segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

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John Hogan é provavelmente das pessoas mais importantes que nunca ouviu falar na Formula 1. Australiano de nascimento, esteve durante mais de trinta anos na Marlboro, a multinacional tabaqueira que investiu fortemente na categoria máxima, de 1972 até 1997, estando na McLaren a partir de 1974. Naqueles tempos ew inicio da chegada dos patrocónios, foram as tabaqueiras que deram imenso dinheiro pela simples razão que podiam. Aliás, o primeiro contrato foi local, quando a sul-africana Gunston fez um acordo com os carros da equipa de John Love, ainda antes da Lotus ter feito um contrato com a Imperial Tobacco, em fevereiro de 1968. Um contrato de cem mil libras, um valor bem alto para a temporada.

Hogan chega à Marlboro em 1973, depois de ter trabalhado na Nestlé, na Suíça. Tinha 30 anos e já com experiência em lugares como a Coca-Cola. Ali, ajudara nas carreiras de gente como Tim Schenken e Gerry Birrell, na Formula 2. Também ajudava a Rondel Racing, de Ron Dennis e Neil Trundle, também na Formula 2 e foi ali que se cruzou com outro britânico que tentava chegar ao topo, chamado James Hunt. 

Quando chegou à Marlboro, viu que os negócios quer com a BRM, quer com a Iso, equipa dirigida por Frank Wiliams, não levavam a marca longe. Portanto, pegou no dinheiro e em 1974, foi para a McLaren, junto com Emerson Fittipaldi. A aposta resultou, com vitórias e campeonatos quer para o brasileiro, quer para a equipa. Tudo correu bem até ao final de 1975, quando Fittipaldi sai da McLaren para rumar à Copersucar, a aventura brasileira. Hogan fez "lobby" para conseguir James Hunt, contra Teddy Mayer, que queria Jacky Ickx. E Hunt já tinha mostrado que era veloz, nas corridas que fizera pela Hesketh. Com o britânico por lá, contra todas as expectativas, acabou por vencer a temporada de 1976, o segundo título de pilotos para McLaren.

Mas a partir dali, foi sempre a descer. Em 1980, com John Watson ao volante, Hogan chegou ao pé dele e disse a Teddy Mayer que iria retirar o dinheiro da equipa, a não ser que tomassem medidas. Por essa altura, havia a Project Four, equipa de Formula 2 do seu velho conhecido Ron Dennis, que queria pular para a Formula 1. Estava a preparar o projeto, mas Hogan convenceu Dennis que o melhor era juntar ambos, numa fusão. Ambos dependentes do dinheiro da Marlboro, disseram sim, com cinquenta por cento cada um. No final de 1981, com o sucesso do MP4/1, de chassis de fibra de carbono, Mayer sai de cena, entregando a sua parte a Ron Dennis. 

No ano seguinte, Niki Lauda regressa à Formula 1, pela McLaren, e fez o contrato através de Hogan. Contrato feito, ele voltou aos carros com imenso sucesso: campeonatos seguidos entre 1984 e 86, com Lauda e o francês Alain Prost, e depois entre 1988 e 91, quer com o brasileiro Ayrton Senna, quer com Prost. E mesmo quando havia asneiras ou problemas, era Hogan que resolvia. Um exemplo foi o contato do "milhão de dólares por corrida" que Senna recebia na temporada de 1993, do qual Ron Dennis disse que não daria, foi Hogan e a Marlboro que deu o dinheiro até ele aceitar correr na equipa no resto daquela temporada.

Ao mesmo tempo, o dinheiro da Marlboro praticamente financiava as carreiras de geande parte dos pilotos daquela geração, e também equipas na CART, como a Penske, e na MotoGP, onde esteve no fato de pilotos como Wayne Rainey, por exemplo. Mas a ambição de Hogan era fazer da Marlboro o patrocinador titular da Ferrari, algo que aconteceu apenas em 1997, quando saiu de cena na McLaren, terminando uma era. Quando saiu de cena em 2002, para gozar uma merecida reforma, entre os muitos que tinha ajudado a caminhar pelo seu próprio pé, no mundo dos negócios e das relações públicas, estava um americano chamado Zak Brown, que certamente deve ter falado da McLaren e da paixão pelo automobilismo.

Hogan morreu no sábado, aos 77 anos, mais uma vitima do CoVid-19. A sua importancia foi maior e mais importante que muitos imaginam. Espera-se que qualquer dia se faça justiça pela sua colaboração. Ars lunga, vita brevis, John.

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