quarta-feira, 7 de julho de 2021

The End: Carlos Reutemann (1942-2021)


O antigo piloto de Formula 1 e senador argentino Carlos Reutemann morreu na tarde desta quarta-feira na clinica de Santa Fé, aos 79 anos de idade. Reutemann estava internado desde meados de maio devido a uma hemorragia digestiva, bem como uma anemia persistente. Senador desde 2003, tinha sido governador da província de Santa Fé entre 1991 a 1995, e de novo entre 1999 e 2003, altura em que assumiu o seu lugar no Senado.

Nascido a 12 de abril de 1942 em Santa Fé, Carlos Alberto "Lole" Reutemann era neto de suíços, e filho de uma mãe italiana e um pai argentino. Começou a correr aos 23 anos, em 1965, ao volante de um Fiat 1500 no Turismo Carrera. Depois de vencer corridas no Turismo Carrera e na Formula 1 Mecanica Argentina, em 1970, foi para a Europa correr na Formula 2 através do Automóvel Club Argentino. Com um chassis Brabham, acabou como vice-campeão em 1971, batido apenas pelo sueco Ronnie Peterson. Nesse ano, andou num Porsche 917 nos 1000 km de Buenos Aires ao lado de Emerson Fittipaldi.

As suas performances foram suficientes para arranjar um lugar na Brabham na Formula 1, na temporada de 1972, ao lado de Wilson Fittipaldi e Graham Hill. E logo na sua prova de abertura, em Buenos Aires, leva o público ao delírio ao fazer a pole-position. Ele é um dos quatro pilotos a conseguir isso na sua primeira corrida, a par de Giuseppe "Nino" Farina, em 1950, Mário Andretti, em 1968 e Jacques Villeneuve, em 1996. Conseguirá os seus primeiros pontos em Mosport, mais tarde nessa temporada, com um quarto lugar. Pelo meio, venceu o GP do Brasil, em Interlagos, mas a prova era extra-campeonato.

No ano seguinte, alcançou o primeiro pódio, com o terceiro lugar em Paul Ricard, palco do GP de França, e repetiu em Watkins Glen, de novo no terceiro posto, conseguindo 16 pontos e o sétimo lugar do campeonato. Por esta altura, corria na Ferrari com a sua equipa de Endurance, onde ao lado do australiano Tim Schenken, participou nas 24 Horas de Le Mans, não terminando a corrida. 


Foi em 1974 que alcançou os seus primeiros sucessos. Com um carro novo, o BT44, esteve muito perto de triunfar em Buenos Aires quando um problema de combustível na última volta tirou a chance de triunfar em casa. Mas duas corridas mais tarde, em Kyalami, acabou por chegar ao lugar mais alto do pódio, a primeira vitória de um argentino desde 1957 e a primeira da Brabham desde 1970... naquele mesmo lugar, com Jack Brabham ao volante. Mais duas vitórias, em Zeltweg, e em Watkins Glen, com dobradinha, ao lado do brasileiro José Carlos Pace, fizeram com que acabasse com 32 pontos e o sexto posto. Apesar do carro ser um dos melhores do pelotão em 1975, apenas triunfou no Nurburgring Norschleife, mas a consistência dos seus resultados deu-lhe o terceiro lugar, com 37 pontos. 

Em 1976, a Brabham assinou um contrato de fornecimento de motores à Alfa Romeo e o piloto argentino passou por um mau bocado, conseguindo apenas um quarto lugar no GP de Espanha. Desiludido com o rumo dos acontecimentos, aceita uma oferta para correr na Ferrari após o acidente de Niki Lauda em Nurburgring. A sua primeira prova foi em Monza, numa corrida marcada pela recuperação de Lauda, 40 dias após o seu acidente.


Prosseguindo em 1977 pela Ferrari, venceu em Interlagos, mas foi apenas a única vitória do ano, apesar de ter tido cinco pódios. No ano seguinte, após a saída de Lauda e a chegada do canadiano Gilles Villeneuve, teve provavelmente a sua melhor temporada até então, com vitórias no Brasil e em Long Beach, depois de partir da pole-position. Repetiu a pole no Mónaco, e chegou a liderar o campeonato nessa altura, mas a entrada em cena dos Lotus 79 terminaram com as suas aspirações ao campeonato. Foi terceiro, com 48 pontos e mais duas vitórias, em Brands Hatch e Watkins Glen, mas no final do ano, mudou-se para a Lotus, ficando com o lugar do malogrado Ronnie Peterson.

Apesar do bom arranque do campeonato, com pódios em quatro corridas, incluindo segundos lugares na Argentina e Espanha, o Lotus 79 estava ultrapassado e conseguiu apenas 20 pontos e o sétimo lugar da geral. Para se manter competitivo, rumou à Williams em 1980 para ficar com o lugar de Clay Regazzoni. Guiando o FW07 contra Alan Jones, foi regular, conseguindo 42 pontos e a vitória no GP do Mónaco.

Ainda nesse ano, decidiu fazer uma coisa diferente: a bordo de um Fiat 131, participou no Rali Codasur, prólogo do Rali da Argentina, onde terminou na terceira posição. Até agora é o único piloto que tem pódios na Formula 1 e no Mundial de Ralis. 


Em 1981, continuou na Williams, mas no GP do Brasil, entra em guerra com a equipa, ao negar ceder o comando a Alan Jones para este poder vencer a corrida. Acabou por triunfar - seria a sua quarta vitória em terras brasileiras - mas a partir dali se tornou num estranho e sentiu a hostilidade da equipa. A sua regularidade lhe deu mais pódios e nova vitória no GP de Bélgica, em Zolder. Chegou a ter uma vantagem de onze pontos para a concorrência, mas a partir da segunda metade da temporada, perdeu grande parte dessa vantagem para Nelson Piquet.

Tudo acabou na última prova do ano, no estacionamento do casino Ceasar's Palace, em Las Vegas. Reutemann tinha vantagem na grelha face a Nelson Piquet, mas a corrida correu mal para o argentino. Vitima de problemas na caixa de velocidades, acabou fora dos pontos, enquanto via Piquet ser quinto e ser campeão do mundo. Curiosamente, meses antes, a Formula 1 esteve na África do Sul, numa corrida onde Reutemann triunfou na frente de Piquet. A corrida não contou, mas se tivesse, o argentino teria sido campeão por dois pontos...

Apesar de ter considerado abandonar a Formula 1 de imediato, decidiu continuar na Williams em 1982. Conseguiu um segundo lugar na primeira corrida do ano, na África do Sul, mas depois do GP do Brasil, decidiu que iria embora de vez, depois de 146 Grandes Prémios, 12 vitórias, seis pole-positions, seis voltas mais rápidas e 298 pontos oficiais, dos 310 conquistados na realidade. Apesar de naquela altura, ele poderia ter sabido sobre os futuros desenvolvimentos no seu país - estava-se a semanas da invasão argentina às ilhas Falkland - na realidade, segundo contou anos depois Patrick Head, tinha sido a falta de motivação que fez tomar essa decisão.

Em 1985, reapareceu para correr num lugar inesperado: nos ralis. Pilotou um dos 205 Turbo da equipa oficial da Peugeot e conseguiu mais um terceiro lugar, numa prova marcada pelo acidente grave de Ari Vatanen.


A partir de 1990, ele começa a ter a sua segunda vida como politico. E tudo graças a Carlos Menem, que toma posse como presidente nesse ano e cujo filho foi piloto de ralis. O Partido Justicialista decide convidá-lo para ser governador da sua província natal, Santa Fé, e foi eleito em 1991 e tornou-se num governador popular, ficando até 1995. Sem poder candidatar-se à reeleição, apenas regressou em 1999 para um segundo mandato, que ficou marcado pelo "corralito" de 2001, que afetou todo o país, Santa Fé incluído. Decidiu implementar uma politica de austeridade que embora impopular,  deixou as finanças em melhor estado que o resto do país. Ao contrário da primeira vez, não ficou todo o mandato como governador, pois em 2003 resolveu candidatar-se como senador, que foi eleito na chapa do mesmo Partido Justicialista. 

Apesar do seu "low profile", a sua popularidade foi suficiente para que existisse movimentos no sentido de se candidatar à presidência da República, mas sempre rejeitou essas movimentações. Reeleito sucessivamente, estava no seu último mandato, pois a falta de saúde que teve nos últimos quatro anos fez pensar na retirada de cena.

Reutemann sai de cena como sendo um dos maiores pilotos da sua geração. Para os argentinos, não só ele é considerado como o melhor piloto depois de Juan Manuel Fangio, como tiveram o grande desgosto de não o terem visto como campeão do mundo. Outros o viram como um excelente piloto, que num dia bom era imparável, mas num dia mau, era péssimo. Até diziam que não tinha o "killer instinct" dos campeões do mundo. 


Mesmo assim, fez parte de uma geração que está a ver os seus ídolos partir, sinal de que a vida continua e o sol põe-se para todos. O que fica é o legado. Ars longa, vita brevis, Lole. 

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