terça-feira, 10 de julho de 2018

Aurora Series: A História da Formula 1 britânica (parte 1)

Há uns anos falei-vos sobre o campeonato sul-africano de Formula 1, muito ativo entre 1960 e 1975, e que acolheu pilotos como Sam Tingle, Dave Charlton, John Love ou Ian Scheckter, o irmão mais velho de Jody Scheckter. Contudo, essa não foi a única historia de campeonatos locais acolhendo chassis de Formula 1 de temporadas passadas, servindo de segunda mão a pilotos que tentavam a sua sorte em paragens britânicas.

No meio da década de 70, um renovado interesse por uma competição onde se poderiam usar os chassis das equipas de Formula 1 surgiu da necessidade de ter uma competição barata e local. Com uma cena muito ativa na Formula 3 e Formula 2, ter uma competição local de Formula 1 seria o passao mais lógico a dar. E entre 1975 e 82, isso aconteceu, com corridas a serem transmitidas na BBC, e a serem corridas em pistas um pouco por toda a Grã-Bretanha e Europa ocidental. Por estes dias falo-vos da Aurora Series, o campeonato britânico de Formula 1.


AS ORIGENS


No inicio da década de 1970, existiam competições de Formula 5000, essencialmente motores V8 originários dos carros de produção da Ford e Chevrolet americanos. Com chassis construídos por marcas como a Lola, March e Chevron, entre outros, prosperou em lugares como a Austrália, Estados Unidos, África do Sul e Grã-Bretanha. Contudo, em 1974, com a primeira crise do petróleo, esses carros deixaram de ser lucrativos, e no final de 1975, não eram carros viáveis na Grã-Bretanha. Então, decidiu-se fazer uma competição de Formula Libre, a Shellsport International Series, onde os carros de Formula 5000 poderiam competir com os da Formula Atlantic, Formula 2 e Formula 1.

A competição aconteceu essencialmente em pistas na Grã-Bretanha, e teve treze provas, cinco dos quais em Brands Hatch... e nenhum deles em Silverstone. Provas que iam das 30 às 50 voltas, trouxeram uma enorme quantidade de pilotos que aspiravam chegar à Formula 1. 

O sistema de pontuação era diferente da Formula 1 de então, com pontos até ao décimo classificado, e mais dois pontos para a volta mais rápida. 

Em termos de nomes, o mais sonante era David Purley, que em 1973 tinha tentado salvar inutilmente Roger Williamson das chamas durante o GP da Holanda desse ano. O seu maior rival... era uma ela, Divina Galica. Mike Wilds, que tinha corrido pela BRM, e Damien Magee, um dos pilotos pagantes da Williams, eram outros pilotos de relevo, para não falar dos participantes ocasionais, que incluiram Alan Jones. Eddie Cheever, Lella Lombardi e Emilio de Villota. Purley venceu seis dessas corridas, num Chevron, e sagrou-se campeão, antes de se aventurar com o seu próprio chassis no ano seguinte, acabando a sua carreira no acidente impressionante durante os treinos do GP britânico, em Silverstone.

Em 1977, continuava a haver quatro categorias para a Formula 1, Formula 2, Formula Atlantic e Formula 5000. No primeiro, Derek Bell andava num Penske, enquanto Emilio de Villota andava num McLaren M23 e Divina Galica num Surtees TS19. No lado da Formula 5000, pilotos como Velantino Musetti (que era duplo nas horas vagas!), Tom Belso e Robin Smith faziam a sua aparição, enquanto Norman Dickson corria num March 772-BMW de Formula 2.

Numa competição onde houve poucos os que fizeram toda a temporada, o britânico Tony Trimmer, num Surtees TS19 da Melchester Racing, venceu cinco corridas e acabou campeão, com 181 pontos contra os 129 de Guy Edwards, num March 761. O campeonato ficou ainda marcado pelo acidente mortal de Brian McGuire, durante os treinos para a prova de Brands Hatch, a 27 de agosto. Estava a guiar o seu próprio carro, o McGuire BM1, um Williams FW04 modificado.


AURORA SERIES


Em 1978, o BRDC (British Racing Drivers Club) decidiu que era altura de criar uma série britânica de Formula 1. Assim sendo, tirou os Formula 5000 de cena, mantendo alguns Formula 2, mas a maioria dos carros eram Formula 1 já antigos, com duas ou três temporadas em cima. A equipa mais consagrada era a Melchester Racing, que andava nesse ano com McLarens M23 ou M26, dependendo da disponibilidade dos chassis. Tony Trimmer era o piloto principal, e apesar de não participar em todas as corridas, venceu cinco das doze corridas e acabou campeão, com 149 pontos, contra os 93 de Bob Evans, que já tinha andado na Formula 1 pela BRM e Lotus e nessa temporada tinha andado num Surtees TS19.

O campeonato tinha 12 provas, uma delas em Zandvoort, na Holanda, e o terceiro classificado tinha sido Emilio de Villota, noutro McLaren M23. Mas o campeonato tinha também outra mulher a correr, para além de Divina Galica: Desirée Wilson, vinda da África do Sul. Num Ensign N175 inscrito pela Mário Delotti Racing, ela entrou a meio da temporada e conseguiu um terceiro posto em Thruxton. Galica conseguiu um segundo lugar em Zandvoort como melhor resultado.

Mas não foram só as mulheres ou os consagrados a correrem por lá. Um aspirante como Elio de Angelis andou naquela competição, naquela temporada, para ter o seu primeiro gosto num carro de Formula 1, antes de ir para a Shadow em 1979.  

E com o sucesso da British Formula One Series, em 1979, o pelotão - bem como o calendário - alargaram-se para receber mais uma temporada.

(continua amanhã)

Sem comentários: