segunda-feira, 9 de maio de 2022

A imagem do dia


Didier Pironi, desolado, leva o capacete de Gilles Villeneuve, juntamente com o seu, para as boxes da Ferrari, no sábado, 8 de maio de 1982, após a qualificação de sábado do GP da Bélgica.

Apesar da polémica, e sabendo que Gilles estava zangado com ele por causa do que tinha feito antes, em Imola, ele julgava que a zanga iria acalmar-se com o tempo. Antes disso, davam-se bem, mas por exemplo, ele não o tinha convidado para o seu casamento com Catherine, umas semanas antes.

O gesto de Imola também era uma maneira de mostrar ao mundo que não era um piloto secundário, era tão vencedor como os outros, e numa equipa onde o teu primeiro grande rival é o teu companheiro de equipa, o maquiavelismo era presente. E em termos de treinos, Pironi estava a ser comprimido por Gilles: perdera todas as batalhas para o canadiano.

Em Zolder, estava na frente pela primeira vez. E foi por isso que o canadiano estava a pressionar-se para o bater e essa cegueira era tal que deu no que deu.

Semanas depois, em Montreal, fez a pole-position. No circuito que tinha o nome de Gilles. Ele gelou, sabendo que os ânimos ainda estavam exaltados, e muito cuidadosamente, decidiu dedicar o feito a ele.

A conferência estava a ser transmitida nos altifalantes. Nigel Roebuck estava sentado ao lado de Keke Rosberg, amigo pessoal de Gilles, que disse: "se tivesse portado bem, Gilles ainda estaria vivo". Tudo em claro sinal de desprezo. Pior ainda: no dia seguinte, o seu Ferrari ficou parado na grelha e á atingido em cheio pelo Osella de Ricciardo Paletti que por causa do impacto, acaba por sofrer ferimentos mortais no seu peito. 

Mesmo com as vitórias e com a sensação de que, por fim, iria ser o primeiro campeão francês e o campeão pela Ferrari, Didier Pironi terá um grave acidente na Alemanha, exatamente três meses depois do acidente mortal de Gilles. No meio do "spray" da chuva, bate forte na traseira do Renault de Alain Prost - dizem que é por isso que ele nunca gostou de correr à chuva - e ele, com ferimentos graves nas pernas, perde a sua chance de ser campeão. Sem participar nas últimas quatro provas do campeonato, acaba vice-campeão, a cinco pontos de Keke Rosberg. 

Cinco anos mais tarde, a 23 de agosto de 1987, Pironi morreria num acidente de barco no Needles Trophy, na ilha de Wight, a bordo do Colibri, o barco feito de fibra de carbono. Na altura, a sua namorada esperava por gémeos, que lhes deu o nome de Didier... e Gilles. A sua turma situa-se em Saint-Tropez, enterrado ao lado do seu meio-irmão, José Dolhem, que como ele, tinha sido piloto pela Surtees, em 1974, e que morrera seis meses depois dele, em abril de 1988, num acidente de aviação no centro de França. 

Didier Jr. é neste momento engenheiro e em 2022 está a colaborar no programa LMPh da Ferrari. A vida dá muuuuitas voltas, de facto.

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