terça-feira, 13 de maio de 2025

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É raro falar por aqui sobre as 500 Milhas de Indianápolis, mas quando a história vale a pena, não deixo passar em claro. E este é interessante porque este mês passa o centenário da primeira corrida cujo vencedor andou na casa das 100 milhas por hora, ou em medições usadas pelo resto do mundo civilizado, 160 quilómetros por hora. 

E falo sobre um piloto que foi famoso no seu tempo, Peter DePaolo, e uma marca que hoje em dia, ainda soa nos ouvidos, a Duesenberg. 

Nascido a 6 de abril de 1898, em Filadélfia, na Pensilvânia, era sobrinho de Ralph DePalma, um dos pioneiros do automobilismo nos Estados Unidos, e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis em 1919. Pouco depois em 1922, começou a experimentar o volante, numa altura em que eles corriam com... navegadores. Claro, nesses tempos também corriam sem cinto de segurança - eles julgavam que tinham mais chances de sobrevivência se fossem... cuspidos - DePaolo sofreu com isso. Um bom exemplo foi em Kansas City, ainda em 1922, quando, correndo uma pista de madeira, os "Motordrome", o carro perdeu o controlo e capotou, acabando com cortes na cara e dois dentes partidos.

Em 1925, os pilotos chegaram às 500 Milhas de Indianápolis com um objetivo em vista: ser o primeiro a conseguir uma média de 100 milhas por hora. Tinham andando perto no ano anterior, com 98,234 milhas por hora, numa condução partilhada por... dois pilotos, L.Corum e Leo Boyer. Eram esses os tempos.

Nesse ano, havia duas marcas no pelotão da então AAA, American Automobile Association: Miller e Duesenberg. Esta última tinha sido fundada cinco anos antes, em 1920, pelos irmãos Fred Duesenberg e August Duesenberg, em Indianápolis, com o objetivo de construir carros desportivos. E logo de entrada, com Jimmy Murphy, ganhou o GP de França de 1921, em Le Mans, a corrida mais importante do mundo de então. No ano seguinte, tinha conseguido a primeira das suas vitórias em Indianápolis, algo que repetiu em 1924.

Para 1925, todos os carros eram monolugares, apesar de o navegador não estar proibido. Dusenberg construiu um roadster estreito, e leve, esperando que fosse suficiente rápido para poder bater os Millers e ficar novamente com a vitória. E para dar nas vistas, o carro foi pintado de amarelo-vivo. Quando as pessoas viram a cor do carro, alguém deu o apelido de "Carro Banana". E o apelido ficou.

Na qualificação, Leo Duray foi o melhor, conseguindo 113,196 milhas por hora de média nas quatro voltas lançadas, deixando Peter DePaolo no segundo posto e Harry Hartz no terceiro, completando a primeira fila. Curiosamente, na 18ª posição, estava o seu tio, Ralph DePalma, o único que tinha competido na edição inaugural das 500 Milhas, em 1911.  

Na partida, DePaolo foi-se embora e controlou as coisas até à volta 55, quando cedeu para Phil Shafer. Ele voltou à liderança na volta 68, mas por esta altura, ele começa a ter as suas mãos cheias de bolhas por estar a agarrar ao volante. Perdendo a liderança na volta 85, regressou quatro voltas depois, mas na volta 104, encostou às boxes para que lhe aplicassem pensos nas mãos ensanguentadas. Por 19 voltas, o seu carro será guiado por Norman Batten, até ele regressar. 

Sim, nesse tempo, havia pilotos "suplentes" que guiavam os carros dos titulares enquanto recuperavam de algum problema físico. Para terem uma ideia, Batten iria depois guiar o carro de Pete Kreis, até à meta. E entre esses pilotos suplentes está o britânico Alfred Moss, pai de Stirling e Pat Moss...

Tratado dos seus ferimentos, DePaolo regressou ao cockpit na quinta posição e partiu no encalço do então líder, Dave Lewis, num duelo que iria atrair as atenções de todos para o resto da corrida. Especialmente a partir das 400 milhas, o último quinto da prova. Nessa altura - a corrida durou cinco horas e meia, recordo - Lewis começou a sentir os efeitos do cansaço, e começou a abrandar. DePaolo, mais fresco, começou a apanhá-lo e vendo o que acontecia, os membros da equipa chamaram-no para ir às boxes, reabastecer e substitui-lo fisicamente. Só que falou a sua primeira tentativa, deu mais uma volta e o tempo perdido foi o suficiente para ser apanhado por DePaolo.

Quando Bennett Hill entrou no carro para fazer as milhas que faltava, já tinha volta e meia de atraso para DePaolo, e apenas um milagre mecânico ou físico o daria a vitória. Mesmo assim, esforçou-se: mais fresco, guiou como o Diabo, apanhou-o para ficar na mesma volta que ele a 25 voltas do final e ganhou vários segundos por volta. Mas DePaolo tinha tudo controlado e cruzou a meta com uma vantagem de 57 segundos. A média de vitória? 101,270 milhas por hora, pouco mais de 161 km/hora, em medida universal.      

Conseguir esta vitória com todos estes feitos foi algo de excepcional e ajudou na reputação da Duesenberg, que iria ganhar mais uma corrida em 1927, ao mesmo tempo que construía carros de luxo, cujos motores de 12 cilindros iriam inspirar Enzo Ferrari para o seu motor, 20 anos depois.

A vitória de DePaolo deu-lhe depois o título da AAA em 1925, e uma carreira que durou uma década. Nunca mais ganhou as 500 Milhas, mas foi campeão em 1927, de novo num Duesenberg. Pendurou o capacete em 1934, guiando pela Miller, e passou o resto da sua vida a ser diretor de equipas quer na IndyCar, quer na NASCAR - a sua equipa nessa categoria acabou por ser a Holman Moody - e gozar os frutos dos seus feitos automobilísticos, escrevendo uma autobiografia em 1935 de seu nome... "Wall Smacker" (Batedor de Muros). 

Curiosamente, apesar de ter sido o primeiro a andar no "Clube dos 100", sempre menorizou o feito por causa daquelas 21 voltas que esteve de fora, Mas Indianápolis nunca o esqueceu: o carro está no museu do circuito e ele sempre foi recebido como um herói (até aos dias de hoje, foi o único piloto a cantar o "Back Home Again at Indiana", em 1971) até morrer, a 26 de novembro de 1980, aos 82 anos de idade. Hoje em dia, o seu nome está no Auto Racing Hall of Fame, no Motorsports Hall of Fame of America e no National Sprint Car Hall of Fame.   

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