Esta sexta-feira assinalaram-se
os 60 anos do nascimento de Ari Vatanen, provavelmente um dos melhores pilotos
de ralis da sua geração. Foi um daqueles pilotos que epitomizaram a garra
finlandesa nas classificativas um pouco de todo o mundo, aquela filosofia que
um dos seus rivais, Markku Alen, resumiu numa só palavra: “maximum attack”.
Vatanen foi um dos meus ídolos de
infância. Tenho aquele privilégio de ter começado a seguir os ralis em pleno
auge dos “Grupo B”, monstros com mais de 500 cavalos, em carros feitos de fibra
de vidro, cujos chassis eram tubulares. Carros de difícil controle e que
tiveram o seu inevitável após o acidente mortal de Henri Toivonen, na Volta à
Córsega, a 2 de maio de 1986. Mas esse acidente tinha sido apenas o culminar de
uma série de avisos, cujo começo tinha acontecido quase um ano antes, na
Argentina, envolvendo o Peugeot 205 Turbo 16 de… Vatanen. Sobre isso, falo mais
adiante.
Teve uma carreira longa e
consistente com a sua rapidez, quer nos Ford Escort que lhe deram o seu único
título mundial, em 1981 – tendo como navegador David Richards, o fundador da
Prodrive – quer depois quando se transferiu para os Opel Ascona 400. Era veloz
e destemido. Lembro-me de ver um vídeo onboard de um Manx Rally, em 1983, ainda
no tempo dos Ascona, em que ia de pedal a fundo, numa estrada estreita e não
levanta o pé, mesmo quando atravessa uma estreita ponte. O navegador, que
estava concentrado em “cantar” as notas, não deixa de soltar um impropério ao
vê-lo passar por aquela ponte, sem hesitar, instintivamente.
Quando o vi a vencer com o
Peugeot 205 Turbo, pensava que naquele ano de 1985, ele seria o devido campeão,
porque parecia ser o piloto ideal para aquela máquina. Tinha outros pilotos por
ali, claro: Timo Salonen, Bruno Saby, mas parecia que Vatanen era o piloto
ideal de um carro ideal. O anti-Audi, o anti-Lancia, embora no inicio de 1985,
este ainda não tinha colocado na estrada o seu Delta S4.
Depois, veio o acidente na
Argentina. Foi um grande golpe na busca do seu titulo mundial – não mais
ganharia - mas tinha outra batalha pela frente, que era o de voltar a competir.
Tinha quebrado tudo: as pernas, a bacia, fraturas no pescoço. Tinha levado
transfusões de sangue ainda na Argentina – e por alguns tempos temeu que tinha
contraído o vírus HIV – e esteve mais de um ano em reabilitação. Mas depois
recuperou e voltou a correr, de novo na Peugeot, desta vez no Dakar, onde
venceu por quatro vezes e poderia ter vencido uma quinta, em 1988, caso não tivessem
roubado o seu carro em Gao, a meio de mais um Dakar.
Após isso, regressou aos ralis,
mas de forma mais esporádica. Esteve na Subaru do seu velho amigo David
Richards, e ao lado de Markku Alen, mas ambos tinham visto passar os seus
melhores anos. Voltou ao Dakar e reformou-se aos poucos, para se dedicar à sua
carreira politica, como deputado do Parlamento Europeu.
Depois em 2009, decidiu tentar a
sua sorte como presidente da FIA, representando uma candidatura “rebelde”, da
corrente que já estava cansada de Max Mosley, mas este não se candidatou e no seu
lugar veio o seu ex-patrão na Peugeot, Jean Todt. Pode não ter ganho, mas deu
algum ar fresco numa instituição demasiado fechada nela mesma e que cada vez
mais se distancia da realidade, como qualquer organiasmo supra-nacional dos
nossos dias, e que tem leis que o tornam num estado dentro de um estado, como a
FIFA, no futebol, e o Comité Olimpico Internacional.
Mas creio que hoje em dia, Ari
Vatanen é uma pessoa feliz. Fez aquilo que gostava de fazer, provou que não
estava acabado, quando a contrariedade apareceu à sua frente, e saiu dela
vencedor. Divertiu-se e teve uma boa vida, algo que poucos podem afirmar hoje
em dia.
Apesar de estar atrasado, aqui
vai: Feliz aniversário, Ari!
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