Em 1904, o automobilismo já tinha percorrido a sua primeira década, passando de corridas entre cidades para os inícios de uma competição de circuito fechado. Milhares de marcas de automóveis tinham nascido, a grande maioria na Europa, e mais algumas dezenas na América. Ainda não se tinha decidido qual seria o sistema de propulsão para os carros de estrada, entre o vapor, a eletricidade e os motores de combustão interna. Mas este último tinha há muito sido o modelo de eleição para as corridas automobilísticas.
Nesse ano, a grande corrida era a Gordon Bennett Cup, uma competição entre nações, com carros de países como França, Alemanha, Bélgica, Reino Unido e Itália, entre outros. Decorria na Alemanha, num circuito fechado com... 128 quilómetros de diâmetro na região dos montes Taunus, numa corrida que durou quatro voltas - 527 quilómetros no total. Marcas como Mercedes, Fiat e Wosleley participavam nessa corrida.
O primeiro carro partiu às 7 da manhã do dia 17 de junho e ao final de cinco horas e 50 minutos, o vencedor acabou por ser o francês Léon Théry, a bordo de um Richard-Brasier, que bateu o Mercedes do belga Camile Jenatzy, que cinco anos antes, tinha sido o primeiro piloto a rodar a mais de 100 km/hora no seu protótipo elétrico "Jamais Contente".
No regresso dos franceses a Paris, com o troféu nas mãos, o Automobile Club de France decide reunir-se para formar uma associação que reúna os Automóveis Clubes que começam a surgir um pouco por todo o mundo, e reconhecer aqueles que poderão surgir no futuro. Deram o nome de "Association Internationale des Automobile Clubs Reconnus", ou a sigla de AIACR.
Os seus membros iniciais? Quase todos europeus: França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Itália, Países Baixos. Os Estados Unidos foram a excepção à regra. Com o tempo, crescerão para acolher mais de 200 federações - há países que tem mais de uma federação, a automóvel (no caso português, é o ACP, o Automóvel Clube de Portugal, fundado em 1905) e a desportiva, que em Portugal é representada pela FPAK, a Federação de Automobilismo e Karting.
A escolha para presidente acabou por cair no franco-belga Étienne van Zuylen van Nyevelt. Então com 43 anos, era um barão que tinha sido o primeiro presidente do Automobile Club de France, em 1895, e as suas qualidades de diplomata vinham de longe: seu pai tinha sido embaixador, o seu avô, o presidente da câmara de Bruges, uma importante cidade belga. Casou-se com um membro da família Rothschild e tinha uma paixão pela equitação, bem como o automobilismo.
Dezoito anos depois da sua fundação, em 1922, a AIACR decidiu separar o ramo desportivo do ramo automobilístico, criando assim a "Comission Sportive International", que iria elaborar os regulamentos desportivos internacionais das diversas competições, e dar títulos a campeões, primeiro de Construtores, depois de pilotos, e em especial, na Europa. Apenas em 1946, quando a AIACR ser renomeada de FIA, é que elaborou os regulamentos daquilo que viria a ser a Formula 1, o Mundial de Ralis, o Mundial de Kart e de Endurance, entre outros, todos sob a capa da CSI, que em 1978 viria a ser chamada de FISA. Em 1993, ambas as entidades, FISA e FIA, iriam fundir-se.
Quanto ao resto, a Copa Gordon Bennett desaparecerá depois de 1905, para dar lugar ao Grande Prémio de França, o primeiro de todos os "Grand Prix". Léon Thery morrerá em 1909, aos 29 anos, vítima de tuberculose. A Richard-Brasier desapareceu em 1930, vítima da Grande Depressão, e Étienne van Zuylen van Nyevelt retirou-se da sua posição como presidente em 1931, três anos antes de morrer. A FIA, nas suas múltiplas encarnações, continua a lidar até aos dias de hoje com os interesses do automobilismo no mundo inteiro e tenta expandir com novos eventos, como o FIA Motorsport Games. Feliz Aniversário!
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