Se o ambiente naquela sexta-feira de maio não era de cortar à faca, pouco faltava. Os pilotos, jornalistas e espectadores pareciam não ter descanso, depois de Imola, e ainda por cima, Karl Wendlinger estava a lutar pela vida. A Sauber tinha-se retirado da corrida por causa do que tinha acontecido ao seu piloto, e tudo estava em dúvida. Até à própria existência da Formula 1.
Foi nesse ambiente que dois grupos se reuniram. O primeiro, da FIA e da FOM, com Bernie Ecclestone e Max Mosley, então presidente da FIA, a tentar algo para mostrar ao mundo que estavam a reagir aos eventos.
E a quantidade de medidas naquele final de semana foram provisórias mesmo. Excepto duas.
Aparte de abrir uns buracos nos chassis - alguns perderam downforce, outros nem por isso - as medidas que ficaram até aos dias de hoje foram a limitação de velocidade nas boxes, e no Mónaco, foi para meros 80 km/hora. Bem lentos para carros muito rápidos como aqueles. A segunda medida foi a colocação de um degrau de madeira nos carros, e com um desgaste relativo para poder passar, caso contrário, levariam com uma desclassificação. De uma certa maneira, foi uma resposta à alegação de que a pressão dos pneus num carro com fundo plano ajudou no desastre de Ayrton Senna, duas semanas antes.
O segundo grupo, dos próprios pilotos, decidiram-se unir para dizer às entidades do automobilismo e os organizadores dos Grandes Prémios, que era altura de mexer nos circuitos para diminuir a velocidade dos carros e melhorar as curvas "cegas", logo, perigosas.
Ou seja, naquele final de semana, a GPDA acordou, depois de uma longa hibernação.
Na realidade, tinha acordado naquele domingo de Imola. E muito provavelmente, um dos seus líderes seria Ayrton Senna, se não fosse o seu acidente fatal. Duas semanas depois, Gerhard Berger dava a cara, ao lado de Damon Hill, Niki Lauda e Michael Schumacher. E a missão era clara: identificar os pontos críticos e modificá-los, de modo provisório, para depois fazer o trabalho com mais calma para 1995 e seguintes.
Para Berger, foi ideal, porque por muito tempo, pensou pura e simplesmente... pendurar o capacete.
Não foram dias fáceis. O seu melhor amigo na Formula 1 tinha morrido, para além de um compatriota seu, e foi dos únicos que assistiu a ambos os funerais. Piloto da Ferrari e a caminho dos 35 anos, Berger também tinha sido uma das vitimas de Tamburello, cinco anos antes, ainda por cima, o carro pegou fogo, com ele a ser retirado menos de um minuto depois, com queimaduras nas mãos.
Durante esse tempo, considerou seriamente a retirada imediata: pendurar o capacete e entregar o volante (se calhar) a Nicola Larini e ir para casa pensar na vida depois da Formula 1. Contudo, chegou à conclusão que a melhor maneira de honrar a memória de ambos seria correr e lutar pelos seus direitos.
Eles decidiram reagir. Agora era saber se isso iria ajudar a tempestade passar.
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