(continuação do capitulo anterior)
Juan Manuel Fangio começa a temporada de 1955 na sua Argentina natal, num janeiro tremendamente quente em paragens portenhas. Sob mais de 40 graus de temperatura, Fangio não só ganha a corrida à vontade como também é um dos dois pilotos que faz a corrida toda sem ser substituido por alguém, como fizeram o resto do pelotão, com a excepção de Roberto Mieres. Quando lhe perguntaram a razão porque não parara ou porque não se sentia cansado de correr todo aquele tempo debaixo de grande calor, afirmou que era tudo uma questão mental: "Imaginei que o meu cockpit estava cheio de gelo", afirmou.
Após a corrida argentina, a Formula 1 teve mais de de quatro meses até ao GP do Mónaco, mas ali, os Mercedes falharam redondamente, e ainda viu um dos seus adversários, Alberto Ascari, a cair no mar, embora sem ferimentos de maior. Contudo, três dias mais tarde, em Monza, Ascari morria durante um teste. Mas o pior aconteceu algumas semanas depois, em Le Mans. Fangio fazia parte da equipa oficial da Mercedes-Benz, e iria correr ao lado do jovem e talentoso piloto britânico Stirling Moss, que apesar da rivalidade, respeitavam-se mutuamente.
Um dos integrantes dessa equipa era o veterano francês Pierre Levegh, que fazia dupla com o americano John Fitch, e estava no segundo posto, perseguindo o carro da frente, o Jaguar de Mike Hawthorn, que depois iria vencer a corrida. Perto das seis e meia da tarde, Levegh estava justamente atrás dele quando o britânico manobrou bruscamente à direita para entrar nas boxes. Para evitar chocar com ele e com o Aston Martin de Lance Macklin, virou bruscamente para a esquerda, em direção ao meio da pista. Levegh não teve tempo de parar a foi catapultado para as bancadas, desfazendo o seu carro numa bola de fogo e matando 84 pessoas, incluindo o próprio Levegh. Fangio, que estava atrás de toda esta gente, assistiu a tudo e escapou por um triz.
A Mercedes reuniu-se de emergência em Estugarda e após algum tempo de deliberação, decidiu abandonar a competição, comunicando isso a um destroçado Alfred Neubauer. Quanto a Fangio, nunca mais iria correr em Le Mans e o acidente iria causar uma grande discussão em redor da segurança nas pistas, que começava a ser inadequada para os carros em questão.
Fangio continuou a correr no campeonato, e com as provas a serem canceladas, bastavam dois bons resultados para ser campeão do mundo pela terceira vez. Venceu na Holanda, com Stirling Moss atrás de si, e na Grã-Bretanha que nesse ano se disputava na pista de Aintree, Fangio andou atrás de Moss até ficar colado atrás dele, mas não o passou até á bandeira de xadrez, onde Moss foi o vencedor. Durante muito tempo se pensou que Fangio deixou Moss ganhar, mas até morrer o argentino sempre disse que "nesse dia, Moss foi simplesmente o melhor".
Fangio venceu depois em Monza, onde depois se anunciou que a Mercedes iria retirar-se da competição. Para Fangio, isto teria sido a sua melhor oportunidade para abandonar a competição e regressar à sua terra natal, mas as coisas por lá andavam agitadas. Um golpe de estado contra Juan Peron tinha-o derrubado e a nova administração tinha congelado os seus bens e os seus negócios. Logo, tinha de adiar a sua retirada por mais algum tempo.
Sem a Mercedes por perto, e com Stirling Moss na Maserati, decidiu alinhar pela Lancia-Ferrari, apesar de não ser fã de Enzo Ferrari e dos seus métodos de trabalho. Mas tinha a melhor máquina do pelotão, o modelo D50, e Ferrari precisava de um substituto à altura para Alberto Ascari, morto no ano anterior. Assim começou por ganhar na prova de abertura, na Argentina, foi segundo no Mónaco, desistiu na Belgica, foi quarto em França, e venceu na Grã-Bretanha e Alemanha, para chegar na última prova do ano com oito pontos de diferença sobre Peter Collins, o segundo classificado.
A corrida de encerramento do campeonato era em Monza, e o título era jogado entre ele, Collins e Stirling Moss, no seu Maserati. A corrida decorreu normalmente até que Fangio desistiu a meio da corrida com a coluna de direção quebrada. A Ferrari ordenou Luigi Musso para que parasse e cedesse o seu carro a Fangio, mas este recusou. Fangio iria ver o seu companheiro de equipa e rival Peter Collins vencer o campeonato quando, espantosamente, a quinze voltas do fim, o britãnico cedeu o carro para o argentino. Foi uma decisão espantosa, e mais tarde afirmou que tinha feito isso "porque achava que era demasiado novo para ser campeão. Iria ter tempo para o conseguir". Ambos partilharam o segundo lugar e Fangio conseguia o seu quarto título, o terceiro consecutivo.
Mas ele decidira que não iria ficar na Ferrari e rumou ao seu maior rival na temporada de 1957. Eles tinham agora um bom carro, o modelo 250F, desenvolvido desde 1955, mas agora começava a ficar no ponto. Fangio tinha os Ferrari como rivais, mas também via surgir outro rival, na figura da Vanwall, que conseguira superar a BRM como melhor equipa britânica.
Fangio começou a ganhar as duas primeiras provas do ano, na Argentina e no Mónaco. A vitória em Buenos Aires era a quarta consecutiva no seu pais, o que fazia o recordista de vitórias no seu pais. Venceu de novo em França, no circuito de Rouen-Les Essarts, e com essas três vitórias consecutivas, parecia ir a caminho de nova vitória no campeonato do mundo. Contudo, Fangio desiste em Silverstone, palco do GP britânico, mas tinha de marcar pontos na prova seguinte, o GP da Alemanha.
(continua amanhã)
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