Quem acompanha frequentemente o mercado automóvel, principalmente sobre a área elétrica, sabe que, apesar de ser ainda um nicho de mercado, é a que mais cresce neste momento. Só este ano - e a menos de dois meses do seu término - em Portugal se venderam cerca de 5700 automóveis, mais 1500 em relação a 2017. Mas isso tem condicionantes, e uma delas é que não se contabilizam ainda as vendas da Tesla. Logo, temos de pensar cerca de 150 automóveis, pelo menos.
O nicho alarga-se, e já se fala que este ano essas vendas poderão constituir cerca de cinco por cento das vendas totais, o que parece ser pequeno, mas é um marcado que dobra a cada ano que passa. E em 2019, provavelmente, poderemos ter dez mil carros vendidos, não ficaria admirado. E a razão é porque mais marcas entram nesse mercado: Jaguar, BMW, Mercedes, Hyundai, Kia, Volkswagen, Porsche... todos fizeram ou vão fazer carros elétricos, com baterias que poderão alcançar autonomias maiores, e tempos de carregamento mais velozes. E mesmo aqui, com os postos de carregamento a começarem a cobrar sempre que um carro para por lá e carrega a bateria - mas para encher pagam menos de dez euros, em contraste com os 60 de um depósito a gasolina - compensa muito mais ter um carro elétrico do que andar com os carros a gasolina e diesel. E vai compensar ainda mais quando as autarquias e governos começarem a vetar a passagem desse tipo de carros nos centros das grandes cidades europeias.
Mas o que quero escrever é que, mesmo com o sucesso da Tesla - este trimestre, apresentou enormes lucros - existirão fracassos mediáticos. Como o que vou falar agora, o da Faraday Future. A história é atribulada, é meias que certo, e já falei sobre ela no passado. Mas no final desta primavera, parecia haver uma esperança de "ressuscitação", graças à injeção de dois mil milhões de dólares da chinesa Evergreen Capital na empresa, para tentar levar para a frente o projeto da FF91, que até já tinha começado a construir os seus primeiros modelos de estrada. Contudo, nas últimas duas semanas, as coisas precipitaram-se.
Primeiro, a Evergreen deu o dito por não dito e cancelou a injeção dos dois mil milhões de dólares prometidos. Depois, a empresa começou a dispesar trabalhadores da sua fábrica de Hanford, na California, e na semana passada, três dos seus diretores, Peter Savagian, Nick Sampson e Dag Reckhorn, foram-se embora. Agora, segundo conta a Electrek, a fábrica vai fechar, provavelmente de vez.
Quem conhece a história da Faraday Future sabe mais ou menos do que se trata: fundada pelo chinês Jia Yueting, dono do grupo Le.com, basicamente era um projeto onde se tentava construir uma rival à Tesla. Foi fundada em 2014, a sua ideia era de construir carros de luxo elétricos. Mas sempre houve problemas desde o inicio, especialmente porque Yueting parecia querer construir tudo ao mesmo tempo e a sua expansão tinha ido longe demais. E sempre houve desconfianças desde o inicio. E o FF91, que apareceu em 2016, não as apagou. Quando Yueting ficou sem dinheiro e as autoridades locais começaram a fazer perguntas - o seu império desmoronou em 2017 e ele se exilou na California - ele vendeu a sua parte na Faraday para a Evergrande. Só que este verão, ele processou-os por "quebra de contrato". E daí, estes últimos deixaram de injetar dinheiro na Faraday, para chegarmos a este ponto.
Não ficaria admirado se a firma declare falência nas próximas semanas e feche as portas, para depois comprem em leilão as instalações, os carros e a tecnologia para depois montar outra marca por cima desta. Foi o que fizeram com a Fisker quando faliu e dali, uma firma chinesa a comprou, fundando a Karma, usando os projetos da firma anterior.
E ainda há mais marcas que, discretamente, andam a construir os seus carros elétricos para mais tarde venderem, como a Lucid Motors, a chinesa NIO ou a sueca Uniti, entre outros.
Porque, se formos a ver, esta situação não é mais do que uma má gestão de uma "startup". O seu produto é bom, e pelo que se vê de outras marcas - as vendas da Tesla, graças ao seu Modelo 3, ultrapassaram as da BMW nos Estados Unidos - logo, outras marcas poderão querer imitá-la. E não falo só das "startups", falo também das marcas de automóveis, estabelecidas há mais de um século, e tem de abraçar o elétrico sob pena de não terem futuro.
E para a Faraday, o futuro parece que terminou.
Sem comentários:
Enviar um comentário