quarta-feira, 6 de novembro de 2024

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Falei em baixo sobe a possibilidade de haver um filme sobre dois dos mais infames pilotos de automobilismo americanos nos anos 70 e 80, Bill Whittington e Don Whittington, da sua ascensão e queda, acabando com ambos na prisão, um deles a cumprir uma longa pena de prisão por tráfico de marijuana da Colômbia, durante os anos 80. 

Contudo, ambos os Whittington têm algo do qual ninguém os irá tirar: eles ganharam as 24 Horas de Le Mans, num Porsche 935, ao lado do alemão Klaus Ludwig, que mais tarde terá uma carreira longa e proveitosa na DTM alemã. E ambos bateram outro Porsche 935 guiado por Rolf Stommelen e outros dois americanos, Dick Barbour e... Paul Newman. Esse mesmo, o ator de Hollywood.

Se anos depois, eles - mais gente como Randy Lanier e a dupla pai/filho John Paul - transformariam a IMSA na "International Marijuana Smugglers Association", em 1979, os irmãos Whittington (Don, nascido em 1946, e Bill, nascido em 1949) já tinham uma carreira no automobilismo, na Endurance, IndyCar e NASCAR, porque eles eram filhos de Don Whittington, Sr., que tinha ganho o campeonato USAC em 1957 e 59.

E quanto a Le Mans, já tinham lá estado em 1978, noutro 935, inscrito por eles mesmos, ao lado do austríaco Franz Konrad, onde não acabaram a corrida.  

Em 1979, ambos já tinham um rico património: proprietários da pista de Road Atlanta, donos de uma coleção de aviões da II Guerra Mundial, chegaram a Le Mans inscritos pela Konrad, com um 935 à espera. Cada um deles iria pagar 20 mil dólares para guiar nas 24 Horas de Le Mans, mas alguns dias antes da corrida, ambos os lados - os Whittinghton e Erwin Kremer, dono e fundador da equipa - se desentenderam por causa de Ludwig, que era mais rápido que os dois e iria ser o primeiro a correr. Um deles perguntou quanto é que era preciso para inverter a decisão, ao que Kremer respondeu de forma ligeira: "o carro é vosso por 200 mil dólares". 

Os irmãos responderam: "pode ir ao trailer e recolher os 200 mil, e nem mais um tostão". Kremer, que vendia os carros por um preço bem inferior, ficou em choque com a resposta. O dinheiro estava num saco trazido pelos irmãos para o efeito, com dinheiro para comprar mais carros, se fosse necessário (trouxeram três 935 para Road Atlanta, onde correram na IMSA daquela temporada). E claro, foram os primeiros a guiar.

O carro era antigo, de Grupo 5, e os mais novos - e favoritos - eram de Grupo 6, de Protótipos, onde estavam os Rondeau e os Lola, ambos com motores de 2 litros, e os Porsche 936, de fábrica, com cockpit aberto, que eram patrocinados pela Essex, de David Thiemme, que nesse ano, queria espalhar o seu nome nos quatro cantos do automobilismo, porque nessa altura também estava na Formula 1, a despejar dinheiro na Lotus. E entre os carros de outras categorias, estava um BMW M1 desenhado como "Art Car" por, nada mais, nada menos, que Andy Warhol, e na corrida foi guiado por uma dupla francesa, Hervé Poulain e Marcel Migot, e o jovem alemão Manfred Winkelhock.

Na qualificação, os 936 foram os mais rápidos, com Bob Wollek a ser o melhor, seguido por Jacky Ickx. Wollek sofreu um furo a alta velocidade nas Hunaudiéres, mas não houve mais do que um susto. Por causa disso, os carros da casa de Weissach receberam novas jantes, suficientemente seguros contra furos desse tipo. Klaus Ludwig conseguiu o terceiro melhor tempo no seu 935, o melhor dos Grupo 5.

O sábado da corrida começou com sol e calor, com os 936 a mandar na corrida nas primeiras horas, seguido dos dois Mirages de Grupo 6. Ickx perdeu tempo quando se descobriu que as novas jantes eram mais largas que as antigas e tocavam nos discos dos travões. Mais tarde, quando trocou de lugar com Brian Redman, este furou a alta velocidade, e apesar de não ter batido em lado algum, perdeu 17 voltas no processo, perdendo as chances de triunfo. Enquanto isso, o 935 da Kremer era quinto, ao final de duas horas de corrida.

Duas horas depois, problemas para o carro de Wollek: o motor não funcionava plenamente, e iriam perder mais de meia hora nas boxes, para substituir a bomba de combustível e respetivos injetores. E com isso, o outro Porsche estava fora da luta pela vitória.

Com isso, quem estavam na frente eram três 935, os dois primeiros da Gelo Racing, e no terceiro posto, o da Kremer, com os irmãos Whittington e Ludwig. Quinto era o 935 da Dick Barbour Racing, com o seu proprietário ao volante e o ator de Hollywood. Isso coincidiu com o inicio da noite, e nas quatro horas seguintes, os carros da Kremer e da Gelo começaram com a sua luta pelo comando da corrida. Apesar de alguns percalços - um dos carros da Kremer sofreu um incêndio nas boxes, mas regressou à pista - os 936 oficiais tentawam recuperar o tempo perdido. Tinham chegado ao terceiro lugar, com Wollek e o americano Hurley Haywood, mas a corrida de Ickx e Redman acabou prematuramente com um a correia do motor partida, e para piorar as coisas, receberam assistência exterior, acabando na sua desclassificação.

Pelas quatro da manhã, os 935 da Gelo desistiram, uns com alguns minutos do outro, e os Kremer ficaram na frente, com Ludwig na frente. Duas horas depois, a chuva caiu na região de Le Mans, e o carro da Dick Barbour Racing era segundo, ameaçado pelo 936 sobrevivente de Wollek e Haywood, que tinha recuperado ate à terceira posição. Este lá chegou, mas pouco depois das 8 da manhã, foi afetado por problemas de motor, que o arrastou até às boxes. Eles não foram resolvidos e pelas 10 da manhã, estavam fora da corrida.

Parecia que iria ser um passeio até à meta, mas perto das 11 da manhã, o carro parou nas Hunaudiéres, com Don Whittington ao volante. Tinha um problema na bomba de combustível, cuja correia tinha saído do lugar. Contudo, ele tinha um suplente no carro, para ocasiões como esta, colocou uma correia nova, suficiente para poder circular até às boxes. Ali, foram feitas reparações que incluíram um parafuso serrado para poder caber a nova bomba, maior que a anterior, mas no processo perderam 23 minutos, seis voltas. Quando regressaram, perto do meio dia, Rolf Stommelen acelerava para os apanhar, se calhar querendo dar um final de Hollywood para Le Mans. Mas a 20 minutos do final, e com o carro da Kremer "à vista", um pistão furado levou a que o 935 da Dick Barbour abrandasse e desistisse da perseguição. Depois de duas voltas, decidiu parar o carro antes da meta e esperou pelo momento em que eles cruzassem a meta para poder fazê-lo. No final, ambos ficaram com uma diferença de sete voltas. 

Se Whittington foram os surpreendentes vencedores, o público aplaudia imenso os segundos classificados, apenas porque num dos carros estava um ator de Hollywood que adorava correr. E mais: ao contrário de Steve McQueen, que quase uma década antes queria correr ali e não tinham deixado, Newmann correu e colheu os frutos de uma quase vitória. Por causa dos problemas e da chuva, este foi a corrida mais lenta desde 1958.

Uma adenda final: ambos os carros voltaram a defrontar-se um mês depois, nas Seis Horas de Watkins Glen. As triplas eram as mesmas que em Le Mans, e a corrida foi muito mais competitiva, onde a liderança trocou entre eles por 12 ocasiões. E o final foi como em Le Mans, com Whittington e Ludwig a saírem vencedores.    

Os irmãos Whittington irão ter o seu filme


O próximo filme de Hollywood sobre automobilismo poderá ser sobre dois irmãos que financiaram a sua carreira automobilística com o tráfico de drogas. Segundo conta esta terça-feira o site Road & Track americana, a Amazon adquiriu os direitos do filme "American Speed", sobre os irmãos Whittington, que correram na Endurance, especialmente na IMSA e na Endurance. 

Segundo conta a Deadline, os atores Tom Holland e Austin Butler - que fez de Elvis Presley no "biopic" realizado por Baz Luhrmann e de Feyd-Rautha nos dois "Dune", realizado por Denis Villeneuve - são os escolhidos para fazer o papel de Bill e Don Whittington

Ainda não se sabe quem será o realizador, mas os produtores serão Charles Roven, que esteve por trás de "Opeenheimer", realizado por Christopher Nolan, e RD Whittington, filho de Dale Whittington, o mais novo dos irmãos. As coisas ainda estão na fase de pré-produção, logo, ainda faltará coisas como um argumento, o resto das personagens e como foi dito acima, um realizador.  


No final dos anos 70 e inicio dos anos 80, na América, os irmãos Whittinghon (Bill e Don, mais Dale, o irmão mais novo) davam nas vistas nas pistas americanas, especialmente em 1979, quando ganharam as 24 Horas de Le Mans com um Porsche 935 privado, com a ajuda do alemão Klaus Ludwig. Para além disso, competiram na IMSA, NASCAR e CART, sem resultados de relevo. Para além disso, entre 1979 e 82 foram os proprietários do circuito de Road Atlanta, onde guardavam uma grande coleção de aviões da II Guerra Miundial.

Para além disso, em 1984 construíram a equipa Blue Thunder, onde ganharam o campeonato IMSA desse ano, na companhia de Randy Lanier. Contudo, desde há algum tempo que se desconfiava que as suas aventuras fossem financiadas com o lucro do tráfico de droga (marijuana), devido à posse de diversos aviões de lanchas de alta velocidade. Em 1986, o FBI e a DEA (Drug Enforcement Agency) conseguiram provas suficientes para os acusar de lavagem de dinheiro e fuga aos impostos. Bill e Don declararam-se culpados e serviram penas de prisão: 15 anos para Bill, 18 meses para Don.

Eles - em conjunto com Lanier, John Paul Sr. e John Paul Jr - foram considerados como os cabecilhas do escândalo de financiamento das suas atividades automobilísticas com o tráfico de marijuana, ao ponto de a IMSA chegar a ser chamada de "Internacional Marijuana Smugglers Association".  

Don Whittington vive hoje em dia na Florida, onde gere um negócio de aviação, enquanto Bill morreu em 2021, num acidente aéreo, e Dale morreu mais cedo, em 2003, aos 43 anos. 

Noticias: Gabriel Bortoleto confirmado na Sauber


A Sauber confirmou esta quarta-feira que o brasileiro Gabriel Bortoleto, atualmente na Formula 2, será seu piloto para a temporada de 2025. Ele correrá ao lado do alemão Nico Hulkenberg, na equipa que se chamará de Audi em 2026. Isto também significa o regresso de um piloto brasileiro à categoria máxima do automobilismo, depois de Pietro Fittipaldi, que correu pela Haas nas últimas duas corridas do campeonato do mundo de 2020. A duração do contrato não é totalmente sabida, mas é certo que ambos estarão presentes em 2026, o primeiro ano da Audi na Formula 1.

O nome de Bortoleto, de 20 anos - nasceu a 14 de outubro de 2004 - surgiu depois das suas performances quer na Formula 3, quer agora na Formula 2, altura em que ele já era piloto de testes e desenvolvimento da McLaren. Depois de negociações entre ambas as partes, no fim de semana de Interlagos se soube que ele já tinha sido libertado das suas obrigações como piloto da McLaren, logo, o seu anuncio pela Sauber-Audi para 2025 seria uma questão de tempo. 

"Este é um dos projetos mais excitantes do automobilismo, senão o mais excitante. Juntar-me a uma equipa que combina uma história tão rica no desporto como a Sauber e a Audi é uma grande honra.", começou por afirmar o piloto de Osaco, nos arredores de São Paulo.

Para além de ser simplesmente membro [da equipa], pretendo crescer com este ambicioso projeto e atingir o auge do desporto automóvel. Estou extremamente grato pela oportunidade que a equipa me deu e pela oportunidade de trabalhar ao lado de um piloto experiente como o Nico [Hulkenberg].

Ambos os programas têm um historial comprovado de incentivo a jovens talentos e estou confiante de que juntos escreveremos a nossa própria história de sucesso.”, continuou.

Do lado da Audi, Mattia Binnoto afirmou o seguinte sobre o seu novo recruta:

O Gabriel já demonstrou nas categorias juniores que tem tudo para ser um piloto vencedor”, começou por destacar o italiano. “Estamos muito satisfeitos por ele se tornar membro da equipa Sauber e Audi.", continuou.

Juntamente com o Gabriel, estamos numa viagem rumo ao sucesso e vamos evoluir para uma força unificada para moldar uma nova era para a Audi no desporto automóvel. O Nico e o Gabriel representam a combinação ideal de experiência e juventude, posicionando-nos fortemente para o futuro.”, concluiu.

A chegada de Bortoletto acontece numa altura em que a Sauber é a última classificada do campeonato de Construtores, sem conseguir qualquer ponto com os seus pilotos, o finlandês Valtteri Bottas e o chinês Zhou Guanyou. Quanto ao destino dos pilotos para 2025, fala-se que Bottas poderá ser o terceiro piloto da Mercedes, ao lado de Kimi Antonelli e George Russell.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

CPR: Divulgado o calendário de 2025


A FPAK, Federação Portuguesa de Automobilismo e Kating, divulgou hoje o calendário para a temporada de 2025. Sem alterações em termos de calendário, ou seja, a entrada e saída de ralis, a temporada de 2025 começa em Fafe, no fim de semana de 7 e 8 de março, e termina na Marinha Grande, com o Rali Vidreiro, no fim de semana de 17 e 18 de outubro. Das oito provas, uma delas será o Rali de Portugal, que acontecerá entre os dias 15 e 18 de maio.

Também como em 2024, metade dos ralis foi em terra, na primeira metade (Fafe, Algarwe Terras D'Aboboreira e Portugal) e a outra metade será em asfalto (Castelo Branco, Madeira, Transibérico e Vidreiro)

Eis o calendário completo:


7 e 8 março - Rallye Serras Fafe Felgueiras Boticas e Cabeceiras Basto

28 e 29 março - Rallye Casinos do Algarve

2 e 3 maio - Rali Terras D’ Aboboreira

15 a 18 maio - Vodafone Rally de Portugal

13 a 14 junho - Rali Castelo Branco e Vila Velha Rodão

31 julho a 2 agosto - Rali Vinho da Madeira

19 e 20 setembro - Rali da Água Transibérico Eurocidade Chaves Verin

17 e 18 outubro - Rali Vidreiro Centro Portugal

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

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A cada quatro anos, a eleição presidencial americana é a mais seguida do mundo. Dois partidos, o Democrata e o Republicano, escolhe o seu candidato e a campanha acontece ao longo do ano para na primeira terça-feira de novembro, mais de 300 milhões de eleitores cumpram o seu dever, para escolher, não o seu presidente, mas... os delegados para um Colégio Eleitoral de 538 votos, onde ali, quem tiver uma maioria de 270, será eleito presidente. E a ansiedade de oito mil milhões de pessoas está nos píncaros, porque o destino do mundo está dependente... desta democracia. A cada quatro anos. 

Isto é um pequeno resumo de algo mais complicado. Para muitos, é o destino do mundo que está nas mãos deles. Esta eleição termina nesta terça-feira, mas se calhar... a contagem de votos poderá não acabar na quarta-feira, até poderá arrastar para o resto da semana, aumentando o nervosismo dos americanos... e do mundo.

Mas então, o que a Formula 1 tem a ver com isto? Como tudo na vida, todos são tocados por ela, direta ou indiretamente. Um exemplo? Kamala Harris, a atual vice-presidente e a candidata do Partido Democrata, anunciou que gosta de ver Formula 1 quando pode.   

Numa entrevista feita no inicio de outubro ao programa de Howard Stern, na rádio Sirius XM, a candidata do Partido Democrata admitiu que adora Formula 1: "é fantástica - nós adoramos, toda a família adora". 

Questionada se o seu entusiasmo pela Fórmula 1 era uma "coisa de campanha", ela respondeu: "Oh, Deus não! Mais recentemente, não tenho podido assistir porque estou em campanha. Além disso, depende também onde são as corridas, o momento do dia”. Com ela a referir que Lewis Hamilton é o seu piloto favorito, ela mostrou-se estar dentro da atual situação do marcado de pilotos, e ainda deu um conselho ao radialista: "Ele vai deixar a Mercedes. Deveria ver [a Formula 1], pode ficar viciado, é fantástico".

Não é a primeira vez que presidentes e ex-presidentes aparecem nos circuitos. No infame GP de Dallas de 1984, marcado pelo enorme calor que se fez sentir naquele fim de semana, para além do asfalto destruído à volta do circuito de Fair Park, há a história de, no dia da corrida, Stirling Moss se apresentou a um dos espectadores VIP, o ex-presidente Jimmy Carter, ao que ele mesmo ficou surpreso por não saber quem ele era, como era admirador das suas façanhas como piloto!

Este ano já tivemos Donald Trump em Miami, nas boxes da McLaren, a convite de Zak Brown, onde foi cumprimentado pelos pilotos da equipa, numa movimentação que dividiu opiniões, como costuma acontecer no caso dele. 

Fazendo parte da Liberty Media, uma companhia americana, com três Grandes Prémios no calendário, o único país que tem tantas corridas, e com todo o "hype" por causa do "reality show" da Netflix "Drive to Survive", seria inevitável que a Formula 1 seria um assunto que até candidatos presidenciais fariam a sua aparição. Foi assim em 2024, e se calhar no futuro, aparecerão mais ocasiões onde da Formula 1 entrará no discurso de quaisquer candidatos, não importa o partido. É apenas um oportnidade para aparecer... ou são os gostos das pessoas. Até os politicos as têm.

Youtube Formula 1 Vídeo: O rescaldo do GP do México

Acabou agora mesmo o GP do Brasil (ou se São Paulo, se quiserem), mas ainda se fala do GP anterior, o do México (ou da Cidade do México), onde ainda se fala das incidências dessa corrida, especialmente as batidas, os despistes e outros incidentes ente pilotos que fizeram com que as equipas pagassem as multas que eles levaram pelo seu comportamento em pista. 

E claro, também se fala da atitude entre Max Verstappen e Lando Norris, que... cansa? De uma certa forma, começa a ser algo cansativo. E nem sei se fará um vídeo na semana que vêm sobre os eventos de Interlagos... seria louco se não fizesse. 

domingo, 3 de novembro de 2024

As imagens do dia





Este GP brasileiro foi arrancado a ferros, digamos assim. Mas Interlagos é uma grande pista, tem um grande público - e agora este ano, com os argentinos, será mais - e quando a chuva aparece, ainda consegue ser melhor. Em muitos aspetos, é um grande democrata, implica mais do piloto que do carro, e o que vimos hoje foi esse triunfo.

Mas também nesta tarde de domingo, queria mostrar alguns momentos que simbolizam esta corrida, e a Formula 1, em geral. Como retratos do momento, o contrário da frase "a imagem que vale por mil palavras", aqui explico alguns dos momentos desta corrida, que acabam por ser momentos que decidem este campeonato. E acho isso mesmo: hoje, o campeonato foi decidido debaixo de chuva, em solo brasileiro, e mostrou quem é melhor piloto, deixando os carros de lado. 

Momento 1: Lance Stroll saiu na volta de aquecimento, acabando na gravilha.

As imagens desse momento apareceram nas redes sociais, e claro, as pessoas são cruéis. Sempre foram, especialmente quando se trata de Lance Stroll, cujo pai comprou a Aston Martin e gastou centenas de milhões de dólares - o último dos quais, quando contratou Adrian Newey para trabalhar nos chassis, a partir de 2026. É o piloto menos adorado do pelotão e pior, tudo isto acontece no Brasil, que tem como piloto de reserva um brasileiro, Felipe Drugovich, campeão de Formula 2 em 2023.

Das bancadas, ouvia-se "Drugovich, Drugovich". E momentos depois, quando acabou na gravilha, os insultos viraram para "burro, burro, burro!

Os brasileiros, como outras nações automobilísticas por excelência, acham-se numa espécie de "direito divino" para ter os seus pilotos na Formula 1, e desde 2020, não tem. E quando reparam no talento desperdiçado por um filho de papá... não perdoam. 

Um amigo meu disse isto nas redes sociais: "Hamilton homenageou Senna antes da corrida, Stroll homenageou Prost na volta de apresentação." Sem dúvida, o piloto canadiano está sob pressão. 

Momento 2: A conferência de imprensa pós-corrida de Lando Norris.

Lando Norris, sexto classificado do Grande Prémio, falou o seguinte na conferência de imprensa pós-corrida: "Tu fazes uma aposta e lucras com isso. Isso não é só talento, é sorte". 

Sinceramente, quem viu a corrida, e depois ouviu isto, tende a pensar que é conversa de mau perdedor. Ele partiu da pole-position e perdeu-a na primeira volta para George Russell, ao mesmo tempo que MaxWerstappen ganhou cinco lugares na grelha, no começo de uma das melhores corridas da sua carreira. Norris errou algumas vezes na corrida, e acabou num pálido sexto lugar, perdendo pontos e se calhar, entregou o campeonato ao piloto neerlandês. 

Max é um tubarão, um assassino. As manobras de defesa que ele anda a fazer contra Norris nas corridas anteriores podem ser censuráveis, mas o britânico não tem esse "killer instinct". Pode ter outras coisas, ritmo e velocidade, agora que tem um excelente chassis e está na posição de conseguir dar o título de Construtores à McLaren, algo que não acontece desde 2008, mas é porque Oscar Piastri também colabora. E nos momentos decisivos, ele encolhe, ou sai perdedor. 

E há algo intrinsecamente errado na declaração dele. Para teres talento, tens de ter sorte. Max, em 2016, em Interlagos, e debaixo da chuva, teve uma manobre onde perdeu a traseira, e conseguiu controlar o carro, não só evitando bater no muro, como seguiu em frente e conseguiu regressar ao ritmo. Se fosse outro, teria batido no muro ou parado na pista e perdido tempo precioso. Sangue-frio? Sim. Mas também sorte. E com sorte, também ganhas corridas e campeonatos. 

E há outra coisa que está contra Norris: como é que faz pole-positions se no dia seguinte, não sabe arrancar bem e as perde na primeira curva? Nunca vi isso em Senna, Schumacher, Prost, Hakkinen, Montoya... nem sequer Gilles Villeneuve, que só conseguiu duas poles na sua vida. Se fosse eu, aconselharia o Norris a ver os filmes das partidas do canadiano e ver como ele conseguia passar seis ou oito carros para estar entre os da frente. Ou então, ver a partida do Max esta tarde, da 17ª posição.        

Eu temo que Norris seja em secundário, como Mark Webber ou David Coulthard. A sua chance é agora e irá perdê-la.   

Momento 3: A conferência de imprensa pós-corrida.

Max Verstappen, bem-disposto, questionou: “Estou curioso para saber onde andam os media britânicos por aqui. Será que tiveram que correr para pegar o voo?” 

A sala explodiu em gargalhadas.

Max poderá ter agora uma razão para se vingar da imprensa britânica. Aguentou durante todo este tempo a arrogância de - não da imprensa especializada - mas de uma certa imprensa tabloide que, nacionalista que é, sempre torceu para os seus pilotos, que acharam serem melhores que ele. Em muitos aspetos, aguentou as suas declarações - e a tensão entre ambos os lados começava a ser palpável ao longo dos meses - e hoje exerceu a sua vingança. E pode ter esse direito, e claro, no final, ganhará o campeonato.

Mas isto dá voltas. Apesar de hoje poder mandar a "boca", ganhou sarna para se coçar. Certa imprensa - voltem a ler, tabloides - não o perdoará. Guardará a humilhação para o dia onde se podem vingar. Isto não acaba aqui, se quiserem.

Mas hoje, claro, é o dia dele. 

Estes foram os momentos de um domingo de chuva em Interlagos. E é uma pegada, um momento na Formula 1, se calhar para mais tarde recordar.  

Formula 1 2024 - Ronda 21, Interlagos (Corrida)


Domingo iria ser um dia muito longo. Tão longo que alguns pilotos, no final de sábado, decidiram ajustar os seus despertadores para as 4:30 da manhã. As circunstâncias eram anormais: por causa da chuva constante, a qualificação fora adiada para domingo de manhã, a partir das 7:30, e depois dela, os pilotos andaram a reparar os carros para que pudessem estar prontos a tempo de correram. 

Como se esperava, à hora da corrida, as nuvens pairavam, cinzentas e ameaçadoras, sobre a pista. A pista estava húmida, e alguns duvidavam que mesmo com toda esta antecipação, se esta corrida iria chegar até ao fim.

A grelha estava toda baralhada. E mesmo baralhada! Max Verstappen, por exemplo, era o terceiro a contar do fim, por causa da má posição na grelha e da penalização que tinha de cumprir. Pior que ele, só Nico Hulkenberg e Guanyou Zhou. Em contraste, Lando Norris, o piloto que caça Max no campeonato, é o poleman e tinha uma grande chance de apanhá-lo na classificação geral, com George Russell e... o Racing Bulls de Yuki Tsunoda

E um ausente: Alexander Albon, que deveria partir de sexto. Carlos Sainz Jr iria partir das boxes.  

Todos os pilotos arrancavam com os pneus verdes, os intermédios, apesar de não estar a cair naquele momento. A previsão meteorológica fala que choverá 20 minutos depois da partida, e Max terá, claro, de passar toda esta gente para chegar aos da frente, e nos pontos. 


E logo na volta de apresentação... Lance Stroll saía da pista na curva 4, a Descida do Lago, caindo na gravilha. Resultado final? Primeira desistência da corrida, partida abortada e menos uma volta na contagem final. Mais alguns minutos para uma volta de apresentação, e as nuvens apareciam ameaçadoramente no céu, querendo despejar o seu conteúdo. Ao mesmo tempo, as bancadas cantavam, jubilantes. Não lhes interessava muito o que passava na pista, eles faziam a sua própria festa.

Nova volta de formação, tudo correu bem... e na partida, Russell conseguiu passar Norris, e enquanto não houve colisões entre eles, Max começou a passar piloto atrás de piloto, chegando a décimo no inicio da segunda volta. Em contraste, Pérez fez um pião e caiu para o fundo do pelotão. Logo na segunda volta, começou a cair pingos de chuva no terceiro sector, o da meta, mas isso não impediu dos pilotos acelerarem na pista. Tanto que Max era nono na quinta volta, passando Pierre Gasly.

Por esta altura, Norris já estawa na traseira de Russell, tanto passá-lo, com eles a afastarem de Tsunoda, o terceiro. Atrás, Max corria muito bem na chuva - quase um segundo mais rápido que boa parte do pelotão - e aproximava-se dos da frente. Na décima, passou Piastri e subiu para sétimo, e depois, passou Lawson. Entretanto, Hamilton despistou-se e foi apanhado por Franco Colapinto, que o atacou na travagem para o S de Senna. Quando o argentino passou, a multidão - parte dela argentina - entrou em delírio. 

Agora, as coisas estavam mais calmas. Max estava trancado atrás de Charles Leclerc, em sexto, num comboio liderado por Yuki Tsunoda, com Esteban Ocon entre eles. Todos se defendiam nas suas posições, e Max via os da frente irem embora. Na frente, Russell tinha dificuldades em aguentar Norris na liderança, mas contava com as condições para manter o comando. 


Max tentou atacar Leclerc na volta 23, mas o monegasco defendeu-se bem, na sua quinta posição. Charles Leclerc foi o primeiro a entrar nas boxes, na volta 25, mantendo intermédios, com Nico Hulkenberg a fazer o mesmo na volta seguinte. Na mesma altura, Norris atacava Russell na altura em que a chuva caia com mais força, e Nico Hulkenberg se despistava na curva 1, ficando preso por momentos. Era a volta 28, e o Safety Car Virtual entrava, e as boxes estavam agitadíssimas.

Acabado o Safety Car Virtual na volta 29, com Norris e Russell nas boxes, colocando intermédios, Max ficou na pista, acabando no comando. Tsunoda, Lawson e Pérez colocaram pneus para chuva total, porque por esta altura... era o dilúvio. Foi o suficiente para a entrada do Safety Car, imediatamente depois de Norris ter passado Russell na Reta Oposta. E no meio disto tudo, quem liderava? Esteban Ocon, no seu Alpine, com uma vantagem de sete segundos antes da entrada do Safety Car da Aston Martin. Era a 30ª volta.


Mas na volta 32, a bandeira vermelha. A razão? O Williams de Franco Colapinto bateu forte na subida para a reta da meta, e o carro ficou no meio da pista. Ainda não tinham chegado à metade da prova, o que até foi bom, quando muitos pensavam no pior. 

Os minutos foram passados com os carros a esperar por uma melhoria das condições, que só aconteceram por volta das 14 horas locais. A chuva tinha deixado de cair, com os pilotos a falarem nas estratégias para o futuro, sobre se continuariam com os pneus de chuva ou os intermédios. E no meio disto tudo, descobriu-se que Hulkenberg regressou com ajuda, e iria ser desclassificado.

A corrida recomeçou na volta 34, com Ocon na frente da corrida...  com Ollie Bearman e Guanyou Zhou a sairem de pista. Nessa volta, os pilotos tentaram ter aderência com pneus frios, e alguns tinham dificuldades nisso, como Norris - que perdeu o lugar para Russell - e Leclerc, que foi desafiado por Piastri, mas aguentou. E na frente, Ocon começava a afastar-se do pelotão. 

Os pilotos lutaram por aderência, e as coisas estavam complicadas. Visibilidade reduzida, e na volta 40, nova entrada do Safety Car, por causa do despiste de Carlos Sainz Jr, que acabou nas barreiras. Todos juntos, esperando pela limpeza e recomeço. Que aconteceu na volta 43, com Ocon na frente de Max.


O recomeço aconteceu com... Max ao ataque. Passou Ocon e começou a ir embora, mostrando ousadia, e que ele tinha tudo para ganhar. Em contraste, Norris saiu de pista no S de Senna e caiu para sétimo, e Fernando Alonso foi pior: despistou-se e caiu para último. Nas voltas seguintes, Norris tentou recuperar o tempo perdido, no meio do mau tempo e da visibilidade reduzida, mas depois, descobriu-se que ele era bem mais lento em termos de tempo que Max, numa média de segundo e meio por volta. Na 56ª passagem pela meta, altura em que os pontos iriam ser recolhidos na totalidade, Max tinha quase 10 segundos de vantagem sobre Ocon.

A parte final mostrou Russell a tentar apanhar Pierre Gasly para chegar ao pódio, mas a realidade foi esta: apesar das lutas e diversas tentativas de ultrapassagem, nada aconteceu de especial. E na frente, dando um avanço de 13 segundos sobre a concorrência, Max Verstappen rumava à meta para um triunfo daqueles que ficam nos livros, e com toda a certeza, um título mundial que, se calhar,  já era seu desde o inicio.


E assim também acabava um dia muito longo em Interlagos. A coisa boa é que depois disto, há uma pausa de duas semanas até Las Vegas, no regresso à America.        

Formula 1 2024 - Ronda 21 (Qualificação, segunda tentativa)


Poderemos falar porque é que a Formula 1, neste dias de hoje, teme a chuva. A razão? Não está preparada, simples. Posso falar dos maus pneus da Pirelli, uma inutilidade, aparentemente - os azuis, não os verdes, os intermédios. Poderemos também falar da pista em si, que aparentemente, com as mais recente intervenções, o escoamento da chuva piorou, especialmente em tempestades como aquela. Circulou ontem - e ainda circula - um vídeo onde veículos de todo-o-terreno passam sobre uma poça de água grande, do qual esta se acumulou ali por ação da gravidade e nada fazia escoar. Uma falha grave, imperdoável se fosse num autódromo europeu, por exemplo.

Mas também lembro de Suzuka 2014. Uma corrida debaixo de um tufão, onde os organizadores não quiserem alterar os horários, e acabou em tragédia. Esta geração mais nova já não aceita a morte numa competição como esta, não só porque é imoral, como também dá um grande prejuízo à competição. 

Resultado final: a qualificação acontecerá às 7:30 da manhã de domingo, e a corrida às 12:30. E as razões são bem simples: o tempo será pior neste domingo. A última vez que a Formula 1 começou bem cedo foi há 40 anos, em Dallas. E foi por causa de um asfalto que derretia com o calor, e tentaram correr sem acabarem por ser cozidos dentro dos seus cockpits... 

Com as portas abertas bem cedo - com algum atraso, mas aconteceu - a qualificação começou com céu carregado a asfalto húmido. E por causa disso foram logo para a pista, marcar tempos e despachar, digamos assim. Mas isso da pressa, como sabem, é inimiga da perfeição, apesar de terem calçado os pneus de chuva. 


E nos primeiros riscos, as saídas. Primeiro, Liam Lawson, depois Lance Stroll, que por muito pouco, poderia ter ficado preso na relva, mas continuou. Lando Norris queixava-se do "acquaplaning", e Valtteri Bottas arriscou, colocando intermédios. Primeiros tempos feitos... o primeiro despiste sério, o de Franco Colapinto, que acabou nas barreiras e fez acionar a bandeira vermelha.

Os minutos passados a tirar o carro do piloto argentino foram suficientes para que caísse uma carga de água no circuito, e claro, os que tinham pneus intermédios acabariam por calçar os de chuva, e aguentassem até esta abrandar. Essa gente, especialmente os que estavam na área de eliminação, só tinham uma coisa em mente: uma volta limpa, sem bandeiras amarelas. 

Alguns conseguiram... mas outros não. Yuki Tsunoda e Alex Albon conseguiram, mas Lewis Hamilton não. George Russell estava aflito, mas conseguiu um tempo entre os da frente, bem como Max Verstappen e Lando Norris, passando para a fase seguinte. Quem não conseguiu, e foram faxer companhia a Colapinto foram Lewis Hamilton, Oliver Bearman, Nico Hulkenberg e o Sauber de Zhou Guanyou.

Poucos minutos depois, aconteceu a Q2, e o tempo não estava melhor. Oscar Piastri tentou a sua sorte com pneus intermédios, e deu-se bem. Pouco depois, os pilotos trocaram de compósitos e os tempos começaram a baixar. Max fez 1.27,771 - era o possível... antes de Oscar Piastri tirar seis décimos ao tempo do neerlandês. 


Contudo, a dez minutos do final da sessão, Carlos Sainz Jr sai de pista e as bandeiras vermelhas foram mostradas pela segunda vez na sessão. Por essa altura, Piastri tinha melhorado para 1.25,179... mas os carros recolheriam às boxes por mais algum tempo, para tirar o Ferrari do lugar onde estava. 

Mas o regresso não durou muito: a um minuto do final, quando todos tentavam a sua sorte, evitando ficar de fora da Q3, Lance Stroll foi para a pista... e saiu rapidamente. Bateu forte, a sessão foi interrompida. Aliás, foi prematuramente terminada, com os Red Bull de fora: Max em 12º - 17, por causa da penalização - e Pérez em 13º. A fazer companhia estava Carlos Sainz Jr, por causa da batida, o Sauber de Valtteri Bottas e o Alpine de Pierre Gasly. Por incrível que pareça, mesmo com a batida, Lance Stroll era... oitavo na grelha! Tinha passado para a Q3, como, por exemplo, os Racing Bulls de Liam Lawson e Yuki Tsunoda. Lando Norris era o melhor, com Fernando Alonso em segundo. 

E agora, a Q3. 


Que não começou muito bem. Primeiro, apesar de não chover, as chances eram muitas de cair água das nuvens eram grandes. Os pilotos se esforçavam para marcar tempos, com Lando Norris a marcar 1.24,158, seguido de longe por Alex Albon, no seu Williams. Fernando Alonso tinha marcado um tempo porque sim, e quando puxava pelo carro, perdeu o controlo e bateu no muro de pneus, causando a segunda interrupção por bandeira vermelha. E o segundo Aston Martin para arranjar, muito trabalho para os mecânicos, sem dúvida. 

Removido o Aston Martin, com mais de uma hora de qualificação passada, e quando regressou, os pilotos começaram a marcar tempos para ficar o mais à frente possível na grelha, e com os intermédios calçados. Contudo, a três minutos e meio do final, nova amostragem das bandeiras vermelhas, com o acidente forte do Williams de Alex Albon. O piloto saiu do carro pelo seu pé, mas a Williams iria ter muito para reparar no pouco tempo que iriam ter até à corrida. Era a quinta bandeira vermelha da qualificação, o suficiente para algumas temporadas de Formula 1... 

No regresso, a chuva não aumentou e os pilotos mantiveram os intermédios. Os McLaren foram para a pista, mas avisados para não exagerarem, enquanto Russell ficou nas boxes à espera do último momento para entrar em pista, com os pneus ainda nas mantas de aquecimento. Contudo, Norris foi ao ataque, e faz 1.23,405, contra... Russell, que marcaria 1.23,578. Piastri tentou, mas perdeu o controlo do carro, sem bater, como Charles Leclerc, e o sortudo da manhã foi... Yuki Tsunoda, que conseguia 1.24,111, e a melhor posição de um piloto japonês numa grelha de partida na história. Ocon era quarto, no seu Alpine, ele que também gosta de correr à chuva, na frente de Liam Lawson, no segundo Racing Bulls. 


E assim acabou uma das mais complicadas qualificações da história do automobilismo. Um dia depois da data prevista, e com cinco bandeiras vermelhas. E agora é ver como será à tarde, à hora da corrida... com Lando Norris a ver o seu adversário bem atrás. Espero que tenha consciência que ele é muito bom à chuva.   

sábado, 2 de novembro de 2024

Formula 1 2024 - Ronda 21, Interlagos (Tentativa de qualificação)


Não há tempo, não há tempo. Como o coelho que está sempre a olhar para o relógio, no "Alice no País das Maravilhas", a Formula 1 só tem tempo para desempacotar, correr e empacotar. Afinal, este é o final de três semanas seguidas de Formula 1, que começou em Austin e na semana passada, estava na Cidade do México. Mas o mais interessante é que isso é só metade do espetáculo, porque os espectadores fazem a outra metade. A mais visível.

A grande novidade do fim de semana é na Haas. Kevin Magnussen está doente e no seu lugar, é chamado Oliver Bearman pela segunda vez pela equipa, depois de Singapura. O jovem de 19 anos deu-se bem na sexta-feira, colocando o seu carro na Q3 para a Sprint Race, confirmando que poderá ser um excelente piloto num futuro próximo.   

Depois da dobradinha da McLaren na corrida sprint - e de Oscar Piastri ter cedido o primeiro posto a Lando Norris - reduzindo a distância para Max em... dois pontos, a qualificação iria decorrer algumas horas depois desta corrida. Contudo, os comissários viram que o neerlandês poderia ter feito uma infração na altura do Safety Car Virtual, que lhe deu cinco segundos de penalização, caindo para quarto nessa corrida... e Norris ganhou mais um ponto. 


Mas neste sábado, apesar do tempo aparentava sol e calor, quando chegou a hora da qualificação, temia-se chuva. E quando chegou, foi o habitual "toró", ao ponto de, na hora quando deveria arrancar a qualificação, esta foi adiada até que a chuva parasse. E os minutos passaram, passaram... passaram. E a chuva não parava. 

16 horas... a chuva caía. 

E passavam os minutos... a chuva caía. Tinha sido forte, e em algumas partes, existia poças de água, onde os carros de todo-o-terreno tinham dificuldades em passar. Logo, os carros de Formula 1 não iriam passar ali, de forma alguma. Nas bancadas, as pessoas divertiam-se, à sua maneira, no jeito bem brasileiro de gostar da coisa. Cartazes a imitar memes das redes sociais, argentinos a saudarem Franco Colapinto como se fosse a reencarnação de Juan Manuel Fangio, gente a tratar Lewis Hamilton como brasileiro adotado - só faltam eles arranjar uma brasileira e oferecerem-lhe aulas gratuitas de português - todos se divertiam no meio da chuva. Afinal de contas, estavam em Interlagos, e a chuva até faz parte do folclore. 

Mas com o aproximar do final do dia, cerca das 18 horas locais, as chances de adiamento aumentavam. E a chuva abrandava, mas não parava. O Aston Martin que servia de Safety Car dava voltas à pista, mas nada mostrava que as condições estavam no mínimo para correr. E perto das 17 horas locais, a noticia: nada haveria para o resto do dia, a qualificação teria de ser amanhã, se fosse possível.  

Depois, no final do dia, souberam-se algumas coisas: houve inundações na cidade - precisamente em Interlagos - com ruas inundadas. E depois, também se soube dos horários da qualificação. 7:30 da manhã, três horas antes do Grande Prémio. É que é a melhor altura do dia, porque eles preveem chuva bem forte na parte da tarde. E claro, não querem perder tempo.


Poderemos falar sobre as razões porque evitam a chuva, mas isso seria um post à parte. Contudo, neste final de semana, com uma antecipação da corrida que não via em 40 anos, eu temo que este tenha sido a primeira parte de um pesadelo. Veremos.  

Noticias: Teste da Formula E deslocado para Jarama


O teste da Formula E, que normalmente acontece no circuito Ricardo Tormo, em Valência, será deslocado para o Autódromo de Jarama, e acontecerá entre os dias 5 e 8 de novembro, bem como o teste com as mulheres-piloto, para a mesma altura. Para além disso, a prova de MotoGP, previsto para 17 de novembro, foi cancelado e acontecerá noutra data e local a marcar. 

São estas as consequências da tempestade Dana, que aconteceu no passado dia 30 de outubro, que causou, até agora, 205 mortes, com mais de dois mil desaparecidos. É provavelmente uma das piores tempestades que Espanha conhece em mais de um século. 

No comunicado oficial da competição, afirma-se que nesta altura, efetuar tal coisa por ali seria uma distração pouco compreensível. 

"Embora possa ter sido possível avançar logisticamente, é importante não criar quaisquer distrações ou utilizar recursos valiosos que seriam muito mais bem servidos apoiando a comunidade local.", começa por se ler. "Assim, tomámos a decisão de garantir um local alternativo, e o Circuito del Jarama, em Madrid, irá receber o Teste Oficial de Fórmula E da FIA e o Teste Feminino na próxima semana, agendado de terça-feira, 5 a sexta-feira, 8 de novembro. O calendário completo do evento será confirmado oportunamente, à medida que enfrentamos uma série de desafios logísticos e operacionais que determinarão se será possível transferir as nossas operações de teste para Madrid dentro deste prazo." continua.

O teste da Formula E servirá como banco de ensaio dos Gen3 Evo, e evolução dos atuais bólidos da competição elétrica, com a capacidade de recarregamento. A nova temporada começará a 7 de dezembro, em São Paulo, no Brasil.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A imagem do dia


Não, não é uma má piada de Halloween, é real: a estátua de bronze de Gilles Villeneuve, que existe à porta do museu de Berthierville, no Quebec natal, foi roubada na noite de 30 para 31 de outubro, e o seu paradeiro, bem como os autores do seu roubo, ainda não foram encontrados. 

Dói o coração quando se vê que a estátua e só tem as botas. Para nós, é um monumento histórico e altamente simbólico”, lamenta Alain Bellehumour, diretor-geral do museu Gilles-Villeneuve ao Journal de Montreal.É uma falta de respeito e de cultura. Temos tão poucas figuras históricas que deixaram a sua marca no Quebeque como ele. Dá-nos arrepios saber que o partimos em pedaços, sem nos importarmos”, acrescenta, ainda em choque com o sucedido.

Jules Lassale, o escultor que criou esta estátua, inaugurada em 1984, dois anos depois do seu desaparecimento prematuro, também soube do sucedido e não conseguiu deixar de exprimir a sua surpresa e tristeza: 

Não é comum na região as pessoas envolverem-se tanto num projeto como este para prestar homenagem a uma pessoa importante”, explica Lasalle à mesma publicação. “É uma daquelas raras pessoas que ousou, que não teve medo de ultrapassar os seus limites. É um modelo e um exemplo para as gerações futuras”, concluiu. 

As autoridades suspeitam que os ladrões tenham levado a estátua - que custou 25 mil dólares canadianos em 1984, cerca de 64 mil dólares nos dias de hoje - para derreter o bronze. “Por 200-250 libras como estas, é uma pequena quantia do que vão receber”, lamenta Lasalle.

Noticias: Max penalizado em cinco lugares


Max Verstappen sofrerá uma penalização de cinco lugares na grelha para a corrida de domingo devido à troca do motor do seu Red Bull RB20. As suspeitas já vinham, desde o final da semana passada, quando ele se queixou da performance do motor, que já tinha sido reciclado do inicio da temporada. Por causa disso, ele substituiu a unidade de potência por uma nova, já depois do máximo permitido pelos regulamentos. 

O fim de semana do GP brasileiro será importante, porque terá corrida Sprint, e a performance do piloto neerlandês será importante na luta pelo título mundial, dado que, a três corridas do final, ele tem uma diferença de 47 pontos sobre Lando Norris, o segundo classificado. Caso perca pontos neste final de semana, a luta pelo título será mais cerrada e poderá arrastar até á prova final, em Abu Dhabi. 

A corrida (Feature) brasileira será na tarde deste domingo.

Noticias: Bearman pilota o Haas de Magnussen em Interlagos


O britânico Oliver Bearman pilotará o Haas de Kevin Magnussen nesta sexta-feira em Interlagos. O dinamarquês está doente para o fazer hoje, e estará a ser avaliado para saber se o poderá fazer durante o fim de semana, onde terá uma corrida Sprint.

O piloto de 19 anos, caso fique para o final de semana, correrá pela terceira vez nesta temporada, a segunda pela Haas, que será a sua equipa em 2025. Da primeira vez, substituiu Carlos Sainz Jr, na Ferrari no GP da Arábia Saudita, porque o piloto espanhol teve de ser operado a uma apendicite, enquanto da outra vez, em Singapura, foi por causa da suspensão por uma corrida sofrida pelo piloto dinamarquês por ter chegado ao limite dos 12 pontos na Super-Licença.

Ele ainda andou, na sexta-feira passada, no primeiro treino livre do GP do México pela Ferrari, onde acabou por se envolver numa colisão com o Williams de Alexander Albon.  

Ao todo, Bearman conseguiu sete pontos em duas corridas, e para já, neste fim de semana, já se mostrou ao conseguir o terceiro melhor tempo nos primeiros treinos livres.  

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A imagem do dia (III)





Como a Formula 1, a temporada da CART terminaria também naquele dia de 1999, mas quase um dia depois das pessoas terem assistido. Quem se lembra daquele domingo e viu na Europa, como eu, o dia tinha começado de madrugada, para ver Mika Hakkinen bater Eddie Irvine e conquistar o bicampeonato para a McLaren. E no final da tarde, mais de 12 horas depois, estava sentado na televisão para assistir à decisão da competição, no "superspeedway" de Fontana, na California. 

E como na Formula 1, dois pilotos estavam na luta pelo campeonato: o escocês Dario Franchitti e o colombiano Juan Pablo Montoya. E mesmo que não ganhasse, ele já tinha o título de "estreante do ano", por ter ficado com o lugar de Alex Zanardi e conseguido ganhar sete corridas até ali. 

Mas outro dos vencedores daquela temporada tinha sido o canadiano Greg Moore. Aos 25 anos, o piloto da Forsythe's Racing estava na sua quarta temporada e já tinha ganho cinco corridas. Veloz, agressivo, carismático, o seu estilo de condução poderia ser comparado com Gilles Villeneuve, pelo seu estilo temerário como abordava as curvas e como ultrapassava os carros, especialmente nas ovais. Em meados de 1999 queria dar o salto. E na corrida final, já tinha tudo definido: iria ser piloto da Penske, ao lado do brasileiro Gil de Ferran, num contrato que iria render mais de dez milhões de dólares nas três temporadas seguintes. 

E tinha mais planos para o futuro. Segundo um dos seus amigos, o brasileiro Tony Kanaan, a ideia dele era ir mais tarde na sua carreira para a NASCAR.   

Fontana iria ser a corrida final de Moore na Forsythe... e poderia não ter acontecido. Na sexta-feira, Moore, que se deslocava pelo "paddock" com uma "scooter" da Forsythe, sofreu uma colisão com outra "scooter" e lesionou-se num dedo. Acabou com um corte profundo, do qual recebeu 15 pontos. Ao longo do fim de semana, as duvidas eram grandes. Ao ponto de a Forsythe ter ido buscar Roberto Moreno para guiar o seu carro - ele já tinha a fama de ser o "super-sub" - e estar de prevenção, caso não passasse no exame médico na manhã da corrida. Na altura, o chefe dos médicos na CART era o Dr. Steve Olvey, e ele deu a luz verde, colocando uma proteção na mão e um volante especial. Dr. Olvey afirmou depois que a sua condição física, por si, nunca tinha sido a causa do acidente.

Partindo de último na grelha, a corrida não começou bem por causa de um acidente com Richie Hearn, que os colocou debaixo do Pace Car até à décima volta. Duas voltas depois, perdeu o controle do seu carro e embateu forte contra o muro interior. O impacto foi de 150 G's e a sua cabeça bateu, pelo menos, quatro vezes no chão, depois de se dividir em dois no primeiro impacto. Socorrido de imediato, cerca de 40 minutos depois, a sua morte foi anunciada. Tinha 25 anos. 

E depois disso, ninguém mais quis saber. Que o campeonato tinha acabado em empate e foi desempatado a favor de Montoya, porque ganhou mais corridas, que tinha sido o primeiro rookie a ganhar desde Nigel Mansell, em 1993. Porque a CART, quer os pilotos, quer os espectadores, sabiam que tinham perdido um excelente piloto e uma ótima pessoa. Não foi uma boa maneira de acabar um dia recheado de corridas, e decisões de campeonato. 

Cerca de um mês depois, a 20 de dezembro, a CART divulgou as conclusões do inquérito que fora feito depois do acidente, e chegaram à conclusão de que não existiu uma única causa. Excluíram falhas mecânicas, e apontam que, apesar de poderem afirmar que ele perdeu o controle do carro na curva 2, não conseguiram encontrar o porquê. 

E com isso, passam agora 25 anos.