Jean-Pierre Van Rossem, o controverso financeiro que foi o patrocinador da Onyx em 1989, morreu hoje em Bruges, aos 73 anos de idade. A causa foi um cancro no pulmão, do qual ele tinha anunciado na sua conta do Facebook no inicio desta semana. O belga foi também deputado e ficou famoso por ter inventado um alegado sistema de multiplicação (leia-se, esquema piramidal) do qual batizou de "Moneytron".
Nascido a 29 de maio de 1945 em Bruxelas, Van Rossem era licenciado em economia na universidade de Ghent e fez uma pós-graduação na Universidade de Pensilvânia, sob a orientação de Lawrence Klein, futuro Nobel da Ecomomia. Com o tempo, também leu as teorias económicas de Karl Marx, e chegou à conclusão que, provavelmente, não seria uma má ideia se implodisse o sistema financeiro por dentro. De uma certa maneira, quis ser anarquista e gabava-se de ter tornado economista e estar por dentro do mundo da finança para "fo*** o capitalismo".
Nos anos 80, decidiu elaborar um plano ao qual chamou de "Moneytron". Basicamente, era um supercomputador onde fazia cálculos algorítmicos, onde aparentemente poderia prever ciclos económicos, de quando a economia estaria em alta ou em baixa. Van Rossem gabava-se que esse supercomputador daria retornos infinitos, gerando riqueza para toda a gente. Contudo, quando ele proibia o acesso a esse supercomputador a todo e qualquer curioso, começava-se a topar que havia algo de errado...
Contudo, com o Moneytron, Van Rossem conseguiu amealhar uma fortuna que chegou quase aos mil milhões de euros, valores de hoje. E no final de 1988, um dos que procurou multiplicar os seus ganhos era um belga chamado Bertrand Gachot, que pretendia dinheiro para entrar na Formula 1 através de uma equipa nova, a Onyx. Duplicou os seus ganhos - passou de perto de três milhões para seis milhões - e curioso, foi ver essa nova equipa. Pouco depois, patrocinou-a, conseguiu o capital maioritário e ficou hipnotizado com as luzes da ribalta da categoria máxima do automobilismo.
A Onyx tinha sido fundada no inicio da década de 80 por Mike Earle e Greg Field, e em 1989, tinha Paul Shakespeare como acionista maioritário. Tinham decidido entrar na Formula 1, depois de alguns anos na Formula 2 e Formula 3000, e contrataram Alan Jenkins para fazer um chassis simples, mas funcional, com motores Ford V8 de 3,5 litros, preparados pela Cosworth. Van Rossem comprara as ações de Shakespeare para ser o centro das atenções e mandar na equipa, que tinha como pilotos Gachot e o sueco Stefan Johansson. O primeiro ano foi formidável, com seis pontos e um terceiro lugar para o veterano sueco no GP de Portugal, no Estoril.
Contudo, Van Rossem, que queria, entre outros, um motor Porsche V12 para a equipa, estava em sarilhos. A bolha da Moneytron tinha explodido e as autoridades belgas estavam a investigá-lo por fraude. Ele, que tinha um jato Gulfstream e mais de uma centena de Ferraris, decidiu livrar-se da equipa para pagar as dívidas que existia. No ano seguinte, fundou um partido, o ROSSEM, de cariz populista e de protesto, mas o seu propósito era de evitar ser preso. Isso não o impediu de ser condenado a cinco anos de prisão por fraude, que cumpriu depois de ver esgotados todos os seus recursos, e quando terminou o seu mandato, em 1995.
Quanto à Onyx, acabou em agosto de 1990, depois de ter sido comprado pelo suíço Peter Montverdi e ser guiado por pilotos como o finlandês J. J. Letho e o suíço Gregor Foitek.
Nos anos que se seguiram, depois de ter cumprido a pena de prisão, escreveu livros, participou em programas de televisão como figura pública, onde não deixava de dizer o que pensava - chegou a gritar "Viva a República!" na coroação do Rei Alberto II da Bélgica, em 1993 - e acabou pobre, numa casa em Bruges, depois de ter vivido uma vida de luxo... com o dinheiro dos outros. Ars lunga, vita brevis, Jean-Pierre.
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