Eu pertenço a uma geração de transição: aqueles que eram crianças a meio dos anos 80, que ora jogavam futebol na rua até tarde da noite, ora iam para a casa do vizinho que tinha a melhor novidade eletrónica para jogar. E nessa altura, o supra-sumo era o ZX Spectrum de 48k, que fez esta segunda feira, 30 anos sobre a sua comercialização.
Definitivamente, começo a sentir o peso dos anos. Para quem não tem ideia do que isto significou, direi que antes disto, os jogos estavam nas arcadas, onde gastavamos uma moeda e jogavamos até acabar o tempo, ou as nossas "vidas". E isso quando aconteceu, em meados dos anos 70, foi uma revolução. E o ZX Spectrum, obra de um senhor chamado Clive Sinclair, criou uma onda semelhante aos que as pessoas têm agora para os iPhones e iPads. Eras alguém se tivesses um, principalmente na Grã-Bretanha, o país de origem. E nunca uma máquina causou, nem antes, nem depois, um tamnnho impacto, pois foi graças a ela que nasceu e cresceu uma industria de "software" cujas consequências ainda se sentem hoje.
Para os valores de hoje em dia, é ridículo: 48K, com uma memória RAM de 16Kbits, demorava-se cinco minutos para descarregar um jogo e o podermos desfrutar. Era um teste à nossa paciência de crianças, mas quando acabava, vali a pena. Os sons entraram na nossa memória, da mesma forma que entrou, para mim, o "Touch Me" da Samantha Fox ou a respiração ofegante de Darth Vader, no Star Wars.
A comemoração de tal feito fez-me recuar até aos meus nove, dez anos. Por volta de 1985, 86, na minha rua, cada um de nós tinhamos algo que os outros não tinham. O meu pai foi o primeiro a ter um video - e era um Sony BETA - e eu e o meu irmão traziamos os nossos amigos para vermos filmes. O meu vizinho de baixo, que hoje em dia é economista, tinha um desses bichos, um 48k. Era o nosso sonho: jogavamos horas e horas a jogos, que eram comprados a 250 escudos - que não eram mais do que cópias baratas do original, e do qual nem sempre resultavam - e jogávamos os jogos da moda.
O meu favorito? Como não poderia deixar de ser, era um de Formula 1. No tempo em que Bernie Ecclestone poderia sequer sonhar com este futuro, e onde as pessoas tinham a liberdade de fazer dinheiro às custas deste senhor, apareceu este jogo, onde poderiamos gerir a nossa equipa favorita, numa de seis: Brabham, Ferrari, Lotus, Williams, McLaren e Renault. E claro, os pilotos que queriamos. Como era com base na temporada de 1984, poderiamos colocar tal qual como era nesse ano, mas também poderiamos antecipar o futuro, colocando Ayrton Senna e Alain Prost na McLaren, mas também seis novatos, conhecidos apenas pelos seus apelidos: Walker, Chambers, Rowland, Munday, Wood e Wheelhouse.
Três anos depois de ter começado a jogar esse, apareceu o Grand Prix Circuit, onde só podias escolher um de três equipas: Williams, McLaren e Ferrari. Era engraçado de guiar, embora no modo "easy" era fácil seres o campeão. Mas também era um grande jogo.
Para ter o meu primeiro ZX Spectrum, tive de me aplicar nos estudos, pois era o prémio - meu e do meu irmão - para o sucesso escolar que tivessemos na escola. Quando o meu pai comprou o primeiro, em 1988, creio eu, já era um ZX Spectrum de 128k, mais evoluido. Valeu a pena, de facto, ter um, e tive pena quando o vendi, alguns anos depois, a um velho amigo meu, pois eu já estava na Universidade e um novo brinquedo o tinha substituido no nosso lar: um PC para mim, um Sega Saturn, para o meu irmão. Hoje em dia, tenho uma PS3 em casa, mas é do departamento do meu irmão. Jogo raramente, mas quando o faço, é para matar as saudades. E é como andar de bicicleta: nunca mais se esquece.
Quanto ao Spectrum, tem alturas em que me lembro e vou ver os velhos jogos: os de automobilismo, os clássicos como Chuckie Egg, Bruce Lee, ou o Match Day.
Em relação a Clive Sinclair, pela sua contribuição para o desenvolvimento de uma nova industria, recebeu o grau de Cavaleiro em 1983, mas depois disso, tentou inventar um carro novo, o Sinclair C5, um elétrico de três rodas que mais parecia um triciclo. Apresentado em 1985, foi um fracasso total apesar de ter vendido... 17 mil veículos, um recorde para este tipo de veículo durante 26 anos, até que o Nissan Leaf o bateu, no final do ano passado.
Hoje em dia, ainda está envolvido no negócio dos computadores, mas irónicamente... não usa a Internet, que considera "um estorvo no processo de concentração para inventar coisas". Perfere usar o telefone do que o e-mail, por exemplo.
5 comentários:
Aqui no Brasil o nome dele era TK 90x e era fabricado pela Microdigital. Tive um deles, até que um videogame, o Phantom System, o substituiu. Havia umas revistas aqui que traziam a programação para se fazer jogos no próprio teclado/computador. Os jogos eram gravados em fitas cassete, demoravam a carregar e ainda faziam um ruído bem característico. Tempos bem pré-históricos se comparados a hoje.
Esse jogo com 3 equipes foi um dos primeiros que joguei no computador. Bons tempos...
Esse jogo das três equipes foi um dos que me marcaram pois foi um dos primeiros que joguei.
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