terça-feira, 20 de maio de 2014

Os Pioneiros: Capitulo 19, novas competições em novos lugares

(continuação do capitulo anterior)



UMA NOVA POTENCIA NO AUTOMOBILISMO


Se os Estados Unidos estavam a estabelecer-se como potência, construindo competições, outro país também estava a entrar em cena no automobilismo mundial: a Itália. A região da Lombardia e do Piedemonte, altamente industrializadas, eram o embrião de várias marcas de automóveis e de uma paixão pelo automobilismo que chega até aos nossos dias. Desde 1895 que havia corridas em Itália, com uma prova que ligou Turim a Asti, e de volta. Quatro anos depois, em 1899 já havia corridas e rampas em sitios como Verona, Brescia, Bolonha, Treviso e Mantova, entre outros. E já apareciam os primeiros nomes: Giovanni Agnelli, Ettore Bugatti, Luigi Storero.

Nesse mesmo ano, em Turim, Agnelli e vários investidores decidiram construir uma sociedade para construir automóveis, de seu nome "Fabrica Italiana de Automobili di Torino", cuja sigla se tornou FIAT. A primeira corrida do qual se ouviu falar de um carro dessa marca foi em junho de 1900, quando Felice Nazzarro venceu a sua primeira corrida a bordo de um carro com seis cavalos. Outro piloto cedo se juntou: Vicenzo Lancia, então com 19 anos.

Em 1901, acontece o primeiro "Giro D'Itália" automobilistico, uma prova de 1641 quilómetros, com partida em Turim e chegada em Milão, vencida por Nazzarro, no seu Fiat de de 3.8 litros. E em 1903, já começavam a levar uma equipa para provas internacionais, mais concretamente para o Paris-Madrid, com Storero e Lancia ao volante, e no Circuit des Ardennes, com Lancia e um jovem de 20 anos, Alessandro Cagno.


Em 1904, as coisas começam a ficar mais sérias. Levam uma equipa pela primeira vez à Gordon Bennett Cup, com três Fiat para Cagno, Lancia e Storero, e em setembro, decide-se fazer uma competição à volta de Brescia, num circuito de 176 quilómetros, com passagens por Cremona e Brescia. Nove pilotos estavam presentes, e com algum contingente estrangeiro: Georges Teste, num Panhard; Victor Hemery e Arthur Duray, ambos em Darracq, que corriam ao lado de Lancia (Fiat), Cagno (Fiat), Nazzarro (Panhard) e o Conde Vicenzo Flório (Mercedes).

Flório nasceu a 18 de março de 1883, em Palermo, na Sicila. Neto de Vicenzo Flório, que tinha fundado uma companhia de vinhos, e do qual fez fortuna. O neto cedo se apaixonou pelo automobilismo, e viu o seu potencial para elevar as vendas de automóveis no seu país, bem como prestigio dos que corriam. Em 1904, decidiu oferecer um prémio de 50 mil liras aos organizadores da Coppa Brescia, uma corrida à volta da cidade com o mesmo nome, para o engrandecer. Os organizadores decidiram rebatizá-lo de Coppa Florio.

A corrida aconteceu a 5 de setembro, e foi uma luta a três entre Flório, Teste e Lancia. No final, Lancia superou Teste em pouco menos de 30 segundos depois de uma corrida de 372 quilómetros, com duas voltas ao circuito desenhado em Brescia. Flório apareceu mais de cinco minutos depois, completando o pódio.

A ideia de uma competição num circuito iria ajudar a sedimentar o automobilismo um pouco por toda a Itália, e o jovem Flório começou pensar na ideia de ter algo assim na sua Sicilia natal. Os meses seguintes seriam dedicados a maturar essa ideia.


A PRIMEIRA VANDERBILT CUP


Quando chegaram a paragens americanas as noticias sobre a vitória de George Heath na Corrida das Ardenas, os americanos fizeram dele o seu primeiro herói automobilístico e certamente, o cabeça de cartaz da primeira Taça Vanderbilt, que iria realizar-se a 8 de outubro, em Long Island, num circuito de 48 quilómetros e no qual os pilotos iriam dar dez voltas para ver quem decidiria o vencedor. Ao todo, 18 carros apareceram na corrida, mas destes, 13 dos bólidos eram europeus. As notáveis excepções eram os Pope-Toledo de Herbert Lyttle e Spyder Webb, o Packard de Charles Smith, o Royal de Joe Tracy.

Dos europeus, destacava-se George Heath, que trouxe o seu Panhard consigo, acompanhado por Georges Teste e Henri Tart, e tinha como rivais pilotos como Albert Clement, com o seu Clement-Bayard fabricado pelo seu pai, os Mercedes de Christian Werner, Geo Arents, Al Campbell e Frank Croker, bem como os Fiat de Giuseppe Sartori, William Wallace, Karl-Klaus Luttgen, e por fim, o De Dietrich de Fernand Gabriel.

Quando se soube do desenho do percurso, todos ficaram contentes... menos os habitantes locais. Eles receavam a multidão proveniente de Nova Iorque fosse perturbar a pacatez da zona, e constituiram-se em associação para impedir a corrida. Mas não conseguiram impedir a corrida, e parecia que os seus piores receios se confirmassem quando viram ao longo do percurso mais de 50 mil pessoas logo na manhã da corrida.

Quando Campbell foi primeiro a partir, constatou com horror que em várias partes do percurso, havia pedaços de vidro e pregos no sentido de fazer com que os pneus se rebentassem. Este evitou as armadilhas, mas acabou por ser ultrapassado por Georges Teste, que era o líder no final da primeira volta. Quando passou por lá, ia a mais de 120 quilómetros por hora. Na segunda volta, porém, houve um acidente grave quando o Mercedes de Arents se despistou e o seu mecânico acabou por morrer.

Teste manteve a liderança, mas tinha atrás de si George Heath. A pressão aconteceu até que na quarta volta, um dos cilindros do carro de teste cedeu e o comando caiu nas mãos de Heath. Mas nessa altura, já era pressionado por Albert Clément, na sua própria máquina. Heath foi o líder até à sétima volta, quando Clement conseguiu passar, mas Heath não desistia, gerando um duelo do qual os espectadores estavam animados. Heath passou-o na última volta e conseguiu um avanço de um minuto e 28 segundos, mais do que suficiente para alcançar a vitória na primeira edição do Vanderblit Cup. Clement atravessou pouco tempo depois, e estes foram os únicos que atravessaram a meta em condições, pois a multidão em delírio decidiu celebrar os seus heróis.

(continua no capitulo seguinte)

1 comentário:

Ron Groo disse...

To curtindo muito esta série.