sexta-feira, 16 de maio de 2025

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Como parece que gostaram da minha história sobre Peter DePaolo, há uns tempos, e o centenário da sua vitória nas 500 Milhas de Indianápolis - e também o primeiro carro a fazer uma média de 100 milhas por hora, ou 160 km/hora - pelo caminho, lembrei-me de outra estória de há mais de um século, e envolvendo outra marca de automóveis famosa. E envolve três irmãos, um deles campeão em Indianápolis. O apelido conhecem: Chevrolet. 

Os irmãos Chevrolet são três. O primeiro deles é Louis-Joseph, o mais velho, nasceu no dia de Natal de 1878 em La Chaux de Fonds, na Suíça - se querem saber a cruz estilizada no seu logotipo, tem a ver com a bandeira da Suíça, o seu país de nascimento - era filho de um relojoeiro, Joseph-Félicien Chevrolet, e de Marie-Anne Angéline Mahon. Mudou-se para a França aos 11 anos, em 1887, começou a ser mecânico e inventor, primeiro de bicicletas, para em 1903, se mexer para os automóveis. Mas antes, em 1900, emigrou para Montreal, no Canadá, para no ano seguinte, se mover para Nova Iorque, para trabalhar com um compatriota seu na Dion-Bouton.

Um dos pioneiros do automobilismo na América, começou a ganhar corridas a partir de 1905, e com o dinheiro ganho, pediu aos seus irmãos, Arthur Chevrolet (nascido a 25 de abril de 1884) e Gaston Chevrolet (nascido a 4 de outubro de 1892), para virem trabalhar para ele no outro lado do Atlântico. Eles acederam. 

Sendo eles mecânicos e pilotos, com o tempo, começaram a se especializar nos componentes automotivos, e a inventar melhores peças para o desempenho dos seus carros. Com o tempo iriam entrar na competição, ao mesmo tempo que Louis conhecia William C. Durant, que trabalhava na Buick, e fundara a General Motors. Ambos tinham uma ideia em comum: construir um carro com tração à frente, bem mais eficaz que os carros de então, todos com tração traseira.

Em maio de 1911, Arthur participou na primeira edição das 500 Milhas de Indianápolis, como piloto, num Buick, mas não chegou ao fim. Entretanto, a aliança entre Durant e Chevrolet começara a tremer, por causa das ideias que tinham: Durant queria um enorme conglomerado, onde pudesse ter a maior quantidade de arcas possível - chegou a considerar comprar a Ford, mas os acionistas não deixaram, porque temiam que os levasse à falência, por causa do dinheiro gasto para comprar todas as marcas que queria. 

Em 1915, Louis vende a sua parte e decide fazer outras coisas. Uma delas foi continuar correr, participando nas 500 Milhas desse ano, desistindo na volta 76, com um problema na válvula. Pouco depois, aliou-se a Joseph Boyer Jr. para fazer a Frontenac Motor Comporation, construindo peças para a Ford, antes de montar os seus carros de corrida. E ali, os irmãos foram novamente chamados. E quem tinha mais talento era o mais novo, Gaston.

Arthur e Louis participaram na edição desse ano, nos seus Frontenacs, mas não chegaram ao fim. A partir dali, foi o mais velho a correr, e a gerir a equipa (ou a marca) até à edição de 1920. Nessa temporada, os três irmãos participavam na edição desse ano, todos em Frontenacs, claro. Na qualificação, Arthur bate forte no muro e tem ferimentos sérios, e ele, que tinha regressado depois de quatro anos de ausência, decide pendurar o capacete de vez.

No final da qualificação, Louis Chevrolet conseguiu um lugar na primeira fila, sendo o terceiro, com Ralph DePalma a ser o "poleman", enquanto Gaston foi o quinto, noutro Frontenac. A corrida foi um duelo entre DePalma e Joe Boyer, com intervalos dedicados a dois pilotos franceses: Jean Chassagne e René Thomas. Mas na volta 184, Gaston Chevrolet apanhou-o e passou-o, ficando com o comando até ao final, tornando-se no vencedor. O primeiro dos Chevrolet a ganhar uma corrida... mas não na marca que fundaram. Foi na outra. E tinha uns detalhes: nos 800 quilómetros de percurso, tinha corrido com o mesmo jogo de pneus, e ele, nascido em França, mas naturalizado americano (como seria Mário Andretti, mais de 40 anos depois) tinha batido Thomas... outro francês!

Gaston estava, como diríamos nos dias de hoje, "on fire". Ganhou corridas de 100 milhas (160 quilómetros) contra Tommy Milton, que guiava um Chevrolet de corrida (!) e acumulou pontos suficientes para, no final do ano, ser campeão da AAA, a American Automobile Association. 

A última corrida do ano era no dia de Ação de Graças, 25 de novembro de 1920, nos arredores de Los Angeles. Mais concretamente em Beverly Hills, que nessa altura, não passavam de terrenos agrícolas. Ali, foi construído uma owal cujo piso era de madeira, e deram o nome de "Motordromes". Chevrolet já era campeão, mas foi o suficiente para ter cerca de 75 mil espectadores para assistir. 

Contudo, na volta 146, as coisas correram mal. Chevrolet estava a competir com Eddie O'Donnell quando ambos colidiram e foram pista abaixo, destruídos. Chevrolet teve morte imediata, O'Donnell no dia seguinte, com uma fratura no crânio. Tinha 28 anos, e foi o primeiro campeão póstumo, e o primeiro a não poder defender o seu título nas 500 Milhas. Mas no ano seguinte, a Frontenac ganhou de novo, com Tommy Milton.

Contudo, a Frontenac durou pouco. Tentou uma aliança com a Stutz, para construir carros de estrada, mas o acordo foi água abaixo e em 1923, estava falida. Depois, Louis Chevrolet tentou a sua sorte com a Chewrolair, na aviação, mas veio a Grande Depressão, e faliu em 1930. Arruinado, tinha ido pedir emprego à Chevrolet como mecânico e lá ficou até morrer, a 6 de junho de 1941, aos 62 anos, de ataque cardíaco. O irmão do meio morria cinco anos depois, a 16 de abril de 1946, em Slidell, no Louisiana, aos 61 anos.

O nome de Louis Chevrolet está hoje em dia inscrito na Automotive Hall of Fame, National Spint Car Hall of Fame, Internatonal Motorsports Hall of Fame e no Motorspots Hall of Fame of America. E na entrada da oval de Indianápolis está um conjunto escultório, construído em 1975, com um busto dele em bronze, usando um gorro protetor e óculos de corrida.   

Quase toda a família está enterrada junta no Holy Cross and Saint Joseph Cemetery, em Indianápolis, no Indiana. Digo "quase" porque a pedra tumular de Arthur foi arrancada em Louisiana e nada se sabe realmente onde estará realmente enterrado. 

Ao lado, uma placa explica a suas contribuições para o automobilismo americano:

"Os irmãos imergiram no mundo da tecnologia automóvel como designers, mecânicos e pilotos. Todos os três correram na famosa Indianápolis 500, com Gaston a triunfar na clássica de 1920. Capitalizando a sua enorme popularidade, Louis fundou a Chevrolet Motor Company em 1911. E, apesar de ter abandonado a companhia em 1916, a companhia manteve o seu nome."   

No mausoléu, não é raro ter carrinhos da marca que Louis ajudou a fundar, embora a sua contribuição foi pouco mais de dar o nome, pois, como viram, os maiores feitos foi com a Frontenac. Mas a sua contribuição na história do automobilismo americano, independente da marca, está lá, e não será apagada. 

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