terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A imagem do dia


Em 1959, Jean Behra era um homem acossado, sob pressão de si mesmo. Era piloto da Ferrari, depois de uma temporada razoável pela BRM, e tendo uma máquina que julgava ser competitiva, sabia que tinha de fazer o melhor para vencer corridas. Algo que nunca tinha conseguido de forma oficial, apesar de nove pódios e um quarto lugar no campeonato de 1956, ao volante de um Maserati oficial. Era um piloto baixo e encorpado, dava tudo em pista, mas era temperamental fora dela. E ao longo da sua carreira, tinha ficado marcado por mais de uma dezena e meia de acidentes que tivera, com o seu corpo totalmente cheio de cicatrizes. Por exemplo, em 1955, uma das suas orelhas tinha sido parcialmente arrancada devido a uma colisão.

Também em 1959, Behra tinha 38 anos, logo, não corria para novo. Mas mesmo assim, era mais novo que Maurice Trintignant, que tinha começado a correr logo depois da II Guerra Mundial, e vencera duas corridas no Mónaco. Uma pela Ferrari e outra pela Cooper. Nesse ano, Trintignant ia a caminho dos 42 anos e ainda iria correr até 1964, perto dos 50.

Nesse ano, Behra era piloto de uma Ferrari totalmente reformulada depois dos acidentes que tinham matado pilotos como Eugenio Castelotti, Luigi Musso e Alfonso de Portago. Agora, tinham os americanos Phil Hill e Dan Gurney, o britânico Tony Brooks e o alemão Wolfgang von Trips, que estavam dispostos - e pressionados - a serem os mais velozes, num tempo em que os seus carros de motor à frente estavam desfasados num tempo onde os Cooper de motor traseiro iriam arrasar as pistas, e todas as ouras marcas iriam seguir o mesmo feito: Porsche, Lotus, BRM e outros. A Ferrari iria esperar até à nova regulamentação dos 1.5 litros, em 1961, e até lá, tentaria remar contra a corrente, julgando ter os motores mais potentes do pelotão, e isso bastava.

Behra até começou bem, vencendo uma corrida extra-campeonato, em Aintree, mas em termos de corridas oficiais, as coisas não corriam bem. Tinha desistido no Mónaco, e conseguido um modesto quinto posto em Zandvoort, logo, as coisas tinham de ser boas na sua corrida caseira, em Reims. 

Mas não foi: quinto na grelha, e o terceiro melhor dos Ferrari - atrás de Brooks, o "poleman", e de Phil Hill - a corrida não durou muito, pois desistiu na volta 31, com um pião quebrado. Mas desde o inicio que a sua relação com Romolo Tavoni era tensa, e muitas vezes, ele o acusava que não estava no seu limite. Temperamental que era, sentia-se ofendido com as suas delcarações, e naquela tarde, explodiu, esmurrando-o. Tinha os dias contados na Scuderia, mas não se importou muito, porque tinha um projeto em mãos. O seu despedimento apenas acelerou.

Entra as marcas que ele tinha corrido estava a Porsche. Dava-se bem com gente do calibre de Huske von Hanstein, e achava que se poderia fazer algo com os motores provenientes da Formula 2. logo, pediu a eles para que construíssem um chassis, que deu o seu nome, e desenhado poe Valerio Colotti. Tinha entrado no GP do Mónaco através de Maria Teresa de Filippis, a primeira mulher piloto da Formula 1, mas não se tinha qualificado. Sem os seus compromissos na Ferrari, poderia dedicar-se a tempo inteiro ao seu carro, e inscrevera-o para o GP da Alemanha, que iria correr no veloz circuito de Avus, em Berlim, usando a "Autobahn".

Contudo, Behra também tinha inscrito outro Porsche para uma corrida de Sport, e participava nessa corrida quando perdeu o controlo do seu carro no "banking" foi projetado e acabou no chão, com mais umas fraturas nas costelas e no crânio, estas fatais. Era o dia 1 de agosto de 1959.

No dia do seu funeral, três mil pessoas acorreram ao cemitério de Nice para prestar os seus respeitos. Trintignant, no final do serviço fúnebre, fizeram um apelo à imprensa para que os jovens de França defendessem as cores nacionais no automobilismo. Iria demorar o seu tempo, mas aconteceu: vinte anos após a sua morte, haveria oito franceses no pelotão da Formula 1, e pelo menos duas marcas francesas: Ligier e Renault.

Hoje, passam cem anos sobre o nascimento de Jean Behra. 

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