quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Uma confusão à malaia, ou a legitimidade do nome Lotus

Desde o inicio da semana que comecei ver e a receber noticias algo confusas sobre a Lotus. Primeiro, a história da Team Air Asia, de Tony Fernandes, que iria ser a nova equipa da GP2, ao lado da Carlin, onde achei estranho o facto de não usarem o nome Lotus. E depois, nas últimas horas, uma série de noticias que não faziam qualquer sentido, desde uma parceria Lotus-ART na GP2 e GP3, com o direito de uso do logotipo e as cores da Team Lotus, até uma mensagem no Twitter de um amigo meu que trabalha no Japão, afirmando que a Toyota tinha assinado um acordo com a Lotus para 2011, quando toda a gente sabe que esta e a Renault tem tudo apalavrado para fornecer todo um conjunto de motor, caixa de velocidades e o KERS.

Tudo isto não me fazia sentido nenhum até que o Joe Saward nos esclarecer toda esta macarronada: estas noticias são o mais recente episódio de um conflito interno entre Tony Fernandes e a Proton malaia, um conflito "surdo" que veio hoje à superficie, e que tem a ver... com nomes, direitos de imagem e a maneira como as coisas são feitas.

A Proton malaia é a dona da Lotus Cars, que a adquiriu no final do século passado. Esta é uma marca nacional, pertencente na sua maioria pelo Estado, e como qualquer companhia estadual, tem tendência para dar prejuizo. Num país como a Malásia, cujo nacionalismo é intrinseco e uma marca de automóveis é uma forma de mostrar ao mundo que existem, ter uma marca de prestigio é meio caminho andado.

Só que desde os tempos de Colin Chapman que a Lotus Cars e a Team Lotus são duas entidades separadas. Chapman sempre quis isso, para evitar que em caso de desastre, os fracassos de um campo não afectassem os do outro. E isso resultou, pois a Team Lotus fechou as suas portas no inicio de 1995, enquanto que a marca continuou a construir os seus modelos, agora com a ajuda malaia.

Bom... Em relação ao "Team Lotus", sabia-se que nunca pertenceu à Lotus Cars. Esteve nas mãos de várias pessoas até cair ao colo de Peter Hunt, irmão de James Hunt, que o adquiriu de Peter Collins e Peter Wright. Estes, por sua vez, ficaram com os direitos da Team Lotus no final de 1990 e conseguiram manter o nome nas quatro épocas seguintes. E os proprietários anteriores desse nome, eram... a familia Chapman. Daí que este regresso sempre teve a benção de Hazel (a viuva) e Clive Chapman, o filho, porque eles eram os ex-proprietários e davam-se muito bem com David Hunt.

Então para quê toda esta briga e confusão? Tony Fernandes disse que nesta sexta-feira, em Singapura, iria fazer alguns anúncios importantes. Um deles deverá ser o fornecedor de motores para 2011, que tudo indica ser a Renault. E o outro anuncio, do qual já se corre por aí, é que a partir de 2011, eles correrão como "Team Lotus", acompanhados do mitico logotipo ACBC. Tony Fernandes dá-se bem com a familia Chapman e com David Hunt, e provavelmente devem ter chegado a um acordo que satisfaz ambas as partes.

Ora, e a Lotus Cars? Bem, desde que foram adquiridos pela Proton que tentaram recuperar os direitos desse nome. Em 1998, correu um processo num tribunal britânico.. e perderam. Logo, eles não tem legitimidade para reclamar os direitos do nome "Team Lotus" e respectivo logótipo. Mas eles usam nos seus Elises, Elans e Evoras... No final do ano passado, a administração da Proton contratou o suiço Danny Bahar para tomar conta da Lotus Cars, no sentido de transformar a marca numa Ferrari malaia. Ao fim de um ano, depois de Bahar conhecer os cantos à casa, decidiu agir, com o anuncio da parceira com a ART na GP2 e GP3. E o acordo com a Toyota, onde entra? Bom, o que vou dizer é pura especulação, mas... a Hispania está a precisar de um proprietário, não é? E não tem um acordo com a Toyota? E depois não digam que não falei...

Quando os vi no inicio do ano com aquele nome "Lotus Racing" e aquele logótipo, pensava que tinha a ver com David Hunt, mas afinal, não é bem assim. O que tem a ver aqui são dois métodos de fazer as coisas. Tony Fernandes é o dono da Air Asia, uma empresa de sucesso, que foi fundada pelo governo malaio no inicio da década de 90 e foi vendida a Fernandes por um ringgit (a moeda local). Fernandes mostrou como é que as coisas são feitas e a Air Asia é um caso de sucesso. E isto tudo, no final, tem a ver com "quem é que a Proton vai apoiar". Saward diz que Tony Fernandes tem as cartas na mão, mas Bahar não quer dar como vencido.

Aí vem briga... e pode ser das fortes.

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