo que apareceu ontem no Twitter e está a alargar-se, de uma certa maneira. E claro, é uma recordação de algo importante da minha vida.

O desafio é este: qual é o Grande Prémio que aconteceu do dia do teu nascimento? Ou se isso não aconteceu, então, na data mais próxima. Ora, quem calha nesse critério é o GP da Grã-Bretanha de 1976, no circuito de Brands Hatch, na região de Kent, a sul de Londres. E foi uma corrida e tanto.

Julho de 1976 foi de canícula na Europa. Enquanto se esperava pelos Jogos Olímpicos no outro lado do Atlântico, em Montreal, os fãs de automobilismo queriam saber em que corrida Niki Lauda seria campeão do mundo, porque ele tinha dominado de tal forma que todos viam isso como inevitável. Mas duas semanas antes, em Paul Ricard, o austríaco tiveram uma rara quebra e James Hunt aproveitou e venceu. Poucos dias depois, a FIA analisava o resultado do GP de Espanha, vencido por Hunt mas depois desclassificado por causa de irregularidades na asa traseira, e decidira que a McLaren tinha razão. Ou seja, Lauda via Hunt ganhar... 18 pontos.

Com essas boas noticias, cerca de 80 mil (ou cem mil) espectadores enfrentaram o calor para aplaudir o britânico da McLaren e ver se ainda conseguia sacar mais alguns pontos ao seu rival da Ferrari. E foram testemunhas privilegiadas porque... a BBC boicotou a transmissão. Isto porque uma das equipas, a Surtees, era patrocinada pela Durex, uma empresa de preservativos. E nesse tempo, era considerado "pecado". Afinal de contas, falamos do tempo em que o sexo era seguro e o automobilismo perigoso!

A primeira partida foi o que se vê. Clay Regazzoni e Niki Lauda deram se mal na primeira curva, a infame Paddock Hill Bend, o suíço toca no McLaren do britânico e ainda temos o Ligier de Jacques Laffite e o Ensign de Chris Amon no meio dos destroços. Hunt, Rega e Laffite foram eliminados, a partida interrompida e nesse tempo, para voltar a competir, tinha de se dar a volta inteira ao circuito. Só que Hunt andou uns metros e meteu o carro nas boxes, o que não era permitido. E todos sabiam disso.

Quando a organização desclassificou Hunt, o público revoltou-se. Gritaram "We Want Hunt!" (Nós Queremos o Hunt!) e atiraram garrafas para a pista, arriscando pneus furados dos os vidros estilhaçados. Lá o meteram de volta, e ele competiu, acabando por passar Lauda a meio da corrida, na travagem para a curva Druids, e acelerou até à meta, para o lugar mais alto do pódio. O britânico depois disse que eram "nove pontos, vinte mil libras e muita felicidade". Claro, a Ferrari protestou o resultado e conseguiram o que queriam dois meses depois, nas vésperas do GP do Canadá, em Mosport.

A minha segunda corrida depois do meu nascimento foi duas semanas depois, em Nurburgring, e deu no que deu... é por isso que a temporada de 1976 acabou por parar a Hollywood, onde se fez um filme. De aborrecida, nada teve.

1 comentário:

Eduardo Gomes disse...

Legal a referência. A corrida mais próxima do meu nascimento foi justamente o GP do Japão de 76. Acho que não necessita de maiores comentários né...