domingo, 4 de novembro de 2018

A imagem do dia

Na foto, Mari Hulman-George está a dar a partida para as 500 Milhas de Insdianápolis de 2009.

Para contar esta história, tenho de recuar 70 anos no tempo, para 1944. Em plena II Gierra Mundial, Wilbur Shaw, vencedor por três vezes das 500 Milhas de Indianápolis, resolve usar a pista para um teste de pneus da Firestone. Encontra a pista ao abandono: as ervas cresciam no asfalto, as bancadas de madeira sofriam com os elementos e algumas partes ameaçavam cair. Apenas tinham passado três anos sobre a última vez que os carros tinham corrido, e aquele lugar, que muitos consideravam como a catedral do automobilismo americano, estava a ficar irreconhecível. 

Shaw falou com o dono, Eddie Rickenbaker, que então era o presidente da Eastern Airlines e ás da I Guerra Mundial, e perguntou se o Indianápolis Motor Speedway estava à venda. Ele disse que sim, porque a sua ideia era de demolir e vender a terra para construirem um bairro. Shaw escreveu para todas as marcas, perguntando se não queriam comprar a pista. Todos respondiam que sim, mas com a ideia de o tornar na sua pista de testes privada. Shaw não queria isto e virou-se para os homens de negocios locais. Encontrou a salvação num senhor de Terre Haute chamado Tony Hulman

Hulman tinha conduzido ambulâncias na I Guerra Mundial, e herdou o negócio da família aos 30 anos. Entre outras coisas, a Hulman and Company fazia a marca Clabber Girl, especializada em farnhas para bolos. E ele era fã de automobilismo, bem como das 500 Milhas. Em novembro de 1945, ele e Shaw compraram a pista por 750 mil dólares e fizeram o que tinham de fazer para estar pronto a tempo da edição de 1946. Tudo muito básico. Hulman ficou com a parte financeira, com Shaw a ser o responsável pelas operações do dia-a-dia. A parceria funcionou e a prova reavivou o seu prestígio nos anos seguintes.

Contudo, a 30 de outubro de 1954, na véspera do seu 52º aniversário, Shaw morre em Decatur, no Indiana, vitima de um acidente aéreo. Hulman ficou com o bebé nas mãos, e ele não estava nas operações do dia-a-dia. Foi nessa altura em que iniciou a tradição de aparecer no dia da corrida, com um microfone na mão, para anunciar: "Gentlemen, Start Your Engines" (Senhores, liguem vossos motores). Hulman andou nisso até 1977, meses antes de morrer, aos 76 anos.

Tony casou com Mery Fendrich, e tiveram uma filha, Mari Hulman George, nascida a 26 de dezembro de 1934. Em 1959, Mari deu-lhes um neto, Tony George. Aos poucos, os Hulman deixaram de ser ligados aos seus negócios para serem ligados ao Indianápolis Motor Speedway. A partir de 1978, foi a mãe que deu o sinal para os pilotos ligarem os seus motores, e a meio da década de 90, foi Mari quem deu o sinal. E o deu ao longo dos anos, sem falhar, mesmo nas ocasiões mais especiais, como o centenário das 500 Milhas, em 2011.

Quanto a Mari George, tinha-se casado em 1957 com Elmer Geroge. Piloto, depois de pendurar o capacete, tornou-se no vice-presidente da Indianápolis Motor Speedway, e ajudou a montar a cadeia de rádio da pista. Na noite de 31 de maio de 1976, semanas depois de Elmer e Mari pedir o divórcio, este foi morto por Guy Trollinger, tratador de cavalos na sua quinta em Terre Haute, alegadamente por causa dos rumores de ele era o amante de Mari. Ela não voltou a casar. 

Em 1988, ela tomou conta da Indianápolis Motor Speedway da sua mãe, e ficou até 2016, quando entregou o dia-a-dia da pista ao seu filho, Tony George. Com as polémicas que todos sabemos, mas todos devem aos Hulman-George pelo facto da pista e da competição se ter tornado no que tornou, uma das mais importantes e mais conhecidas não só da América, como a do mundo, e foi no seu tempo que alargaram as provas para além da IndyCar. Quer na NASCAR, quer na Formula 1, quer na MotoGP, com maior ou menor sucesso. 

Mari Hulman-George morreu ontem aos 83 anos, e ao longo do dia, todos reconheceram a sua contribuição para a pista, para o nome da Indianápolis Motor Speedway no mundo, e para as causas humanitárias. Ars longa, vita brevis, Mari.  

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