domingo, 12 de maio de 2024

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Aquela quinta-feira, no Mónaco, deveria ser de ressaca. Mas acabou por ser uma de pesadelo. A semana anterior tinha sido aquela onde os funerais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger aconteceram, em sítios distantes no mundo. O mundo estava ainda a tentar sacudir o pesadelo, mas sobretudo, o de encarar o primeiro Grande Prémio depois. Muitos sabiam que a vida e a Formula 1 iria continuar, e que algumas mudanças teriam de acontecer para que a segurança fosse aumentada e os pilotos ficassem ainda mais seguros.

Contudo, o que os pilotos, as equipas, o público e os responsáveis da FIA não sabiam era que o pesadelo iria continuar. E por causa disso, quase cederam ao pânico. 

A meio da primeira sessão de qualificação, o Sauber de Karl Wendlinger perdeu o controle na saída do túnel e embateu a mais de 270 km/hora numa barreira de plástico cheia de água. Rapidamente socorrido, foi levado para Nice, onde imediatamente informaram que estava em coma devido ao embate e subsequente desaceleração. Ao saber disso, a Sauber retirou os seus carros, aparentemente, tendo consciência de que existia uma falha de segurança neles, o modelo C13.

A temporada de Wendlinger tinha sido muito boa. Fora sexto em Interlagos e quarto na infame corrida de Imola, atrás dos pilotos que estiveram no pódio, o Benetton de Michael Schumacher, o Ferrari de Nicola Larini e o McLaren de Mika Hakkinen. E tinha igualdado o melhor resultado da sua carreira na Formula 1 pela terceira ocasião. 

Nascido a 20 de dezembro de 1968, na localidade austríaca de Kufenstein, Wendlinger foi campeão alemão da Formula 3 em 1989, suficiente para que a Mercedes o contratasse para figurar no programa de jovens pilotos. Entre eles estavam dois alemães: Heinz-Harald Frentzen e Michael Schumacher. Nesse ano, a Mercedes confiava na equipa Sauber, criado em 1970 pelo suíço Peter Sauber, e que começara a correr nas rampas suíças - as corridas de automóveis foram abolidas em 1955, depois do acidente nas 24 Horas de Le Mans. Em 1991, correu ao lado de Schumacher e Fritz Kreuzpointer, acabando na quinta posição, depois de um problema no inicio os ter colocado no fundo do pelotão. 

Para além disso, uma temporada razoável na Formula 3000 deu-lhe a sua oportunidade na Formula 1, pela March, nas duas últimas corridas do ano. Ficou em 1992, onde numa equipa em desagregação, conseguiu os seus primeiros pontos, ao conseguir um quarto lugar no GP do Canadá, em Montreal. Tudo depois de um apelo na rádio por dinheiro, em troca de um canto no chassis... 

Em 1993, foi para a Sauber, que tinha passado o ano a preparar-se para o salto para a Formula 1. eles queriam o envolvimento da Mercedes, mas eles recusaram-se - só aconteceria em 1994 - e depois de um começo difícil, conseguiu um sexto lugar no Canadá e um quarto lugar em Itália. No final da temporada, sete pontos e o 12º lugar da geral tinham mostrado alguma consistência, mas não o "salto" para as grandes equipas. Mas, com o arranque da temporada de 1994, parecia que estava a conseguir aquilo que desejava.

E depois, aconteceu o desastre. E parecendo que não, as coisas ficaram na corda-bamba. Falava-se do cancelamento do Grande Prémio, se ele morresse nas horas seguintes, Bernie Ecclestone e Max Mosley estavam a tentar manter a calma em mais uma tempestade. Os pilotos decidiram reavivar a GPDA, Grand Prix Drivers Association, e prometiam que iriam ver todos os circuitos em busca de pontos perigosos. Todos prometiam fazer algo para que não acontecessem mais mortes, mas pareciam que estavam ainda dentro da tempestade. E a Formula 1, pela primeira vez em muito tempo, começava a ficar em dúvida.   

Dali a 19 dias, Wendlinger acordará do coma, e no final daquele ano, regressará a um cockpit de Formula 1. Mas muitos afirmarão que não será o mesmo.   

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