De uma certa forma, é o final de um tempo. Clarkson tem 64 anos, May 61, Hammond 55. Já não são jovens e querem viver uma reforma confortável, com os seus rendimentos. Especialmente Clarkson, que tem uma quinta, quer ser agricultor e deseja, entre outras coisas, montar uma cervejaria artesanal. May anda a promover o seu "gin" e Hammond decidiu montar uma oficina de restauro de automóveis. Querem fazer outras coisas dos quais se sentem realizados, até pode ser algo relacionado com carros.
E - ainda não vi o episódio todo, só partes - mas aparentemente, circula uma frase do Clarkson a falar mal dos elétricos. Mais do que mostrar que não gosta de um determinado tipo de motorização - ficou famoso o episódio do Top Gear onde ele testou um Tesla Roadster, que o deixou parado ao fim de poucos quilómetros e que Elon Musk reagiu processando-o. E o Top Gear ganhou! - ele leu os sinais. O futuro é elétrico, e ele envelheceu. O seu mundo está a acabar, e a melhor maneira é sair pela porta grande. Se quisesse fazer algo no futuro, teria de rever carros do passado, e as marcas estão, lentamente, a afirmar que poderão abandonar os motores de combustão interna. E não foi isso que ele decidiu ir para a BBC e a Top Gear, há mais de 36 anos, com o Andy Wilman, seu companheiro de escola e depois, o produtor dos programas, quer o novo Top Gear, quer o The Grand Tour.
May não tem problemas de testar carros elétricos - sempre fez isso, e mostrei esta semana ele dentro do Tesla Cybertruck - e Hammond fez o mesmo (até acabou de cabeça para baixo a bordo de um Rimac, lembram-se?), mas Clarkson é da velha guarda. Sempre foi politicamente incorreto, um "orangotango" conservador que fuma, bebe e diz aquilo que apetece falar, ao ponto de ele ter sido corrido da BBC por uma agressão, depois de vários avisos, e ao ver que o futuro não será mais aquele que deseja, decidiu que é melhor reformar-se e fazer coisas que mais gosta.
Mas claro, não posso deixar de afirmar que foi o fim da aventura que marcou uma geração. Três homens que decidiram perseguir os sonhos de muitos, de fazer uma grande viagem a lugares exóticos onde, estando no limite, divertem-se, não querendo dar cavaco a ninguém, não querendo ser politica ou socialmente corretos. Quiseram ser felizes, bem pagos por isso e, sabendo ou não, fizeram sonhar muitos rapazinhos e homens por este mundo fora.
Quem sabe a semente não florirá noutros lados, noutra geração.
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