Hoje seria o dia em que, caso seguissem o guião, Lewis Hamilton se sagrararia pentacampeão mundial. Este deveria ser o dia que os britânicos poderiam dizer que têm entre eles o melhor piloto, não do pelotão, mas de todos os tempos. Ainda falta muito para isso, mas já se começa a sussurrar essa ideia... e não entre os fãs. Que o inglês é bom, isso já sabia desde o seu primeiro ano na Formula 1. Agora, para chegar a este ponto, essa é uma parte do qual pertence à História. E nesse campo, já sabem: é como o sexo dos anjos.
É óbvio que o cenário de hoje foi montado há muito tempo, e os azares e as inseguranças de Sebastian Vettel só cavaram o fosso. O campeonato do inglês foi decidido muito antes do GP alemão, com a Mercedes a fazer um bom chassis e a conseguir melhorar os defeitos que tinham em relação ao Ferrari, mas todos ficam com esse momento na memória, quando o alemão bateu na zona do Estádio, em pleno GP da Alemanha, quando liderava. Tal como no ano passado, os seus acidentes em Singapura e Japão balançaram a favor do inglês.
Mas isso não aconteceu. Foi quase, mas não aconteceu. Por muito pouco, Hamilton poderia ter resolvido hoje a corrida a seu favor, mas ele não venceu a corrida. O vencedor foi um Ferrari, mas não Vettel. E foi uma corrida emocionante, do inicio até ao fim.
Com nuvens mas sem chuva, um Circuit of the Americas cheio estava pronto para a corrida. O ambiente era outonal e a pista não estava muito quente ao nível do solo, logo, é provável que os ultramoles possam beneficiar com isto.
Na partida, Kimi Raikkonen conseguiu largar melhor que Hamilton, mas atrás, houve agitação. Primeiro, nas curvas 4 e 5, Fernando Alonso sofreu um toque de Lance Stroll, e mais à frente, Esteban Ocon e Charles Leclerc andaram a lutar pelo sétimo posto, mas depois, Romain Grosjean tocou na roda traseira de Charles Leclerc, despistando-se em consequência.
Mas o pior aconteceu a Sebastian Vettel. Passando Daniel Ricciardo, o australiano pressionou-o e despistou-se, caindo para o meio do pelotão. Parece ter havido de inicio um ligeiro toque, mas depois parece que o piloto da Ferrari fez um pião sozinho. Claro, todos o que viam irão alimentar a ideia de que Vettel é mentalmente fraco...
A corrida prosseguiu até que na volta 9, o carro de Ricciardo apagou-se (aparentemente, devido a um problema de bateria) e entregou o quarto posto ao seu companheiro de equipa, que já tinha feito uma corrida de recuperação do 16º posto. O incidente foi suficiente para que duas voltas depois, ter sido accionado o SC Virtual, na mesma altura em que o alemão era sexto, depois de passar Carlos Sainz Jr. Alguns aproveitaram para ir às boxes e trocar de pneus, para poderem aguentar o mais possível. Como Hamilton, que aproveitou o momento para trocar para softs, ao contrário da Ferrari.
Na volta 13, a bandeira verde foi accionada e Vettel aproveitou para passar Nico Hulkenberg para ser quinto, mas a realidade - mesmo que Hamilton fosse segundo - era que estava sempre na frente do seu rival em termos de campeonato. O inglês aproximou-se de Raikkonen e na volta 21 ficou colado à sua traseira para tentar passá-lo. Depois de algumas tentativas, o finlandês aproveitou para ir às boxes no final da volta, trocando para moles. Voltou para a pista em quinto, atrás de Vettel. Verstappen fez o mesmo na volta 23, quando era terceiro, e mudou para supermoles, e Bottas também foi às boxes na volta 24. Nisto, o holandês conseguiu levar a melhor nesta sua luta pessoal com o finlandês.
Na volta 25, os pilotos da Ferrari trocaram de lugar, para ver se o finlandês conseguiria ir o mais longe possível com o seu jogo de pneus. E tinha de ser, porque a volta mais rápida estava constantemente nas mãos do piloto finlandês. Vettel ainda foi passado por Verstappen antes de ir às boxes, para ter um jogo de moles no seu carro.
Na volta 37, Hamilton voltou às boxes para trocar pela segunda vez, cedendo o comando a Raikkonen e caindo para quarto. A ideia era ser conservador, para chegar ao fim e conseguir os pontos necessários para ser campeão, mas a ideia dos moles servirem para toda a corrida caiu em terra. Meteu supermoles e partiu para o ataque. Na frente, Raikkonen via Verstappen aproximar-se no segundo posto, enquanto Bottas deixou passar Hamilton para não o atrapalhar. E pouco depois, viu Vettel aproximar-se do finlandês.
As coisas começaram a aquecer na parte final. A nove voltas do fim, os três primeiros estavam separados por menos de cinco segundos, com Bottas a ser assediado por Vettel pelo quarto posto. E o final foi emocionante, com os três pilotos a aproximarem-se dramaticamente, com todos agarrados à TV para ver se Hamilton passaria Verstappen. Se fizesse isso, e Vettel não passasse Bottas, seria campeão do mundo.
Mas a duas voltas do fim, Verstappen segurou Hamilton o suficiente para ele sair da pista. Quase ao mesmo tempo, Vettel tentou passar Bottas e ao defender-se, o finlandês saiu de pista, perdendo o quarto lugar para o alemão... e deixando a luta pelo título vivo por mais uma semana.
No final, Kimi Raikkonen tornou-se no piloto que ficou mais corridas à espera de uma vitória. Bateu um recorde com 28 anos, que pertencia a Ricciardo Patrese, e com 113 corridas desde o GP da Austrália de 2013, é um alivio para o veterano, pois comemorou esta semana o seu 39º aniversário. O mais velho desde Nigel Mansell, no GP da Austrália de 1994.
Foi uma corrida bem divertida. O título não se decidiu ali, é verdade, mas os espectadores podem dizer que foi uma bela prova. E semana que vem há mais na altitude do México.
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