sábado, 17 de maio de 2025

A imagem do dia


Na imagem, os pilotos da Hyundai, Thierry Neuville, Ott Tanak e Adrien Formaux, conferenciando em Arganil, durante a sexta-feira do rali de Portugal. E de certeza que o assunto que andaram a falar tinha a ver com o tempo que ficaram dentro do carro. Normalmente, nas provas do WRC, os pilotos fazem seis ou oito especiais durante o dia, mas na sexta-feira deste rali de Portugal, os organizadores decidiram levar os piloto ao limite, como era nos anos 80 e 90 do século passado: onze especiais. Os pilotos estiveram dentro dos cockpits durante 14 horas. 

E nessas 14 horas, percorreram 683 quilómetros, dos quais 146 em troços cronometrados, tudo isto com pouquíssimas pausas, de 10 a 20 minutos entre especiais. Os pilotos tiveram pouco tempo para hidratar, comer e beber, e para piorar as coisas, esta sexta-feira, a temperatura foi de 26 º Celsius, com os carros, nada hidratados, a virarem "numa má sauna" (Kalle Rovanpera dixit), aturando temperaturas até 50º Celsius. 

Claro, os pilotos queixaram-se. Tanak reconheceu que o cronograma foi “difícil”, Neuville considerou o dia desnecessariamente longo, mesmo apreciando este tipo de desafios. Rovanperä criticou o cronograma como insustentável e Evans destacou a impossibilidade de ter uma pausa decente para almoço.

Em contraste, houve algumas defesas, embora tenham dito que isto tem de ser melhor, para a própria saúde. Gus Greensmith, piloto britânico que alinha no WRC2, defende que deve haver dias longos no WRC, mas defende um melhor planeamento para garantir descanso adequado, algo defendido pelo irlandês Josh McErlean, no seu Ford de Rally1, que vê valor competitivo no desafio adicional, mas considera que deve haver mais paragens para assistência, e descanso a meio do dia.

Os pilotos também tem outro motivo de queixa destas estadias prolongadas no carro: o contacto com os fãs e as declarações para a imprensa. Exaustos nos pontos de contacto, os próprios fãs ficam longas horas à espera, e num dia de calor, também afeta. Aliás, muitos pilotos disseram depois que, no final da etapa, iriam ter de acordar pelas cinco da manhã do dia seguinte para mais sete especiais neste sábado...

A ideia é de retomar aos tempos de há 40 anos, nos tempos do Grupo B. Os ralis hoje em dia tem metade do tamanho dos que então. Normalmente, podemos ter 21 especiais, mas antes, era normal ter 50, até 70 especiais, em quatro, cinco ou seis dias de duração. Pode ser que os organizadores queiram satisfazer os saudosistas, mas não se pode ignorar a segurança. Foi por causa do cansaço que Henri Toivonen saiu fora da estrada na Córsega, doente e com 18 especiais por cima dos seus ombros... acabando assim com os Grupo B.

O que se coloca aqui é o equilíbrio entre a exigência e saúde dos pilotos. Percebe-se a ideia, mas levá-los aos limites, obrigando-os a errarem por isso pode não ser bom para o espectáculo... e já agora, se acham que os anos 80 de um século passado foi o "nec plus ultra", então, porque não arranjam televisões de tubos catódicos, não cortam o TW por cabo e reduzem a dois canais, cotem a Net, voltem a ter um telefone fixo e não arranjam um gravador WHS e arranjem num alfarrabista qualquer algumas centenas de gravadores vídeo?     

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