domingo, 11 de setembro de 2016

A imagem do dia

James Hunt a caminho das boxes do GP de Itália, em 1976, após o seu acidente com Tom Pryce. O duelo entre James Hunt e Niki Lauda, em 1976 teve muito a ver na pista, e muito a ter... fora dela. Naquela temporada, as lutas de bastidores tiveram o seu impacto entre McLaren e Ferrari, que queriam ver se um ganharia ao outro de qualquer forma. E em muitos aspectos, o "bullying" que Enzo Ferrari fazia sobre os então comandados de Teddy Mayer chegava ao ponto de guerra. O "Commendatore" queria ganhar a qualquer custo, mas em 1976, a McLaren ripostou, e essa luta de bastidores foi tão emocionante como os da pista.

Alguns episódios são conhecidos: a desclassificação de Hunt em Espanha, revertida dois meses depois em apelo, e a contestação da Scuderia em Brands Hatch, depois do acidente na primeira volta, e os regulamentos da RAC que impediam que os pilotos pudessem usar os carros de reserva, e que só poderiam voltar a correr se dessem uma volta completa ao circuito, coisa que Hunt não o fez.

Mas esta história, posso garantir que vocês não vão ver no "Rush". É que desses dois episódios, houve um terceiro, pouco conhecido: a da gasolina no GP de Itália. E dos esforços que a Ferrari fez, após o acidente de Lauda, de encurtar as coisas de forma a que Lauda fosse logo declarado campeão, sem dar chances à concorrência. A primeira tentativa foi de canelar o GP da Austria, por achar que a pista era perigosamente veloz. Debalde: a Ferrari boicotou a corrida, mas a concorrência não. 

Em Monza, a McLaren decidiu usar uma mistura de gasolina especial da Texaco, que lhes davam um máximo de 101 octanas, bem potente, com uma margem de tolerância de uma ocatana. No total, os carros de Hunt e do seu companheiro de equipa, Jochen Mass, tinham uma tolerância de 101,8 octanas. Tudo perfeitamente legal. Contudo, na sexta-feira, os comissários de pista de Monza decidiram que os McLaren tinham violando o limite, esquecendo a tolerância. Resultado final? Os tempos foram-lhes retirados. Outra das vitimas disto foi o Penske de John Watson, que usou a mesma gasolina. 

Para piorar as coisas, choveu copiosamente em Monza no sábado, dia da segunda qualificação, e os tempos foram bem piores, ficando na cauda do pelotão. E para piorar as coisas, os três últimos, em teoria, não seriam qualificados, o que os colocaria fora da corrida... ainda antes de começar! Acabaram por alinhar por causa da desistência de três pilotos que estavam na sua frente: o austríaco Otto Stupacher, o italiano Arturo Merzário e o americano Brett Lunger. Curiosamente, dois deles, Lunger e Merzário, salvaram Niki Lauda das chamas, seis semanas antes...

Hunt fez uma corrida de raiva, que acabou cedo: na 11ª volta, ao tentar passar o Shadow de Tom Pryce, Hunt despistou-se na Variante della Roggia, acabando a corrida na gravilha. Regressou com o público a assobiar e a gozar com a cara do inglês. A McLaren recorreu da decisão, e a FIA deu-lhes razão, mas o mal estava feito: a Ferrari jogou com as suas armas, embora neguem tudo até hoje. E se forem falar com o Alastair Caldwell, então o diretor técnico da McLaren em 1976, ele vos jurará que a Ferrari sabotou a McLaren nesse fim de semana. E para piorar as coisas, duas semanas depois, a FIA decidiu dar razão à Ferrari no caso de Brands Hatch...

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